Mapeamento semântico-sintático de haver/ter no presente + particípio

uma incursão pelos séculos XIII, XIV e XV

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.14393/DLv18a2024-27

Palabras clave:

Haver, Ter, Particípio, Diacronia, Gramaticalização

Resumen

Centrando-nos na Linguística Histórica, investigamos indícios de gramaticalização de haver/ter no presente + particípio em textos dos séculos XIII a XV, disponíveis na base de dados Corpus Informatizado do Português Medieval. Para efetuarmos um mapeamento semântico-sintático da construção, analisamos as acepções aspecto-temporais: de antepresente ou pretérito por século, as quais foram articuladas aos parâmetros: seleção/significação argumental do segundo argumento de haver/ter; combinação semântica entre haver/ter e particípio e frequência de uso de haver/ter. A construção haver/ter no presente + particípio esteve mais atrelada à acepção de antepresente: passado com relevância presente, embora haja considerável número de ocorrências da outra acepção: a de pretérito, sendo as construções com o verbo haver mais frequentes tanto no século XIII quanto no século XIV, com leve tendência ao uso do verbo ter no século XV. Em termos de seleção argumental, observa-se tendência à seleção de objeto indicativo de posse inalienável, o que se configura como um indício de gramaticalização, pois a abstratização do objeto possuído conduz à atenuação da significação de posse originária dos verbos haver e ter. Também há ocorrências de combinações com particípios que contradizem a noção de posse própria desses verbos (como em ‘ter perdido’), o que é outro indício de gramaticalização, ou seja, da auxiliarização de haver/ter. A articulação entre funções, século e parâmetros semântico-sintáticos permitiu-nos um olhar mais verticalizado sobre a gênese do pretérito perfeito composto em português, tanto em relação à forma que se fixou (ter + particípio) quanto à acepção corrente de passado com relevância presente.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Métricas

Cargando métricas ...

Biografía del autor/a

Márluce Coan, UNILA

Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina – Brasil. Professora Titular da Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

Francisco José Gomes de Sousa, UFC

Mestrando em Linguística no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará (PPGLIN/UFC). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). 

Citas

BARBOSA, J. S. Gramática Philosophica da Língua Portuguesa. 2 ed. Lisboa: Lisboa, 1830.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37 ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

BELLO, A. Gramática de la lengua castellana destinada al uso de los americanos. Santiago de Chile: Imprenta del Progreso, 1847.

BELLO, A. Análisis ideológica de los tiempos de la conjugación castellana. Valparaíso, Chile: Imprenta de M. Rivadeneyra, 1841.

BENVENISTE, E. Os verbos delocutivos. In: BENVENISTE, E. Problemas de Lingüística Geral I. Campinas, SP: Pontes, 1988 [1958]. p. 306-315.

BYBEE, J.; PERKINS, R.; PAGLIUCA, W. The Evolution of Grammar: Tense, Aspect, and Modality in the languages of the world. Chicago: The University of Chicago Press, 1994.

BYBEE, J. Frequency of use and the organization of language. Oxford: Oxford University Press, 2007. DOI https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780195301571.001.0001

CÂMARA, J. M. Princípios de Lingüística Geral. 4 ed. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1969.

CAMPOS, M. H. C. Tempo, Aspecto e Modalidade: Estudos de Lingüística Portuguesa. Lisboa: Porto Editora, 1997.

CAMPOS, O. G. L. A. S; GALEMBECK, P. T.; RODRIGUES, A. C. S. A Flexão modo-temporal no português culto do Brasil: formas de pretérito perfeito e imperfeito do indicativo. In: CASTILHO, A.; BASÍLIO, M. (org.). Gramática do Português Falado: as abordagens. v. 4., Campinas: Ed. da Unicamp/Fapesp, 1993. p. 405-423.

CASTRO, I. Curso de história da língua portuguesa. Lisboa: Universidade Aberta, 1991.

COSERIU, E. Sincronia, diacronia e história: o problema da mudança lingüística. Rio de Janeiro: Presença; São Paulo: USP, 1979.

CUESTA, P. V.; LUZ, M. A. M. Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Edições 70, 1980 [1971].

CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 5 ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

FIORIN, J. L. As Astúcias da Enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. São Paulo: Ática, 1996. p. 127-255.

FOX, B. A. Principles shaping grammatical practices: an exploration. Los Angeles: Discourse Studies, 9, 2007. p. 299-318. DOI https://doi.org/10.1177/1461445607076201

GIVÓN, T. On Understanding Grammar. Nova Iorque: Academic Press, 1979.

HEINE, B.; CLAUDI, U.; HÜNNEMEYER, F. Grammaticalization: a conceptual framework. Chicago: University of Chicago Press, 1991.

HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.

HOPPER, P. On Some Principles of Grammaticalization. In: TRAUGOTT, E. C.; HEINE, B. (ed.). Approaches to Grammaticalization. Amsterdã/Filadélfia: John Benjamins Publishing Co., 1991. DOI https://doi.org/10.1075/tsl.19.1.04hop

ILARI, R.; GODOI, E.; OLIVEIRA, R. P. O. Delocutivos nós também temos, falô? Cadernos de Estudos Lingüísticos, Universidade Estadual de Campinas, n. 10, p. 81-86, 1986.

ILARI, R. A expressão do tempo em português: expressões da duração e da reiteração, os adjuntos que focalizam eventos, momentos estruturais na descrição dos tempos. São Paulo: Contexto, 1997.

ILARI, R. Notas sobre o passado composto em português. Revista Letras, Editora da UFPR, n. 55, p. 129-152, jan./jun. 2001. DOI https://doi.org/10.5380/rel.v55i0.2822

LABOV, W. Sociolinguistic patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1972.

LABOV, W. Principles of Linguistic Change: Internal Factors. Cambridge, MA: Blackwell, 1994.

LASS, R. On explaining language change. Nova Iorque: Cambridge, 1980.

LEHMANN, C. Thought on grammmaticalization. (publicado originalmente como Thought on grammaticalization: a Programatic Sketch). v. 1. Munique: Lincom Europa, 1995 [1982].

LICHTENBERK, F. On the Gradualness of Grammaticalization. In: TRAUGOTT, E. C.; HEINE, B. Approaches to Grammaticalization. Amsterdã/Filadélfia: John Benjamins Publishing Co, 1991. p.37-80. DOI https://doi.org/10.1075/tsl.19.1.05lic

LORENZO, R. Galegische Koine. In: HOLTUS, G.; METZELTIN, M.; SCHMITT, C. (ed.). Lexikon der Romanistischen Linguistik. v. 2., Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 1995. p. 649-679.

MAIA, C. A. História do galego-português. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1986.

MASIP, V. Gramática histórica portuguesa e espanhola: um estudo sintético e contrastivo. São Paulo: EPU, 2003.

MATTOS E SILVA, R. V. O português arcaico: morfologia e sintaxe. São Paulo: Contexto, 2001.

MATTOS E SILVA, R. V. Orientações atuais da Lingüística Histórica brasileira., D.E.L.T.A, v. 15, n. ESPECIAL, p.147-166, 1999. DOI https://doi.org/10.1590/S0102-44501999000300006

MAURER JR., T. H. Linguística Histórica. ALFA: Revista de Linguística, v. 11, p. 19-42, 1967.

MEILLET, A. L’Évolution des Formes Grammaticales. In: MEILLET, A. Linguistique Historique et Linguistique Générale. 6. ed. Paris: Honoré Champion, 1965. p.130-148.

MONTEAGUDO, H. A Galiza e o espaço linguístico-cultural de expressão portuguesa. In: LOBO, T.; CARNEIRO, Z.; SOLEDADE, J.; ALMEIDA, A.; RIBEIRO, S. (org.). ROSAE: linguística histórica, história das línguas e outras histórias [online]. Salvador: Edufba, 2012. p. 51-64.

OLBERTZ, H. The grammaticalization of Spanish haber plus participle. In: MARLE, J. V. Historical linguistics. Amsterdã: John Benjamins Publishing Co, 1993. p. 243-263. DOI https://doi.org/10.1075/cilt.107.17olb

OLBERTZ, H. The Perfect in (Brazilian) Portuguese: A Functional Discourse Grammar View. Open Linguistics, n. 4, p. 478–508, 2018. DOI https://doi.org/10.1515/opli-2018-0024

OSÓRIO, P. Linguística histórica e história da língua. Aportações teóricas e metodológicas. I SIMELP. USP, 2008. Disponível em: http://simelp.fflch.usp.br/sites/simelp.fflch.usp.br/files/inline-files/S401.pdf

PEREIRA, E. C. Gramática Histórica. São Paulo: Editora Monteiro Lobato & cia, 1923.

REICHENBACH, H. Elements of Symbolic Logic. Nova Iorque: Macmillan Company, 1947.

RIBEIRO, I. A formação dos tempos compostos: a evolução histórica das formas ter, haver e ser. In: ROBERTS, I.; KATO, M. A. (org.) Português brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas: Ed. Unicamp, 1996. p.343-386.

RODRIGUES, L. S. E tenho dito: a gramaticalização e a variação do pretérito perfeito composto em narrativas dos séculos XV a XVII. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal do Ceará, 2010.

SAID ALI, M. Gramática Secundária e Gramática Histórica da Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Universidade de Brasília, 1964.

SILVA, P. N. Os tempos compostos do sistema verbal português. Lisboa: Universidade Aberta. 1998. (Coleção de Estudos Pós-Graduados).

TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. São Paulo, Martins Fontes, 1997. (Tradução de Celso Cunha).

TRAUGOTT, E. C.; HEINE, B. Approaches to Grammaticalization. Amsterdã/Filadélfia: John Benjamins Publishing Co., 1991. DOI https://doi.org/10.1075/tsl.19.1

Publicado

2024-06-25

Cómo citar

COAN, M.; SOUSA, F. J. G. de. Mapeamento semântico-sintático de haver/ter no presente + particípio: uma incursão pelos séculos XIII, XIV e XV. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 18, p. e1827, 2024. DOI: 10.14393/DLv18a2024-27. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/72828. Acesso em: 22 jul. 2024.

Número

Sección

Artículos

Artículos más leídos del mismo autor/a