Procedimentos metodológicos para a construção de epi-historiografias

o caso “Pires Ferreira (1868-1930)”

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-10

Palavras-chave:

Historiografia da Linguística, Epi-historiografia, Gramaticografia, Julio Pires Ferreira

Resumo

Situado na Historiografia da Linguística (HL), um campo disciplinar que investiga e narra a história dos conhecimentos e reflexões relacionados à linguagem e às línguas, este artigo tem por objetivo sistematizar alguns procedimentos metodológicos possíveis para a construção de “epi-historiografias” (Swiggers, 2010). Entende-se a epi-historiografia como uma atividade que resulta no material documental selecionado, organizado e descrito pelo historiógrafo da Linguística em apoio à sua prática interpretativa. Esse material determina, em grande medida, a natureza da pesquisa realizada (Altman, 2012) e costuma ser dividido em documentos originais para a observação e análise histórica (fontes primárias) e materiais biobibliográficos e contextuais sobre os textos, seus agentes e a atmosfera intelectual e sociocultural do período em que as ideias linguísticas surgiram e circularam (fontes secundárias). Dessa forma, é apresentado aqui o percurso epi-historiográfico realizado em Mesquita (2023), pesquisa que investigou as ideias gramaticográficas de Julio Pires Ferreira (1868-1930), professor e gramático que produziu instrumentos de ensino adotados em escolas pernambucanas entre os anos finais do século XIX e as três primeiras décadas do século XX. Além das consultas a acervos bibliográficos digitais de diferentes instituições, destacam-se outras estratégias que contribuíram com a disponibilidade e acessibilidade das fontes primárias da pesquisa: consultas a sistemas informatizados de bibliotecas e a buscadores digitais de livros; buscas por acervos que herdaram bibliotecas particulares de intelectuais contemporâneos a Pires Ferreira; pesquisas e aquisições de exemplares em sites de venda de livros; contatos com grupos de pesquisa com foco em estudos historiográficos; contatos com pesquisadores que referenciaram obras de Pires Ferreira em trabalhos acadêmicos; e contatos com descendentes de Pires Ferreira. A abundância e diversidade de estratégias envolvidas nesse percurso se revelaram bastante produtivas para alcançar uma documentação primária e secundária de pretensão exaustiva. Essas estratégias podem ser replicadas ou adaptadas por outros pesquisadores no processo de constituição e exploração de epi-historiografias. Alinhado ao interesse de constituir uma ciência cooperativa, o artigo se soma aos esforços empreendidos por Coelho (2021) para apresentar exemplos concretos de caminhos percorridos por pesquisas historiográficas com o intuito de trazer à cena aberta os bastidores que precedem a escrita da história do conhecimento linguístico.

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Biografia do Autor

  • Fábio Albert Mesquita, UFPB

    Doutorando em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Técnico em Assuntos Educacionais na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 

  • Francisco Eduardo Vieira, UFPB

    Doutor em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professor Adjunto III do Departamento de Língua Portuguesa e Linguística da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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Publicado

04.03.2025

Como Citar

MESQUITA, Fábio Albert; VIEIRA, Francisco Eduardo. Procedimentos metodológicos para a construção de epi-historiografias: o caso “Pires Ferreira (1868-1930)”. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 19, p. e019010, 2025. DOI: 10.14393/DLv19a2025-10. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/73542. Acesso em: 26 mar. 2025.