Pesquisas sobre gêneros na escola
o que fazemos nos programas de pós-graduação em estudos linguísticos do Nordeste brasileiro?
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-45Palavras-chave:
Gêneros, Ensino, Educação básica, Nordeste, Pós-graduaçãoResumo
O discurso oficial brasileiro sobre ensino de língua portuguesa, há mais de vinte anos, parte do pressuposto de que o texto, vinculado a um gênero, deve ser visto como objeto de trabalho nas salas de aula do país (Brasil, 1998; 2018). Entretanto se percebe que algo ainda está fora da linha, tendo em vista os resultados frágeis de leitura e escrita que o país vem obtendo em exames nacionais, como Enem e Saeb, e internacionais, como o Pisa, além de estar estancado, há muitos anos, em níveis mais elementares do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). Com base nisso, perguntamo-nos como a questão do gênero no ensino vem sendo tratada na área das Ciências da Linguagem, ajustando a lupa para a região Nordeste (NE) do país. Tivemos como objetivo mapear os trabalhos acadêmicos defendidos em programas de pós-graduação (PPG) de estudos linguísticos no NE sobre ensino de língua materna a partir de gêneros, considerando o enfoque em análises que considerem tanto gêneros específicos quanto diferentes tipos de agrupamentos genéricos. Partimos dos trabalhos acadêmicos que fazem estudos exploratórios sobre amplo espectro da produção textual e da leitura, como Araújo (2010), Ataíde et al. (2019), Pimentel (2019) e Carvalho e Sousa (2023). Como procedimentos metodológicos, fizemos um levantamento de dissertações e teses defendidas em vinte programas de pós-graduação na área de Ciências da Linguagem, no período de 2011 a 2021, buscando aqueles que versassem sobre a relação gêneros e ensino básico. Os resultados apontam que, embora tenhamos avanços significativos no campo dos estudos de gêneros, tendo inclusive PPG reconhecidos nacionalmente como sendo de excelência nesses estudos, o número de pesquisas em programas stricto sensu que apontam para as salas de aula da educação básica brasileira ainda é muito baixo, sugerindo certo distanciamento entre o que acontece na academia e fora dos muros da universidade.
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