Entre -pólis e -lândia(s)

o conceito de sufixo toponímico e sua presença em topônimos brasileiros nos séculos XIX e XX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-73

Palavras-chave:

Sufixação, Sufixos toponímicos, Topoformantes, Toponímia brasileira, -lândia e -pólis

Resumo

Apesar de boa parte das pesquisas relacionadas a topônimos esbarrarem na formação sufixal, detectamos uma lacuna no que concerne aos sufixos toponímicos – aqueles sufixos usados de modo quase exclusivo para a construção de topônimos. Embora o termo conste em alguma literatura em língua portuguesa, uma busca mais ativa revelou que não há textos específicos sobre o assunto. Há dois tipos básicos de sufixação presentes em nomes geográficos: a primeira relaciona-se aos sufixos normalmente presentes em uma língua. Em topônimos espontâneos, os sufixos mais comuns são os diminutivos, aumentativos, coletivos. A segunda forma de sufixação pode estar presente em formações espontâneas, mas com frequência foi e é usada no Brasil com objetivos explícitos de formar nomes cujo sufixo expressa a ideia “terra de”. Dada a relevância do tema, o trabalho possui três objetivos centrais. O primeiro é definir o conceito sufixo toponímico em língua portuguesa. O segundo é oferecer um sólido levantamento diacrônico sobre a formação dos sufixos que se encaixam nessa conceituação e que são mais frequentes no Brasil contemporâneo, nomeadamente -pólis e -lândia, partículas de uso bastante antigo na formação de topônimos – embora tratemos de outros sufixos com essa função, como -burgo. Esse levantamento diacrônico visitou antigas práticas de nomeação dos espaços pela referência aos grupos étnicos que ocupavam os territórios, em geral expressando relação genitiva. Além disso, refizemos o percurso que converteu palavras plenas nos sufixos -lândia e -pólis. O terceiro objetivo é observar, por meio de um estudo prático, o comportamento desses sufixos toponímicos no Brasil na formação de nomes de municípios. Para tanto, coletamos um conjunto de topônimos brasileiros que apresentam sufixos toponímicos, aplicados a aglomerados humanos, a partir de nomenclatura geográfica disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Observamos, em proposições de novos nomes para municípios e distritos, o aumento progressivo do uso de sufixos toponímicos de relação genitiva, incorporando o sentido de “terra / cidade de”, após a segunda metade do século XIX. Os resultados comprovam a função de sufixos toponímicos como topoformantes, bem como permitem estabelecer -pólis como topoformante mais antigo em uso no Brasil e -lândia o mais frequente, sendo característico do século XX.

Downloads

Os dados de download ainda não estão disponíveis.

Biografia do Autor

  • Patricia Carvalhinhos, Universidade de São Paulo

    Docente da Universidade de São Paulo -Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, Programa de Pós- Graduação em Filologia e Língua Portuguesa.

Referências

ALMAGRO-GORBEA, M. Landecastro, *Landobriga y otros topónimos hispanos de origen céltico derivados de landā. Vaccea Anuario, [S.l.], v. 16, p. 61-70, 2023. DOI https://doi.org/10.69531/CDRA-4004-PNTV

ALMELA PÉREZ, R.; LÓPEZ LÓPEZ, A. Morfología de los topónimos. Revista de Investigación Lingüística, v. 16:137–164, 2013. Disponível em: https://revistas.um.es/ril/article/view/208701. Acesso em: 16 jan. 2025.

BÁBA, B. Lexical topoformants in toponyms. Acta Onomastica, v. 55:17–24, 2016. Disponível em: https://mnynk.unideb.hu/publikaciok/actaonomastica_bb.pdf . Acesso em: 16 abr. 2025.

BRÉAL, M. Ensaio de Semântica. São Paulo, EDUC/Pontes, 1992 [1897].

BRUNHES, J. Étude de géographie humaine: l'irrigation, ses conditions géographiques, ses modes, et son organisation dans la Péninsule Ibérique et dans l'Afrique du Nord. Paris, C. Naud, 1902.

CANTERO, M. Formas combinantes: un estudio sobre los procesos morfológicos de truncamiento en español. Filología y Linguística, Madrid, v. 30, n. 2, p. 205-214, 2004. DOI https://doi.org/10.15517/rfl.v30i2.4445

CARDEIRA, E.; VILLALVA, A. Gentílicos e topónimos portugueses: algumas questões. Revista GTLex, Uberlândia, v. 6, n. 1, p. 192–213, 2020. DOI https://doi.org/10.14393/Lex11-v6n1a2020-11

CARVALHINHOS, P. Onomastics and Toponomastics. In: KABATEK, J.; WALL, A. Manual of Brazilian Portuguese Linguistics. De Gruyter: Berlim, 2022. p. 513-552. DOI https://doi.org/10.1515/9783110405958-019

CARVALHINHOS, P.; LIMA, A. T. Los pueblos de Portugal y el modelo denominativo medieval. In: Second Internacional Conference on Onomastics 'Name and Naming - Onomastics in Contemporary Public Space', 2013, Baia Mare. Proceedings of the Second Internacional Conference on Onomastics. Cluj Napoca: Argonaut, 2013. v. 1. p. 277-290

CARVALHINHOS, P. Hierotoponímia portuguesa de Leite de Vasconcelos às atuais teorias onomásticas: estudo de caso as Nossas Senhoras. 2005. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

CARVALHINHOS, P. A Toponímia portuguesa: um recorte lingüístico do douro ao Tejo. 1998. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

COATES, R. Some thoughts on the theoretical status of ethnonyms and demonyms. Onomastica, Kraków, v. 65, n. 2, p. 5–19, 2021. DOI https://doi.org/10.17651/ONOMAST.65.2.1

CORREIA, P. Geografia do Cáucaso. A folha. Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. Disponível em: https://ec.europa.eu/translation/portuguese/magazine/documents/folha28_pt.pdf. Acesso em: 20 fev. 2025.

CORTESÃO, A. A. de. Onomástico medieval português. Lisboa: Imprensa Nacional, 1912.

CUNHA, A. G. da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa, 2ª ed. revista e aumentada, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1982.

DAUZAT, A. Les noms de lieux. Paris: Delagrave, 1926.

DELAMARRE, X. Dictionnaire de la langue gauloise: une approche linguistique du vieux-celtique continental. L’Antiquité Classique, t. 73, 2004. p. 508–509.

DICK, M. V. de P. do A. Toponímia e antroponímia no Brasil: coletânea de estudos. 2ª edição. São Paulo, Serviço de Artes Gráficas da FFLCH, 1990.

FOLHA DE SÃO PAULO. Vasconcelândia é exemplo de fracasso. São Paulo, 16 jun. 1997. Caderno Dinheiro. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi160605.htm . Acesso em: 10 jan. 2025.

GÁRATE ARRIOLA, J. Sufijos locativos. Revista Internacional de los Estudios Vascos - RIEV, v. 21, n. 2:424-448, 1930. Disponível em: http://www.eusko-ikaskuntza.eus/PDFAnlt/riev/21/21442448.pdf. Acesso em: 20 nov. 2024.

GONÇALVES, C. A. V.; VITAL, F. da S.; BERNARDO, S. P. De -lândia a -olândia: abordagem morfossemântica das construções X-lândia no português do Brasil. Signum: Estudos da Linguagem, Londrina, v. 21, n. 3, p. 386–407, dez. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.5433/2237-4876.2018v21n3p386 . Acesso em: 20 fev. 2025.

GONÇALVES, C. A. V. Composição e Derivação: polos prototípicos de um continuum? Pequeno estudo de casos. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 5, n. 2, p. 63–90, 2011. DOI https://doi.org/10.14393/DL10-v5n2a2011-5

HARPER, D. Etymology of land. Online Etymology Dictionary, Disponível em: https://www.etymonline.com/word/land . Acesso em: 7 ago. 2024.

HARVALIK, M. Appellativisation and Proprialisation: The Gateways between the Appellative and Proprial Spheres of Language. In: Name and Naming: Synchronic and Diachronic Perspectives, editado por O. Felecan, 2012:10–17. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing.

HOLDER, A. Alt–celtischer Sprachschatz, II. Leipzig: Teubner, 1904.

HUBSCHMID, J. Pyrenäenwörter vorromanischen Ursprung und das vorromanische Substrat der Alpen. Salamanca: Universidad de Salamanca, 1954.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). IBGE Cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2024. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em: 15 mar. 2025.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Índice de nomes geográficos. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. 1 v. (Coleção Ibgeana). Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv56282.pdf. Acesso em: 20 mar. 2023.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Divisão territorial dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro: Serviço gráfico do IBGE, 1940. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv13618.pdf. Acesso em: 02 fev. 2025.

JESPERSEN, O. The philosophy of grammar. Com introdução e índice de James D. McCawley. Chicago; London: The University of Chicago Press, 1924.

KERFOOT, H. Role of the United Nations in the standardization of geographical names: some fifty years on. In: UNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs, Statistics Division (ed.). Manual for the standardization of geographical names. United Nations Group of Experts on Geographical Names. New York: United Nations, 2006. p. 83-97. ISBN 92-1-161490-2. Disponível em: https://unstats.un.org/unsd/ungegn/working_groups/training/Netherlands_2002/13_KERFOOT_Role_of_the_UN.pdf. Acesso em: 10 fev. 2024.

KÖHNLEIN, B. The morphological structure of complex place names: the case of Dutch. The Journal of Comparative Germanic Linguistics, v. 18, n. 3, p. 183–212, 2015. DOI https://doi.org/10.1007/s10828-015-9075-0

KRIPKE, S. A. Naming and Necessity: Lectures Given to the Princeton University Philosophy Colloquium. Cambridge, MA: Harvard University Press. Edited by Darragh Byrne & Max Kölbel, 1980.

JONES, A. H. M. The Cities of the Eastern Roman Provinces. 2ª edição. Oxford: Clarendon Press, 1971. Disponível em: https://archive.org/details/JonesCitiesEasternRomanProvinces. Acesso em: 28 jul. 2024.

LAMBERT, P.-Y. La langue gauloise: description linguistique, commentaire d'inscriptions choisies. Paris: Éditions Errance, 1994.

LE GOFF, J. O apogeu da cidade medieval. Tradução de Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

MATASOVIĆ, R. Etymological Dictionary of Proto Celtic. Leiden Indo-European etymological dictionary series, Brill, 2009.

MURZÁEV, E. M. An international glossary of local geographic terms. Submitted by the Government of the Union of Soviet Socialist Republics. United Nations Conference on the Standardization of Geographical Names, Geneva, 4–22 Sept. 1967. Disponível em: https://unstats.un.org/UNSD/geoinfo/UNGEGN/docs/1st-uncsgn-docs/e_conf_53_L50.pdf. Acesso em: 20 jan. 2025.

NAVARRO, E. de A. Artificial Indigenous Place Names in Brazil: a Classification of Tupi Origin Names Created in the 19th and 20th Centuries. Revista Letras Raras. Campina Grande, v. 9, n. 2:252-267, jun. 2020. DOI https://doi.org/10.35572/rlr.v9i2.1700

NYSTRÖM, S. Names and meaning. In: HOUGH, C. (org.). The Oxford Handbook of Names and Naming. [s.l.]: Oxford University Press, 2016. p. 39-51. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199656431.013.26. Acesso em: 6 jan. 2025.

OXFORD UNIVERSITY PRESS. Oxford classical dictionary. Disponível em: https://oxfordre.com/classics/. Acesso em: 25 out. 2024.

ROLNIK, R. O que é cidade. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988.

SILVA, J. K. T.; LIMA, M. H. P. Evolução do marco legal da evolução de municípios no Brasil. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Evolução da Divisão Territorial do Brasil 1872-2010. Memória Institucional 17. Rio de Janeiro, 2011. p. 17-20. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv55077.pdf. Acesso em: 20 fev. 2025.

SOUSA, D. M. de. O papel da morfologia na inovação antroponímica no Brasil: um olhar sobre o formativo -landia. 2023. 106 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Universidade de Brasília, Brasília, 2023.

SOUSA, G. S. de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. 3. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1989 [1851]. (Biblioteca Básica Brasileira). Disponível em: https://fundar.org.br/publicacoes/biblioteca-basica-brasileira/tratado-descritivo-do-brasil-em-1587/. Acesso em: 10 mai. 2021.

STEWART, G. R. And Adam gave names – a consideration of name–lore in antiquity. Names: A Journal of Onomastics, v. 6, n. 1, p. 1–19, mar. 1958. DOI https://doi.org/10.1179/nam.1958.6.1.1

TESNIÈRE, L. Éléments de syntaxe structurale. Paris: Klincksieck, 1959. Disponível em: https://ia800500.us.archive.org/9/items/LucienTesniereElementsDeSyntaxeStructurale/Lucien%20Tesniere%20Elements%20de%20syntaxe%20structurale.pdf . Acesso em: 9 out. 2025.

UNTERMANN, J. Vários capítulos em: BELTRÁN L., Francisco; DE HOZ, J.; UNTERMANN, J. (org.). El tercer bronce de Botorrita (Contrebia Belaisca). Zaragoza: Diputación General de Aragón, 1996.

URAZMETOVA, A. V.; SHAMSUTDINOVA, J. Kh. Principles of place names classifications. XLinguae, Nitra, v. 10, n. 4, p. 26–33, 2017. DOI https://doi.org/10.18355/XL.2017.10.04.03

VALLEJO RUIZ, J. M. La flexión indoeuropea en -(o)n ; algunos datos onomásticos galos e hispanos. Pessac : Fédération Aquitania, PERSÉE : Université de Lyon, CNRS & ENS de Lyon, 2004. Disponível em: https://gotriple.eu/documents/10.3406%2Faquit.2004.1383. Acesso em: 28 set. 2024.

VAN LANGENDONCK, W.; VAN DE VELDE, M. Names and Grammar. In: HOUGH, C. (org.). The Oxford Handbook of Names and Naming. [s.l.]: Oxford University Press, 2016, p. 17-38. DOI https://doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199656431.013.21

VIARO, M. E. A derivação sufixal do português: elementos para uma investigação semântico-histórica. 2011. Tese (Livre Docência em Morfologia Histórica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. DOI https://doi.org/10.11606/T.8.2018.tde-02022018-173614

VIEIRA, M. de F. O formativo -lândia no português brasileiro contemporâneo: radical ou afixo? Cadernos do NEMP, Rio de Janeiro, n. 3, v. 1, p. 41-51, 2012.

Downloads

Publicado

22.12.2025

Como Citar

CARVALHINHOS, Patricia. Entre -pólis e -lândia(s): o conceito de sufixo toponímico e sua presença em topônimos brasileiros nos séculos XIX e XX. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 19, p. e019073, 2025. DOI: 10.14393/DLv19a2025-73. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/78022. Acesso em: 25 dez. 2025.