Colonialidade e livros didáticos de língua portuguesa
silenciamento epistêmico dos povos subalternizados
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-6Palavras-chave:
Livros didáticos, Decolonialidade, Pedagogia Decolonial, Interculturalidade CríticaResumo
Os livros didáticos são um material fundamental para a prática docente em nosso país. Nesse sentido, este estudo investiga como o livro didático (LD) de Língua Portuguesa Português: linguagens, por meio das escolhas dos textos principais de cada capítulo realizadas por seus autores, pode contribuir para perpetuar discursos e visões colonialistas em nossa sociedade. Para tal, utilizamos como aporte teórico pensamentos sobre decolonialidade (Mignolo, 2007; 2010; Quijano, 2005; 2007; Maldonado-Torres, 2007), sobre pedagogia decolonial (Walsh, 2009; 2013) e sobre produção de livros didáticos (Oliveira, 2017). A partir de metodologia qualitativa, bibliográfica e documental (Minayo, 2010; Pádua, 1997), as análises realizadas nos levam a acreditar na fundamental importância de se colocar em prática o conceito de interculturalidade crítica (Walsh, 2007) na produção de materiais didáticos, além da necessidade de se formar professores que estejam aptos e dispostos a abrir gretas e fissuras na matriz colonial de poder. Assim, defendemos nesta pesquisa que é fulcral colocarmos nos LDs as diferenças em diálogo, em fricção, valorizando-as por meio do viés multicultural, transformando a ausência de saberes, o que chamamos de silenciamento epistêmico, em presença e em representatividade. Incluir, de forma equânime, textos de mulheres, negros, indígenas, população LGTBQIA+, quilombolas, ribeirinhos em livros didáticos é uma forma de resistência à Colonialidade do Poder e do Saber, uma forma de insurgência epistêmica e cultural à Matriz Colonial de Poder e aos seus modos de massacre e de subalternização dos povos do Sul global. Concluindo, acreditamos que é urgente que autores e editoras de LDs em nosso país tenham um olhar mais atento em relação à equidade nas escolhas dos textos, rompam com o que é imposto como cânone e deem visibilidade ao que é produzido pelos povos subalternizados, desse modo é fundamental o uso de “lentes decoloniais” na produção de LDs para que estes possam contribuir para a construção de outros modos de ver, viver, ser e sentir no mundo, sobretudo a partir do momento em que pluralizam seus discursos e promovem identificação e noção de pertencimento por parte de alunos e professores, seus clientes e consumidores.
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