Denominações para “mulato” no Atlas Linguístico de Mato Grosso do Sul
aspectos léxico-culturais
DOI:
https://doi.org/10.14393/Lex-v9a2023/24-1Palavras-chave:
Mulato, Léxico, Atlas Linguístico de Mato Grosso do Sul, Língua, CultureResumo
Este trabalho analisa, sob as perspectivas léxico-semântica e cultural, as unidades lexicais registradas na Carta QSL 0237.a - mulato. do Atlas Linguístico de Mato Grosso do Sul – ALMS (2007) como denominação das “pessoas que têm a pele pouco escura porque só a mãe ou só o pai é negro”. Para a execução do estudo, foi traçado o seguinte percurso metodológico: definição da fonte e do corpus, seguido da consulta ao ALMS e respectivo levantamento dos dados lexicais cartografados. Na sequência, os dados foram quantificados e organizados para posterior análise sob a ótica da Teoria Lexical e da Antropologia Linguística. O universo de dados catalogados reuniu unidades léxicas como moreno, mestiço, pardo, negro, misto, tostado, bugre, caboclo moreno, morena canela, café com leite, meio branco, preto, mameluco, bugre, totalizando 21 itens lexicais. O registro da forma lexical moreno claro, com 7,81% de ocorrência, por exemplo, indica que o uso de um termo considerado amenizador (moreno) é reforçado por outro (claro), com maior carga suavizadora. Pela análise realizada, depreende-se, que tais unidades, já constituintes do repertório lexical dos falantes sul-mato-grossenses, além de nomearem o tipo humano descrito pela pergunta, passaram a indicar representações sociais, o que desembocou em traços de apropriação cultural. A análise demonstrou aspectos da relação existente entre fatores linguísticos e extralinguísticos, no conjunto vocabular dos informantes sul-mato-grossenses examinado, validando o argumento de que a língua constitui ferramenta dinâmica da cultura local e que a norma linguística, particularmente a lexical, expressa aspectos significativos, relacionados aos valores veiculados pela sociedade.
Downloads
Referências
AULETE, C. Aulete digital – Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Lexikon Editora Digital, Rio de Janeiro, 2006.
BOURDIEU, P. O poder simbólico. Tradução Fernando Tomaz. Rio de Janeiro, Bertrand, 1989.
CARUSO, P. Metodologia da Pesquisa Dialetológica. In: AGUILERA, V. de A. (org.). A Geolinguística no Brasil: trilhas seguidas, caminhos a percorrer. Londrina: Editora da Eduel. 2013. p. 373-374. Disponível em: http://www.uel.br/editora/portal/pages/livros-digitaisgratuítos.php. Acesso em: 24 jul. 2022.
CASADO VELARDE, M. Língua e cultura. Madri: Synthesis, 1991.
CASTRO, V. S. O “r caipira” em Mato Grosso do Sul–estudo baseado em dados do ALMS, Atlas linguístico do Mato Grosso do Sul. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), v. 42, n. 1, p. 566-575, 2013.
CHARTIER, R. et al. A história cultural: Entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 2002, v. 1.
COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALiB. Atlas Linguístico do Brasil: Universidade Federal da Bahia. Disponível em: https://alib.ufba.br/. Acesso em: 20 fev. 2022.
DURANTI, A. Antropología lingüística. Madri. Ediciones AKAL, 2000.
FIGUEIREDO, C. de. Pequeno dicionário da língua portuguesa. Livraria Bertrand, 1987.
GOMES, H. T. Identidade Cultural, Mestiçagem, Colonialidade: uma leitura comparatista. Revista Brasileira do Caribe, Goiânia. v. 9. n. 17, p. 117-148, 2008.
HOUAISS A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, Rio de Janeiro. Editora Objetiva. 2009.
ISQUERDO, A. N. O fato linguístico como recorte da realidade sociocultural. 1996. 420f. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa). Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara/SP, 1996.
LOPES, N. Enciclopédia brasileira da diáspora africana. São Paulo. Selo Negro Edições, 2004.
MUNANGA, K. Origem e histórico do quilombo na África. Revista usp, n. 28, p. 56-63, 1996. DOI https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i28p56-63
NOGUEIRA, A. X.; ISQUERDO, A. N. Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul: gênese e trajetória. AGUILERA, V. de A. (org.). A Geolingüística no Brasil: trilhas seguidas, caminhos a percorrer. Londrina: EDUEL, 2005, p. 238-239.
OLIVEIRA, D. P. de. Atlas Linguístico do Mato Grosso do Sul (ALMS). Campo Grande: Editora da UFMS, 2007.
POEL, F. V. D. Dicionário da Religiosidade Popular: cultura e religião no Brasil, Curitiba, Nossa Cultura, 2013.
SANTOS, J. T. dos. De pardos disfarçados a brancos pouco claros: classificações raciais no Brasil dos séculos XVIII-XIX. Afro-Ásia, n. 32, p. 115-137, 2005. DOI https://doi.org/10.9771/aa.v0i32.21089
SAPIR, E. Linguística como ciência: ensaios. Livraria Acadêmica, 1961.
SCHUCMAN, L. V.; FACHIM, F. L. A cor de Amanda: identificações familiares, mestiçagem e classificações raciais brasileiras. Interfaces Brasil/Canadá, v. 16, n. 3, p. 182-205, 2017.
SOUZA, G S. Linguística Histórica/Antropologia Linguística: discursos interdisciplinares. In: IV Congresso Internacional da Abralin. 2005. Brasília. Anais. Brasília: Universidade de Brasília. 2005. p. 999-1010. Disponível em: https://www.abralin.org/site/wp-content/uploads/2013/02/anaiscongresso05.pdf. Acesso em: 12 jun. 2022.
VIÑAO, A. A história das disciplinas escolares. Revista brasileira de história da educação, Maringá. v. 8, n. 3 [18], p. 173-215, 2008.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Adriana Pereira Santana
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
CC BY-NC-ND 4.0: Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License que permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.