"COMO PODEMOS FICAR TRISTES SE ESSE ANO..."
a reescrita de uma (nova) história de resistências indígenas no Brasil republicano a partir do digital
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-69Palavras-chave:
Movimento indigenista, História do Brasil, Análise de Discurso, Análise do Discurso DigitalResumo
Embora a história tradicional tenha sido escrita sob as lentes e os efeitos coloniais, os inúmeros movimentos de resistência dos povos anteriormente dominados permitem estabelecer, a partir de suas agências, importantes processos de reescrita e releituras dessas histórias. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo analisar os efeitos de sentido produzidos a partir da trend “Como podemos ficar tristes se esse ano...,” presente na tomada de posição do movimento social indígena brasileiro em suas resistências tecidas no Brasil republicano. Essa trend apresenta uma breve retrospectiva de acontecimentos históricos importantes que marcaram a trajetória do movimento social indígena brasileiro em 2024. Do ponto de vista metodológico, dialogamos com a teoria materialista do discurso. As experiências e as histórias vivenciadas no Brasil pelos povos indígenas refletem, essencialmente, os efeitos dos processos de colonização, sustentados por uma lógica eurocêntrica que, ao longo da história, foi responsável pela expropriação dos direitos, conhecimentos, memórias, culturas e identidades ancestrais e originárias. O material observado nos permitiu perscrutar os elementos intrínsecos à constituição e ao funcionamento do movimento social indígena na contemporaneidade, identificando os dizeres que, quando escritos, operam e circulam no digital, possibilitando repensar e reescrever outras narrativas, gestadas sob as resistências originárias e ancestrais. Essas manifestações do movimento indígena contemporâneo por meio do digital, e que se materializam na língua, para além da aglutinação de vozes, contrapõem aos estereótipos aos quais as violências coloniais costumam idealizar, podendo, como um dos seus efeitos, permitir que essas experiências e vivências sejam reescritas e rompidas, permitindo prospectar novos horizontes, mediante as conquistas dos povos originários, fortalecendo-se e colocando-se no direcionamento da reescrita e da releituras de histórias outras. Esses movimentos de releitura e reescrita da/na história, antes apagados, silenciados e violentados sob os efeitos coloniais, nos permitem sonhar com a possibilidade de um futuro outro, de um Brasil diferente, e de narrativas outras, escritas e gestadas sob resistências e pelas mãos de povos originários e ancestrais.
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