Trajetórias de leitura e produção dialógica de sentidos sobre corpo, gênero e sexualidade
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-54Palavras-chave:
Trajetórias de leitura, Corpo, Gênero, Sexualidade, Análise Dialógica do DiscursoResumo
Neste artigo, que recortamos de um projeto de pesquisa mais amplo, propomos refletir sobre as contribuições da leitura para os percursos vitais de sujeitos pertencentes aos grupos LGBTQIAPN+. Em linhas gerais, interessa-nos problematizar como a prática dialógica de leitura lhes oferece margem para posicionar-se responsivamente em relação aos discursos hegemônicos normativos, e assim elaborar sentidos para si, para quem são, para o que lhes acontece no mundo enquanto pessoas que não se identificam com a matriz binária e heterossexual. Fazemos essa discussão a partir dos pressupostos teóricos do Círculo de Bakhtin (Bakhtin, 2011; 2013; 2015; 2016; 2017; Volóchinov, 2018), considerando sobretudo as concepções de linguagem em perspectiva dialógica, de enunciado concreto e de vozes sociais. Aliás, com base na cosmovisão bakhtiniana, adotamos no tratamento analítico dos dados uma abordagem ativo-dialógica, o que, por outras palavras, significa dizer que assumimos como coautoras de todo conhecimento que aqui se produz as vozes dos sujeitos que vivenciam as práticas sociais tematizadas em nosso objeto de estudo. Nessa direção, o trabalho se alinha à dimensão ética e politicamente engajada da Linguística Aplicada, na medida em que se compromete a ponderar sobre problemas da vida social, dando relevância aos dizeres das pessoas que os vivenciam (Moita Lopes, 2006; Rajagopalan, 2006). Além disso, mobiliza um debate a respeito da relação entre linguagem e identidades. Em termos metodológicos, trata-se de um estudo de caráter qualitativo-interpretativista, guiado pelo paradigma indiciário (Ginzburg, 1989), cujo corpus compreende fragmentos de diálogos de três sujeitos, gerados a partir de entrevistas. Nossos resultados apontam que os gestos de leitura dos sujeitos em alguma medida lhes ajudaram a estar mais preparados para enfrentar o embate discursivo que se instaura em torno do corpo, do gênero e da sexualidade, e, ademais, evidenciam que as narrativas sobre trajetórias leitoras constituem uma importante fonte de dados para se compreender processos de construção de posicionamentos ideológico-identitários.
Downloads
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. 5. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
BAKHTIN, M. Teoria do romance I: a estilística. São Paulo: Editora 34, 2015.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016.
BAKHTIN, M. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas. São Paulo: Editora 34, 2017.
BUBNOVA, T. Voz, sentido e diálogo em Bakhtin. Bakhtiniana, São Paulo, v. 6, n.1, p. 268-280, ago./dez. 2011. DOI https://doi.org/10.1590/S2176-45732011000200016
CASADO ALVES, M. da P. O enunciado concreto como unidade de análise: a perspectiva metodológica bakhtiniana. In: RODRIGUES, R. H.; ACOSTA PEREIRA, R. (org.). Estudos dialógicos da linguagem e pesquisas em Linguística Aplicada. São Carlos: Pedro & João, 2016. Cap. 7.
CASADO ALVES, M. da P.; ROJO, R. H. F. Comunidades de leitores: cultura juvenil e os atos de descolecionar. Bakhtiniana, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 145-162, abr./jun. 2020. DOI https://doi.org/10.1590/2176-457343116
GINZBURG, C. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: GINZBURG, C. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 143-180.
GODOY, N. B. K.; MOURÃO, L.; OLIVEIRA, A. L.; CHAVES, B. Construção das identidades de gênero na infância: os discursos dos brinquedos e brincadeiras. Pensar a Prática, Goiânia, v. 24, 2021. DOI https://doi.org/10.5216/rpp.v24.64935
LOURO, G. L. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, G. L. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/30353576.pdf
MOITA LOPES, L. P. da. Linguística Aplicada e vida contemporânea: problematização dos constructos que têm orientado a pesquisa. In: MOITA LOPES, L. P. da (org.). Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
MOITA LOPES, L. P. da. Da aplicação da Linguística à Linguística Aplicada Indisciplinar. In: PEREIRA, R. C.; ROCA, P. Linguística Aplicada: um caminho com diferentes acessos. São Paulo: Contexto, 2009. p. 13-24.
PAULA, L. de; LUCIANO, J. A. R. Filosofia da Linguagem Bakhtiniana: concepção verbivocovisual. Intergrupos: estudos bakhtinianos, [s. l.], v. 8, n. 3. set./dez. 2020. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/revdia/article/view/10039.
PEREIRA, I. S. Em meio a um mar de vozes sociais: o papel das bibliotecas e das práticas dialógicas de leitura na formação das identidades de jovens universitários. 2025. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2025.
PETIT, M. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2009.
RAJAGOPALAN, K. Repensar o papel da linguística aplicada. In: MOITA LOPES, L. P. da (org.). Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006. Cap. 6.
SANTOS, B. de S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. Revista Crítica de Ciências Sociais, [S. l.], n. 78, 2007. DOI https://doi.org/10.4000/rccs.753
SILVA, P. E. F. da; SOUZA, M. S. de; CASADO ALVES, M. da P.; COSTAJ. D. da. Entre o sagrado e o profano na passarela da carnavalização: uma análise dialógica de Rupaul’s Drag Race. Entretextos, Londrina, v. 23, n. 4, p. 176-199, 2023. DOI https://doi.org/10.5433/1519-5392.2023v23n4p176-199
SILVA, J. dos S. Um farol no meio do sertão: literatura fânone e clubes de leitura do IFRN como articuladores de tecituras polifônicas. 2024. Tese (Doutorado em Estudos da Linguagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2024. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/59754.
SOBRAL, A.; GIACOMELLI, K. Alteridade, subjetividade, identidade e variantes enunciativas: explorações especulativas. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 21, p. 13-44, 2018. DOI https://doi.org/10.15210/rle.v21i0.15115
VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2018.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Ismael Soares Pereira, Maria da Penha Casado Alves

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos da licença Creative Commons
CC BY-NC-ND 4.0: o artigo pode ser copiado e redistribuído em qualquer suporte ou formato; os créditos devem ser dados ao autor original e mudanças no texto devem ser indicadas; o artigo não pode ser usado para fins comerciais; caso o artigo seja remixado, transformado ou algo novo for criado a partir dele, o mesmo não pode ser distribuído.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.


