Palavras modais no português brasileiro
perspectivas para a categorização e análise pragmática
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-33Palavras-chave:
Categorização das partículas modais, Análise contrastiva, Pragmática da língua alemã e portuguesaResumo
Este artigo investiga as possibilidades de categorização de partículas modais (PMs) no português brasileiro, tomando como referência os critérios já estabelecidos para as PMs da língua alemã. O estudo parte da constatação de que, enquanto o alemão apresenta uma classe gramatical bem definida de PMs, com propriedades sintáticas, semânticas e pragmáticas específicas, o português carece de uma descrição sistemática que permita diferenciá-las de seus homônimos. A pesquisa tem como foco central o uso da palavra, mas analisada em comparação contrastiva com aber (alemão), pero (espanhol) e but (inglês). A fundamentação teórica combina a Abordagem Minimalista (Diewald, 2013; Aquino, 2023), que define as PMs por sua função comunicativa nuclear e dependência contextual, com a Teoria da Mente (Abraham; Leiss, 2012), que concebe tais elementos como pistas linguísticas para a ativação de representações mentais compartilhadas entre interlocutores. Nesse sentido, as PMs são compreendidas como operadores pragmáticos que modulam a força ilocucionária dos enunciados, sinalizando funções comunicativas específicas. Metodologicamente, emprega-se o Formato Descritivo (Diewald et al., 2017), instrumento que organiza os traços sintáticos, semânticos e pragmáticos de cada elemento, aplicado aqui ao mas brasileiro. Para a análise, foram utilizados exemplos autênticos extraídos de redes sociais e materiais multimodais, que ilustram o funcionamento de mas como PM em contextos interrogativos e declarativos. A análise contrastiva evidenciou que, embora não haja correspondência direta entre os idiomas, há recorrências funcionais que apontam para o papel universal das PMs como mediadoras da interação discursiva. Os resultados mostram que o mas pode operar fora do eixo proposicional, apresentando a função comunicativa de quebra de expectativa, de alinhamento epistêmico e de orientação diretiva. Essa caracterização o diferencia de seu homônimo (conjunção adversativa) e da categoria dos marcadores discursivos, ainda frequentemente confundidos na literatura. Conclui-se que o português brasileiro, embora não possua uma classe gramatical rigidamente codificada de PMs, apresenta elementos que desempenham funções equivalentes, sendo o mas um exemplo paradigmático. O estudo contribui para a descrição pragmática da língua, reforça a pertinência da abordagem contrastiva e abre caminho para a investigação de outras candidatas a PMs no português, além de sugerir implicações didáticas e tipológicas para o ensino de línguas e para os estudos comparados.
Downloads
Referências
ABRAHAM, W. Discourse particles in German: how does their illocutive force come about? In: ABRAHAM, W. (ed.). Discourse particles: descriptive and theoretical investigations on the logical, syntactic, and pragmatic properties of discourse particles in German. Amsterdã: Johns Benjamins, 1991. p. 203-252. DOI https://doi.org/10.1075/pbns.12.08abr
ABRAHAM, W.; LEISS, E. (ed.) Modality and Theory of Mind Elements Across Languages. Berlin: Mouton de Gruyter, 2012. DOI https://doi.org/10.1515/9783110271072
AQUINO, M. O processamento das partículas modais alemãs em tarefas de pós-edição. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, Brasil, v. 20, n. 30, p. 65–85, 2017. DOI https://doi.org/10.11606/1982-8837203065
AQUINO, M. O ensino das partículas modais alemãs: estratégias didáticas em ALE. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 20. Jg., S. 131-161., 2020. DOI https://doi.org/10.1590/1984-6398201914637
AQUINO, M. Das sieht ja ganz anders aus, wie fühlst du dich denn? Teaching Modal Particles ja and denn with the Queer Eye Germany series: a didactic model based on a Descriptive Format. Pandaemonium Germanicum, 26. Jg., Nr. 49, S. 170-195, 2023a. DOI https://doi.org/10.11606/1982-88372649170
AQUINO, M. A description of the pragmatic function of mas and aí in Brazilian Portuguese: analysis on the functional equivalents of German Modal Particles. Diálogo das Letras, [S.l.], v. 12, p. e02304, 2023b. DOI https://doi.org/10.22297/2316-17952023v12e02304
AQUINO, M.; ARANTES, P. C. Partículas modais em alemão e seus equivalentes funcionais em português brasileiro: proposta de análise e classificação para o uso. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, Brasil, v. 23, n. 40, p. 166–190, 2020. DOI https://doi.org/10.11606/1982-88372340166
AQUINO, M.; KAHIL, T. As partículas modais Mas e Aí pela perspectiva de falantes do português brasileiro: uma investigação da linguagem em uso. Confluência, p. 172-198, 2022. DOI https://doi.org/10.18364/rc.2022n63.532
AUSTIN, J. L. How to Do Things With Words. Cambridge (Mass.). Paperback: Harvard University Press, 1962. DOI https://doi.org/10.2307/3326622
CUENCA, M. J. The fuzzy boundaries between discourse marking and modal marking. In: DEGAND, L.; PIETRANDREA, P.; CORNILIE, B. (org.). Discourse markers and modal particles: categorization and description. Amsterdã: John Benjamins, 2013. p. 191 - 216. DOI https://doi.org/10.1075/pbns.234
DA SILVA FORTES, F. Os marcadores discursivos no latim: considerações pragmáticas e textuais sobre as preposições, interjeições e conjunções latinas em Donato e Prisciano. 2008. Dissertação. (Mestrado em Estudos da Linguagem) - Departamento de Letras Clássicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2008.
DO NASCIMENTO, L. G. Modais e modalidade na comunicação lingüística. Lingua e Literatura, n. 9, p. 249-260, 1980.
DEGAND, L.; CORNILLIE, B.; PIETRANDREA, P. Introduction. Discourse markers and modal particles: Two sides of the same coin?. In: DEGAND, L.; CORNILLIE, B.; PIETRANDREA, P. (org.). Discourse markers and modal particles. Categorization and Description. Filadélfia: John Benjamins, 2013. p. 1–18. DOI https://doi.org/10.1075/pbns.229.01deg
DIEWALD, G. Same same but different: modal particles, discourse markers and the art (and purpose) of categorization. In: DEGAND, L.; PIETRANDREA, P.; CORNILLIE, B. (ed.). Discourse markers and modal particles: categorization and description. Amsterdã: John Benjamins, 2013. p. 19-46. DOI https://doi.org/10.1075/pbns.234.02die
DIEWALD, G.; KRESIĆ, M.; BATINIĆ, M. A. A format for the description of German modal particles and their functional equivalents in Croatian and English. In: CHIARA, F. I; SANSÓ, A. (ed.). Pragmatic Markers, Discourse Markers and Modal Particles: New Perspectives. Amsterdã: John Benjamins, 2017. p. 230-254. DOI https://doi.org/10.1075/slcs.186
DUDEN. Grammatik der deutschen Gegenwartssprache. Mannheim: Bibliographisches Institut, 2016. DOI https://doi.org/10.37307/j.2198-2430.1997.02.17
HASELOW, A. Discourse marker and modal particle: the functions of utterance-final then in spoken English. Journal of Pragmatics, Amsterdã, v. 43, p. 3603 - 3623, 2011. DOI https://doi.org/10.1016/j.pragma.2011.09.002
HENGEVELD, K.; MACKENZIE, L. Functional Discourse Grammar: a typologically-based theory of language structure. Oxford: University Press, 2008.
FIGUEIREDO, G. Uma descrição sistêmico-funcional dos marcadores discursivos avaliativos em português brasileiro: a gramática das partículas modais. ALFA: Revista de Linguística, 59(2), 281-307. 2015. DOI https://doi.org/10.1590/1981-5794-1504-3
FRANCO, A. Partículas modais do português. Revista da Faculdade de Letras do Porto Línguas e Literatura, Porto, II série, n. 7, p. 175-196, 1990.
GILI GAYA, S. Curso superior de sintaxis española. Barcelona: Vox, 2002.
GUTT, E. A. Challenges of Metarepresentation to Translation Competence. In: FLEISCHMANN, E; SCHMITT, P. A.; WOTJAK, G. (ed). Tagungsberichte der LICTRA (Leipzig International Conference on Translation Studies). Stauffenberg: Tünbingen, p. 77- 89, 2005. DOI https://doi.org/10.1515/les-2012-0005
HASELOW, A. Discourse marker and modal particle: the functions of utterance-final then in spoken english. Journal of Pragmatics, Amsterdã, v. 43, p. 3603 - 3623, 2011. DOI https://doi.org/10.1016/j.pragma.2011.09.002
HELBIG, G. Lexikon deutscher Partikeln. 2.ed. Leipzig: Verlag Enzyklopädie, 1990. DOI https://doi.org/10.1515/9783110217971.fm
HENTSCHEL, E.; WEYDT, H. Handbuch der deutschen Grammatik. v. 4. Berlim: De Gruyter, 2013. DOI https://doi.org/10.1515/9783110312973
JOHNEN, T. Aí como partícula modal do português. In: Congresso Internacional da Associação Brasileira de Lingüística, n.1., 1997, Salvador, Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia. Anais: Abralin, 1997. p. 4–10. DOI https://doi.org/10.13140/2.1.3855.3283
KRESIĆ, M.; BATINIĆ, M. Modalpartikeln: Deutsch im Vergleich mit dem Kroatischen und Englischen/Modalne čestice: njemački jezik u usporedbi s hrvatskim i engleskim. 1. ed. Zadar: Sveučilište u Zadru, 2014.
LEVINSON, S. C. Pragmatics. Cambridge: Cambridge University Press, 1983. DOI https://doi.org/10.12691
PALMER, F. R. Mood and Modality. Cambridge: Cambridge University Press, 1986. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9781139167178
SCHENNER, M.; SODE, F. Modal particles in causal clauses: The case of German weil wohl. In: ABRAHAM, W.; LEISS, E. (ed.). Modes of Modality: Modality, typology, and universal grammar. Studies in Language Companion Series 49, p. 291-314, 2014. DOI https://doi.org/10.1075/slcs.149
SCHOONJANS, S. Modalpartikeln als multimodale Konstruktionen: Eine korpusbasierte Kookkurrenzanalyse von Modalpartikeln und Gestik im Deutschen. Berlim: De Gruyter, 2018. DOI https://doi.org/10.1515/9783110566260
SEARLE, J. Speech acts. Cambridge: CUP, 1969. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9781139173438
STOLT, B. Ein Diskussionsbeitrag zu mal, eben, auch, doch aus kontrastiver Sicht (Deutsch-Schwedisch). In: WEYDT, H. (org.). Die Partikeln der deutsche Sprache. Berlim: Walter de Gruyter, 1979. DOI https://doi.org/10.1515/978311086357
SPERBER, D.; WILSON, D. Teoria da Relevância. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 5, esp., p. 221 - 268, 2005.
TRAUGOTT, E. C. Discourse structuring markers in English. Amsterdam: John Benjamins, 2022. (Constructional Approaches to Language, v. 29). DOI https://doi.org/10.1075/cal.29
WALTEREIT, R; DETGES, U. Different functions, different histories: modal particles and discourse markers from a diachronic point of view. Catalan Journal of Linguistic, Barcelona, p. 61-80, 2007. DOI https://doi.org/10.5565/rev/catjl.124
VERSCHUEREN, J. The pragmatic perspective. In: J. VERSCHUEREN, J; ÖSTMAN, O.; BLOMMAERT J. (ed.), Handbook of pragmatics manual, p. 1–19. Amsterdã: John Benjamins. 1995. DOI https://doi.org/10.1075/hop.m
WELKER, H. As partículas modais no alemão e no português e as equivalências de aber, eben, etwa e vielleicht. 1990. Dissertação (Mestrado em Língua Alemã) – Departamento de Linguística, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 1990.
WEYDT, H.; HARDEN, T.; HENTSCHEL, E.; RÖSLER, D. Kleine deutsche Partikellehre: ein Lehr- und Übungsbuch für Deutsch als Fremdsprache. Stuttgart, 1983. DOI https://doi.org/10.1515/infodaf-1984-115-6100
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Marceli Aquino

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos da licença Creative Commons
CC BY-NC-ND 4.0: o artigo pode ser copiado e redistribuído em qualquer suporte ou formato; os créditos devem ser dados ao autor original e mudanças no texto devem ser indicadas; o artigo não pode ser usado para fins comerciais; caso o artigo seja remixado, transformado ou algo novo for criado a partir dele, o mesmo não pode ser distribuído.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.


