Concepções de (ensino de) oralidade no Documento Curricular Referencial de Fortaleza – DCRFor
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-75Palavras-chave:
Oralidade, Documento Curricular Referencial de Fortaleza, Ensino de Língua PortuguesaResumo
Este artigo analisa a concepção de oralidade no Documento Curricular Referencial de Fortaleza (DCRFor), com foco no componente curricular Língua Portuguesa nos anos finais do Ensino Fundamental. Teoricamente, a reflexão se funda a partir da compreensão de que a oralidade é uma prática discursiva multissemiótica, a qual deve ser objeto de ensino nos programas pedagógicos que têm como fito a formação linguístico-cidadã do estudante. O foco analítico recai, mais exatamente, sobre o Volume 3: Linguagens, no qual há orientações sobre o componente curricular de Língua Portuguesa para os anos finais do ensino fundamental. A partir desse recorte, recorremos aos trechos que versam sobre o ensino das práticas orais. A pesquisa, de natureza qualitativa e documental, busca compreender como a oralidade é abordada no documento, investigando concepções de linguagem, propostas metodológicas, gêneros orais contemplados e perspectivas avaliativas. Parte-se do pressuposto de que o ensino da oralidade deve considerar suas múltiplas funções comunicativas, sociais e culturais, indo além da reprodução de padrões formais e monológicos. A análise do DCRFor revela avanços importantes na valorização da oralidade como prática social significativa e como objeto legítimo de ensino, articulado às práticas discursivas cotidianas e à formação cidadã dos estudantes. O documento reconhece a diversidade de gêneros orais e propõe práticas mais interativas e dialógicas, como debates, entrevistas, seminários e apresentações, indicando uma mudança de paradigma no tratamento da oralidade. No entanto, apesar dos avanços conceituais, observam-se lacunas no detalhamento didático-pedagógico, especialmente quanto à progressão das habilidades ao longo dos anos escolares, à sistematização dos conteúdos e à articulação com manifestações culturais locais, como rodas de conversa, saraus e cordéis. Nesse sentido, o estudo conclui que o DCRFor oferece uma base conceitual sólida, alinhada às perspectivas dos multiletramentos e do ensino por gêneros, mas demanda maior aprofundamento didático, contextualização sociocultural e investimento na formação docente para que a oralidade ocupe, de fato, um lugar central no currículo de Língua Portuguesa. A consolidação desse eixo requer políticas educacionais que valorizem a diversidade e promovam práticas pedagógicas integradoras e críticas.
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