Uma oferta e uma recusa entre risos para evitar o desconforto
“a única coisa que eu não como é abóbora”
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-58Palabras clave:
Interação social, Ações preferidas e despreferidas, Oferta, Recusa, Riso como recurso interacionalResumen
Este artigo investiga o papel do riso como um recurso interacional em situações de desconforto, com foco em um episódio do programa "Mais Você", no qual a atriz Taís Araújo recusa uma oferta de nhoque de abóbora feita pela apresentadora Ana Maria Braga. A pesquisa é fundamentada nos princípios da Análise da Conversa de base etnometodológica, analisando transcrições detalhadas dessa interação, cujo excerto audiovisual ilustra como o riso emerge como um mecanismo de reorganização da sequência interacional, descomprimindo a situação desconfortável que foi criada ao mesmo tempo em que garante o (re)alinhamento entre as participantes. Os resultados indicam que o riso não apenas transforma a seriedade da recusa em um momento leve que passa a ser enquadrado como brincadeira e, dessa forma, atua como uma ferramenta para a manutenção da harmonia interacional. A análise evidencia ainda que o riso se configura como um recurso multifuncional capaz de reconfigurar o significado de ações socialmente sensíveis, como a recusa de uma oferta em público. Por meio da co-construção de risos entre as participantes, é possível observar a negociação dos significados locais da ação, bem como a ativação de estratégias de afiliação. A metodologia qualitativa adotada permitiu a observação das posturas afetivas e ações multimodais associadas ao riso de forma detalhada, revelando como essas práticas sustentam a continuidade da interação e evitam rupturas na conversa. Dessa maneira, o estudo contribui para a compreensão do riso na dinâmica das interações sociais, proporcionando reflexões relevantes para estudiosos e profissionais da Linguística Aplicada e áreas correlatas, como a Comunicação Social, nesse caso, sobre como provocar o riso pode ser usado interacionalmente para gerenciar situações complexas, no exato momento em que tais situações acontecem. Conclui-se que o riso funciona, nesse episódio, como um recurso interacional sofisticado que contribui para o gerenciamento de despreferências e tensões, sendo relevante para pesquisadores interessados nas práticas sociais ordinárias e nos modos como se constroem relações face a face em contextos institucionais e midiáticos.
Descargas
Referencias
BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.
BROTH, M. Seeing through screens, hearing through speakers: Managing distant studio space in television control room interaction. Journal of Pragmatics, v. 41, n. 10, p. 1998-2016, 2009. DOI https://doi.org/10.1016/j.pragma.2008.09.023
BROTH, M.; LAURIER, E.; MONDADA, L. Introduction. In: BROTH, M.; LAURIER, E.; MONDADA, L. (eds.). Studies of video practices: Video at work. Routledge, 2014. DOI https://doi.org/10.4324/9781315851709
CECCON, D.; PEROBELLI, R.. Rindo e discordando: o gerenciamento do riso durante um debate no canal Spotniks. Estudos Linguísticos e Direitos Humanos: linguagem, interação e comunicação. Vol. 3. São Carlos: Pedro & João Editores, 2024. p. 13-35.
CLIFT, R. Identifying action: Laughter in non-humorous reported speech. Journal of Pragmatics, v. 44, p. 1303-1312, 2012. DOI https://doi.org/10.1016/j.pragma.2012.06.005
COULON, A. A inversão etnometodológica. In: Etnometodologia e Educação. São Paulo: Cortez, 2017. p. 21-39.
COUTO, C. S. L. O choro na interação: o gerenciamento de ações em episódios nos quais o choro é tornado relevante. Dissertação de mestrado. 111 fls. Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGEL/Ufes). Vitória/ES, 2021.
GARCEZ, P. M. A perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica sobre o uso da linguagem em interação social. In: LODER, L. L.; JUNG, N. M. (orgs.). Fala-em-interação social: Introdução à Análise da Conversa Etnometodológica. Campinas: Mercado das Letras, 2008. p. 17-38.
GARFINKEL, H. Estudos de etnometodologia. Editora Vozes Limitada, 2018.
GAVIOLI, L. Turn‐initial versus turn‐final laughter: Two techniques for initiating remedy in English/Italian bookshop service encounters. Discourse Processes, v. 19, n. 3, p. 369-384, 1995. DOI https://doi.org/10.1080/01638539509544923
GLENN, P. Laughter in Interaction. Nova York: Cambridge University Press, 2003. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511519888
HERITAGE, J. Conversation Analysis. In: Garfinkel and Ethnomethodology. Cambridge: Polity Press, 1984. p. 233-292.
JEFFERSON, G. On the organization of laughter in talk about troubles. In: ATKINSON, J. M.; HERITAGE, J. (eds.). Structures of Social Action: Studies in Conversation Analysis. Cambridge: CUP, 1985. p. 346-369. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511665868.021
JEFFERSON, G.; SACKS, H.; SCHEGLOFF, E. A. Notes on laughter in the pursuit of intimacy. In: BUTTON, G.; LEE, J. R. E. (eds.). Talk and social organization. Multilingual Matters, 1987. p. 152–205. DOI https://doi.org/10.2307/jj.33169485.10
JEFFERSON, G. Glossary of transcript symbols with an introduction. In: LERNER, G. H. (org.). Conversation Analysis: Studies from the First Generation. Amsterdã: Benjamins, 2004. p. 13-31. DOI https://doi.org/10.1075/pbns.125.02jef
JEFFERSON, G. Sometimes a frog in your throat is just a frog in your throat: Gutturals as (sometimes) laughter-implicative. Journal of Pragmatics, v. 42, p. 1467-1484, 2010. DOI https://doi.org/10.1016/j.pragma.2010.01.012
LOONEY, S. D.; HE, Y. Laughter and smiling: Sequential resources for managing delayed and disaligning responses. Classroom Discourse, v. 12, n. 4, p. 319-343, 2021. DOI https://doi.org/10.1080/19463014.2020.1778497
MAIS VOCÊ. Direção: Gustavo Alves e Luiz Castilho. TV Globo. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/5869557. Acesso em: 01 out. 2025.
MONDADA, L. Multiple Temporalities of Language and Body in Interaction: Challenges for Transcribing Multimodality. Research on Language and Social Interaction, v. 51, n. 1, p. 85-106, 2018. DOI https://doi.org/10.1080/08351813.2018.1413878
POMERANTZ, A. Agreeing and disagreeing with assessments: Some features of preferred/dispreferred turn shaped. In: ATKINSON, M.; HERITAGE, J. (eds.). Structures of Social Action: Studies in Conversation Analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1984. p. 57-101. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511665868.008
POMERANTZ, A.; HERITAGE, J. Preference. In: SIDNELL, J.; STIVERS, T. (eds.). The Handbook of Conversation Analysis. Malden, MA: Blackwell, 2013. p. 210-228. DOI https://doi.org/10.1002/9781118325001.ch11
RACLAW, J.; FORD, C. E. Laughter and the management of divergent positions in peer review interactions. Journal of Pragmatics, v. 113, p. 1-15, 2017. DOI https://doi.org/10.1016/j.pragma.2017.03.005
SACKS, H. Notes on methodology. In: ATKINSON, J. M.; HERITAGE, J. Structures of Social Action. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
SCHEGLOFF, E. A. Reflections on Quantification in the Study of Conversation. Research on Language and Social Interaction, v. 26, n. 1, p. 99-128, 1993. DOI https://doi.org/10.1207/s15327973rlsi2601_5
SCHEGLOFF, E. A. Sequence organization in interaction: A Primer in Conversation Analysis I. Cambridge University Press, 2007. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511791208
STEVANOVIC, M.; PERÄKYLÄ, A. Three orders in the organization of human action: On the interface between knowledge, power, and emotion in interaction and social relations. Language in Society, v. 43, n. 2, p. 185-207, 2014. DOI https://doi.org/10.1017/S0047404514000037
STRID, E.; CEKAITE, A. Embodiment in reciprocal laughter. How emotions are made in talk, v. 321, p. 163, 2021. DOI https://doi.org/10.1075/pbns.321.06str
TAÍS ARAÚJO RECUSA COMER NHOQUE DE ABÓBORA DE ANA MARIA BRAGA. [S.l.: s.n.], 2017. 1 vídeo (02min16s). Publicado pelo canal Um pouco de tudo AZ. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Tip6Pe6izoM. Acesso em: 01 out. 2025.
TANAKA, H. Solo or shared laughter in coparticipant criticism in Japanese conversation. East Asian Pragmatics, v. 3, n. 1, p. 125-149, 2018. DOI https://doi.org/10.1558/eap.35801
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Roberto Perobelli, Rogério Carvalho de Holanda, Marcio Claudio dos Reis

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial-SinDerivadas 4.0.
Domínios de Lingu@gem utiliza la licencia Creative Commons (CC) CC BY-NC-ND 4.0, preservando así la integridad de los artículos en un ambiente de acceso abierto. La revista permite al autor conservar los derechos de publicación sin restricciones.


