Chamada

Caros autores, já estamos aceitando os textos para a edição de 2026 da Domínios de Lingu@gem. Lembramos que desde 2023 a revista conta apenas com um volume anual (e não é mais disponibilizada por números). Contamos, a cada volume, com 2 seções temáticas.

Os textos da seção livre são recebidos em fluxo contínuo. Os textos das seções temáticas 2026 têm o prazo de submissão até 30/06/2026. Os textos para essas seções devem ser enviados diretamente para cada seção (e não na seção de artigos).

 

Lexicografia e Inteligência Artificial

Organizadores: Claudia Zavaglia (UNESP), Renato Rodrigues-Pereira (UFMS), Fábio Henrique de Carvalho Bertonha (UNESP).

A Lexicografia tem sido estudada prática e teoricamente há muitos anos e tem se firmado cada vez mais como Ciência consistente e crítica, com objeto de estudo, princípios teóricos e metodológicos próprios, conferindo-lhe um grau de autonomia científica. Assim como outras ciências do léxico, a exemplo da Lexicologia, da Terminologia e da Onomástica, ela possui um caráter interdisciplinar, à medida que, a depender dos objetivos estabelecidos para a investigação ou o tipo de dicionário que se pretende, o pesquisador precisa buscar epistemologias de outras áreas do conhecimento. Nesse contexto, movidos por um cenário em que a Inteligência Artificial (IA) parece predominar de alguma forma todas as áreas do conhecimento, a Lexicografia parece estar em discussão. Questiona-se, por exemplo, se os dicionários continuarão a ser idealizados, elaborados e presentes em nossas vidas, uma vez que o “significado” de uma palavra é facilmente detectado em qualquer motor de busca na Internet. Lexicógrafos, desde o advento da Linguística de Corpus, empreitam importantes reflexões teóricas e metodológicas sobre como a tecnologia pode ajudá-los em sua tarefa, hercúlea, desde sempre, de repertoriar as palavras, defini-las, contextualizá-las e armazená-las em suportes impressos ou digitais. Interrogam-se ainda se seu papel será substituído por uma máquina, como parece estar acontecendo, há anos com algumas profissões, como tradutores, revisores e professores. Com efeito, como se percebe em diversos contextos, a IA tem influenciado diretamente o fazer lexicográfico, a partir do momento em que lexicógrafos têm se deparado com a possibilidade de usar a IA em diversos momentos na elaboração de repertórios lexicográficos. Com isso, dicionários passam a ter projetos editoriais mais requintados na medida em que podem utilizar recursos tecnológicos da IA, com propostas mais arrojadas e modernas. Nesse cenário, no entanto, lexicógrafos podem passar a ter suas funções redefinidas e redirecionadas para atividades mais técnicas e estruturais, o que tem gerado muitas reflexões. Considerando, portanto, o impacto que IA tem gerado em vários contextos da sociedade, a busca por epistemologias dessa área e suas contribuições para a Lexicografia pode ser de grande valia em várias atividades técnicas e científicas da sociedade. Instigados por essa realidade, propomos rever, analisar e debater os novos papeis da Lexicografia e dos lexicográficos na era da IA. Nesse sentido, buscam-se trabalhos enquadrados sob os mais diferentes vieses teórico-metodológicos, incluindo abordagens interdisciplinares. Para tanto, aceitam-se textos que versem sobre os seguintes tópicos:

  1. Questões teóricas e práticas da Lexicografia na era da IA;
  2. Questões teóricas e práticas da Terminografia na era da IA; 
  3. Questões teóricas e práticas da Fraseografia na era da IA; 
  4. Questões teóricas e práticas no tratamento lexicográfico de dados onomásticos na era da IA; 
  5. Tratamento lexicográfico da Libras na era da IA; 
  6. Pedagogia do léxico, dicionários e IA; 
  7. Lexicógrafo e IA.

 

Trilhas, veredas e caminhos da pesquisa linguística do Brasil: uma homenagem a Ataliba T. de Castilho

Organizadores: Marcelo Módolo (USP), Renata Ferreira Costa (UFS), Hélcius Batista Pereira (UEM).

A presente seção temática tem como propósito prestar uma homenagem em vida a uma das figuras mais influentes da pesquisa linguística brasileira: o professor Ataliba Teixeira de Castilho. Ao longo de uma trajetória intelectual marcada pela generosidade acadêmica e pela inovação teórica, o professor Ataliba formou, direta ou indiretamente, gerações de docentes e pesquisadores, além de idealizar e liderar projetos que redefiniram os rumos da descrição linguística do português no Brasil. Entre as trilhas que ajudou a abrir e consolidar, destaca-se o Projeto Norma Urbana Culta (NURC), do qual participou desde a sua criação, em 1969, sendo responsável pela vertente paulista, inicialmente com Isaac Nicolau Salum e, posteriormente, com Dino Pretti (Castilho, 2006, p. 186). Tomando por objeto a oralidade culta em uso, o projeto produziu um acervo de transcrições e análises que alicerçou um volume impressionante de pesquisas sobre o português brasileiro falado, culminando, a partir de 1988, no Projeto Gramática do Português Falado (PGPF). Esses estudos transformaram a prática da pesquisa linguística no país, ao estabelecer procedimentos metodológicos rigorosos e adequados ao estudo da língua em uso, impactando também as investigações sobre o ensino e a aprendizagem da modalidade oral, como se observa em Castilho (2004). A contribuição do professor Ataliba manifesta-se igualmente no campo dos estudos funcionalistas. Obras como Castilho (2001), dedicadas à predicação sob uma ótica funcional, consolidaram sua atuação na interface entre gramática e uso. O interesse pelo fenômeno da gramaticalização (Castilho, 1997) levou-o a reformular o modo de compreender a dinâmica linguística, conduzindo-o à proposição de uma abordagem multissistêmica da língua. Nesse modelo teórico, desenvolvido em Castilho (2010), a língua é concebida como um sistema complexo, estruturado por um dispositivo sociocognitivo que organiza os subsistemas léxico, gramatical, semântico e discursivo, articulando processos de lexicalização, gramaticalização, semanticização e discursivização. Outra realização decisiva de sua trajetória foi a criação, em parceria com nomes como Rosa Virgínia Mattos e Silva e Dinah Callou, do Projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB). Idealizado em 1997, o PHPB reúne pesquisadores de diferentes linhas teóricas, organizados em equipes regionais, para investigar o passado do português brasileiro sob a perspectiva da linguística histórica e da história social da língua. A iniciativa, liderada em grande parte por Castilho, desempenha papel fundamental na constituição e no tratamento de corpora adequados à pesquisa histórica do português do Brasil, promovendo o diálogo entre teoria e empiria. Coerente com essas trilhas, veredas e caminhos que o professor Ataliba T. de Castilho percorreu e abriu à comunidade científica, este dossiê convida à submissão de trabalhos inseridos nos seguintes campos temáticos, todos marcados pela influência do homenageado:

  1. Estudos sobre o português culto falado no Brasil;
  2. Estudos a partir da abordagem multissistêmica;
  3. Outros estudos funcionalistas de descrição linguística do português;
  4. Estudos sobre a história do português brasileiro.

Assim, mais do que celebrar uma trajetória, esta seção temática pretende estimular o diálogo com um legado vivo, convidando os pesquisadores a revisitar, expandir e renovar as sendas teóricas e metodológicas abertas por Ataliba T. de Castilho — trilhas, veredas e caminhos que continuam a orientar a linguística brasileira contemporânea.