O gênero poemas no ensino de inglês com crianças e suas potencialidades para o desenvolvimento de capacidades de linguagem e repertórios comunicativos
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-46Palavras-chave:
Gêneros textuais, Ensino de inglês com crianças, Repertórios comunicativos, Capacidades de linguagem, PoemasResumo
O ensino de inglês com crianças no quadro teórico-metodológico do Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart, 1999; Schneuwly, 2011) continua a ser examinado no cenário acadêmico-científico brasileiro (Magiolo, 2021; Poleze, 2021; Reis, 2018; Santos, 2022). Contemplamos as aberturas para o trabalho com gêneros textuais na BNCC (Brasil, 2018), e consideramos a criança protagonista nos processos de ensino-aprendizagem (Kawachi-Furlan; Malta, 2020), buscando evidenciar suas experiências individuais (Busch, 2012). O contexto desta pesquisa foram aulas de inglês com crianças realizadas em formato síncrono remoto durante a pandemia de Covid-19 (WHO, 2020). O instrumento de ensino utilizado foi uma sequência didática (SD) (Dolz; Noverraz; Schneuwly, 2011) do gênero textual poema. O objetivo deste artigo é identificar as capacidades de linguagem (CL) que emergem e se desenvolvem em quatro atividades da SD, e evidenciar os repertórios comunicativos vinculados a essas CL. A pesquisa se constitui como qualitativa, colaborativa e interpretativista (Moita Lopes, 1994), e o corpus de análise das atividades foi construído a partir de transcrições das interações orais dos alunos e professoras participantes da pesquisa, bem como da documentação das atividades escritas e digitais produzidas pelos alunos. A análise das quatro atividades expostas neste artigo evidencia que o trabalho com a SD potencializou a contribuição e o engajamento dos alunos para a fruição dos poemas, além de encorajar que os alunos buscassem estabelecer relações entre suas experiências e vivências e a apreciação dos textos. Os resultados demonstram a emergência das cinco CL operacionalizadas (Cristovão; Stutz, 2011; Lenharo; Cristovão, 2024) e nos permitem descrever subgrupos de repertórios comunicativos a partir de Hall, Cheng e Carlson (2006) e Busch (2012), quais sejam: linguístico, tecnológico, familiar e cultural. A categorização dos subgrupos, a fim de destacar suas particularidades, permite defender que o trabalho com poemas extrapola os limites de conhecimento e funcionamento da língua inglesa nos alunos, e não se constitui de forma puramente verbal, passando a incluir meios de expressão e recursos outros que permitem uma experiência de ensino-aprendizagem centrada no aluno.
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