O português é realmente difícil?
Comparando alguns aspectos da gramática normativa da língua portuguesa com as de outras línguas europeias
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-5Palavras-chave:
Gramática comparada, Gramática normativa, Complexidade gramatical, Línguas românicas, Línguas germânicasResumo
O presente artigo apresenta a primeira etapa do projeto de pesquisa Gramática comparada de línguas europeias: análise contrastiva da norma-padrão dos principais idiomas europeus ocidentais (românicos e germânicos), cujos objetivos são: 1) comparar os principais tópicos das gramáticas normativas de diversas línguas de difusão internacional, incluindo o português, em termos de número de regras gramaticais e maior ou menor complexidade dessas regras; e 2) responder, com base no estudo comparativo realizado, à pergunta corrente no senso comum “o português é realmente uma língua difícil?”, em face de comentários frequentes tanto de falantes/escreventes do português quanto de estrangeiros de que a gramática de nossa língua é muito complexa, o que tem suscitado mesmo, por parte de alguns linguistas, propostas de simplificação da norma-padrão do português com base em usos do português brasileiro contemporâneo oral culto. Nesta primeira etapa do projeto, analisam-se contrastivamente quatro tópicos gramaticais, a saber, colocação pronominal, infinitivo pessoal, futuro do subjuntivo e numerais cardinais e ordinais, em seis línguas, sendo quatro românicas (português, espanhol, francês e italiano) e duas germânicas (inglês e alemão), a partir de consulta a gramáticas normativas de renome das línguas em estudo e sistematização das regras gramaticais e suas exceções. Conclui-se que a colocação pronominal em português padrão é muito mais complexa que a das demais línguas, apresentando ao menos 12 regras diferentes, contra apenas uma ou duas das outras cinco línguas; que o infinitivo pessoal só ocorre em português e, nos verbos regulares, confunde-se com o tempo futuro do modo subjuntivo, o qual também só subsiste atualmente em português; diferente das outras línguas românicas que não apresentam essa característica e que a formação de numerais ordinais se dá majoritariamente por mera sufixação a partir dos cardinais correspondentes em todas as línguas analisadas, com exceção do português e do espanhol, que recorrem a empréstimos dos numerais ordinais latinos.
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