Entre a consciência da diversidade e a prática normativa
discutindo crenças e atitudes linguísticas de docentes do Ensino Fundamental II
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-65Palavras-chave:
Crenças linguísticas, Atitudes docentes, Preconceito linguístico, Variação linguística, Ensino fundamentalResumo
Este estudo conjectura analisar as crenças e atitudes linguísticas de professores do Ensino Fundamental II situados na região metropolitana de Belo Horizonte. Além disso, busca compreender como esses docentes lidam, no cotidiano escolar, com a variação linguística e com o preconceito linguístico, elementos centrais para a promoção de uma educação linguística mais inclusiva e crítica. A pesquisa está ancorada nas bases teóricas da Sociolinguística Variacionista, especialmente nos estudos de Labov (2008\[1972]), bem como nas investigações sobre Crenças e Atitudes Linguísticas, conforme discutido por Santos (1996), Cyranka (2007) e Baronas (2015). Para a obtenção dos dados empíricos, foi elaborado um questionário on-line com perguntas construídas a partir de uma abordagem direta e indireta, conforme proposto por Garret, Coupland e Williams (2003). O instrumento foi dividido em três seções: (i) uma situação-problema que simula um caso de preconceito linguístico; (ii) afirmações relacionadas a diferentes concepções de língua; e (iii) perguntas destinadas à caracterização do perfil dos professores participantes. A amostra foi composta por 21 professores da rede de educação básica da região metropolitana de Belo Horizonte. A coleta de dados ocorreu no contexto do projeto “Bases para uma pedagogia da variação linguística: língua, variação e valores sociais” [UPE-APQ 4/2024] (Sene; Oliveira, 2024). Os resultados revelam que, embora os professores demonstrem um certo grau de consciência quanto à importância de respeitar a diversidade linguística, suas práticas pedagógicas ainda estão fortemente pautadas na correção dos chamados “erros” gramaticais, o que indica uma visão normativa da língua. Dessa forma, as variedades linguísticas dos alunos são frequentemente desconsideradas em sala de aula. Embora haja valorização da norma-padrão como modelo, falta uma integração mais efetiva entre o conhecimento teórico sobre variação e sua aplicação prática no ensino. Isso evidencia a necessidade de uma formação docente que promova maior reflexão crítica e que incentive práticas pedagógicas mais alinhadas com a valorização da pluralidade linguística, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da competência comunicativa dos estudantes.
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