Descolonizando a escrita acadêmica

práticas de letramentos a partir de perspectivas negrindígenas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-3

Palavras-chave:

Mestranda indígena Akwẽ, Letramento acadêmico, Práticas de letramentos, Epistemologias negras e indígenas, Ensino superior

Resumo

Este artigo tem como objetivo discutir as práticas de letramentos acadêmicos na relação com as práticas que foram construídas pela participante interlocutora do estudo, uma estudante indígena, ao longo de sua trajetória como mestranda em um programa de pós-graduação da área de estudos linguísticos, na região Centro-Oeste do Brasil. Para tanto, apresenta parte das concepções de letramento (Kleiman, 1995; Tfouni et al., 2013) que fundamentam essa área de estudo, ampliando a discussão ao incorporar uma concepção negrindígena de letramento (Brupahi Xerente, 2018, 2019; Correa Xakriabá, 2018; Evaristo, 2007; Hampaté Bâ, 2010;  Santos, 2018, entre outros). Em outras palavras, coloca, inicialmente, as concepções de letramento em diálogo para, em uma crescente conceitual, trazer as perspectivas contracoloniais acerca das diferentes práticas de letramentos vivenciadas pela participante. Com esse propósito, a etnografia se configurou como a abordagem metodológica mais alinhada à proposta, haja vista as aproximações epistemológicas estabelecidas com a percepção de letramento apresentada aqui. Na pesquisa etnográfica, importa não somente a linguagem, mas também as diversas questões que a envolvem, como as dimensões sociais, culturais, políticas e econômicas. Além disso, assim como nos Estudos do Letramento, o foco da etnografia é o contexto. Dito de outra forma, as questões que apareceram no campo compuseram este estudo, o qual, por sua vez, emergiu do próprio contexto em que foi realizado. Sendo assim, os resultados apontam, pois, para uma convocação às universidades para a efetivação da “confluência entre os saberes” (Santos, 2018), a fim de romper com a supremacia das bases eurocentradas, em direção a uma relação mais simétrica com bases pluriétnicas de fazeres científicos. Isso implica a necessidade de uma mudança de postura bem como a criação de espaços de escuta para que a academia possa não apenas ouvir-ler pensadoras/es e escritoras/es indígenas, negras/os e negras/os quilombolas, mas também se envolver e engajar com suas vozes.

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Biografia do Autor

  • Suety Líbia Alves Borges, UFRR

    Pós-doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Sociedade e Fronteiras, Universidade Federal de Roraima (UFRR), Boa Vista, RR - Brasil.

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Publicado

22.01.2025

Como Citar

BORGES, Suety Líbia Alves. Descolonizando a escrita acadêmica: práticas de letramentos a partir de perspectivas negrindígenas. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 19, p. e019003, 2025. DOI: 10.14393/DLv19a2025-3. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/76364. Acesso em: 30 maio. 2025.