A palavra cafone na obra Fontamara, de Ignazio Silone
DOI:
https://doi.org/10.14393/Lex-v9a2023/24-26Palavras-chave:
Cafone, Fontamara, Ignazio Silone, Lexema, Sociedade e CulturaResumo
Desenvolve-se uma análise da obra Fontamara a fim de identificar e compreender os aspectos linguísticos e socioculturais do lexema cafone, que ocorre 148 vezes na narrativa. A análise fundamenta-se sobre noções linguísticas de palavra, lexema, lexia e enunciado lexicográfico (Basílio, 2000; Biderman, 1978, 1998; Andrade, 2000). Outrossim, discutem-se as relações entre língua, sociedade e cultura (Coseriu, 1982; Calvet, 2002) e a etimologia da palavra cafone (Vinciguerra, 2023). Realiza-se um cotejo entre os sentidos do lexema na obra e os significados do lexema em verbetes de sete obras lexicográficas. Os resultados apontam para uma compreensão do lexema cafone como um nome cuja função é a designação de um fato da realidade ao qual os sentidos, dentro do contexto sócio-histórico-cultural fictício da obra, são atribuídos a partir de concepções de mundo diferentes e antagônicas: a do homem cafone e a do homem não cafone. Tratando-se de um embate entre dois povos que têm, cada um, sua própria língua, seu próprio modo de perceber, conceptualizar e categorizar o mundo, conclui-se que, na narrativa, ocorre a manifestação de dois lexemas cafone distintos: um pertencente à língua dos cafoni e outro pertencente à língua dos não cafoni. Os sentidos desse lexema registrados em Fontamara constituem-se como um documento de um processo histórico e sociocultural e os significados que o vocábulo possui nos sistemas linguísticos cotejados comprovam que, na evolução histórica de um lexema, o núcleo central de significação pode ser descolocado e uma significação periférica pode passar a ocupar o centro do campo conceitual.
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