Uma Libras ou muitas Libras?
Apontamentos sociolinguísticos sobre línguas de sinais no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-9Palavras-chave:
Variação linguística, Contato linguístico, Línguas de sinais, Libras emancipada, Português SinalizadoResumo
Como toda língua, a Libras, língua brasileira de sinais, está sujeita a diversas formas de variação: diatópica, diacrônica, diafásica, diastrática e diaétnica. Entretanto, observamos uma outra forma relacionada ao contato de duas línguas, no caso a Libras e o Português: a variação diaglóssica (Monteagudo, 2011). Neste artigo, partindo da história da emergência da Libras desde a fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), analisamos o seu contato com o Português e como essa relação entre línguas produziu variedades diaglóssicas, com maiores ou menores influências de cada uma dessas línguas. Considerando o conceito de continuum linguístico e analisando diversos trabalhos relacionados ao contato entre essas duas línguas, levantamos e elencamos algumas características dos dois extremos de um continuum diaglóssico, um com maior influência do Português e menor da Libras e outro maior influência da Libras e menor do Português. Foi observado, então, que nesse primeiro extremo do continuum estaria uma variedade próxima ao Português Sinalizado com mais empréstimos da língua portuguesa, maior uso de datilologia e de mouthing, além da linearidade, o que resultaria em uma menor utilização de sinais incorporados. Já na outra extremidade, a com variedades mais próximas da Libras, entre elas a Libras emancipada, haveria maior uso da simultaneidade e da espacialidade, além de mais expressões faciais e corporais, classificadores e soletração rítmica. Buscamos com este trabalho, reforçar a existência de muitas variedades da Libras e mostrar que essas variedades diaglóssicas são resultados da diversidade própria da(s) comunidade(s) Surda(s). A heterogeneidade é uma característica intrínseca às línguas, e a Libras não é exceção. É fundamental combater o preconceito linguístico e a discriminação contra essas variedades, reconhecendo a riqueza e a diversidade da Libras. Afinal, todas essas variedades apresentam gramáticas complexas e completas e fazem parte da expressão da(s) cultura(s) e da(s) identidade(s) Surda(s) no Brasil.
Downloads
Referências
ADAM, R. Language contact and borrowing. In: PFAU, R.; STEINBACH, M.; WOLL, B. (org.). Sign language: an international handbook. Berlim: Mouton de Gruyter, 2012. DOI https://doi.org/10.1515/9783110261325.841
ANDRADE, W. T. L. Variação fonológica da Libras: um estudo sociolinguístico de comunidades Surdas da Paraíba. Tese (Doutorado em Linguística) – Departamento de Linguística, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/tede/6416.
ANN, J. Bilingualism and language contact. In: LUCAS, C. (ed.). The sociolinguistics of sign languages. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511612824.005
BAGNO, M. Dicionário crítico de sociolinguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2017.
BARBOSA DA SILVA, D. Contato linguístico e influências de línguas orais na Libras: uma análise a partir do léxico da Língua Brasileira de Sinais. Revista do GELNE, v. 25, n. 1, 2023. DOI https://doi.org/10.21680/1517-7874.2023v25n1ID31279
BAYLEY, R.; SCHEMBRI, A. C.; LUCAS, C. Variation and chance in sign languages. In: SCHEMBRI, A. C.; LUCAS, C. Sociolinguistics and deaf communities. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9781107280298
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm.
BRITO, K. F. S.; MOREIRA, A. S.; MOREIRA, D. K.; NASCIMENTO, C. B.; AVELAR, T. F. Regionalizações e variações linguísticas existentes na língua brasileira de sinais – Libras. In: REUNIÃO ANUAL DA SBPC, 63, 2011, Goiânia. Anais/Resumos da 63ª Reunião Anual da SBPC. São Paulo: SBPC/UFG, 2011. Disponível em: http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/resumos/resumos/1245.htm.
DANTAS, C. R. S. Variações linguísticas em Libras: um estudo das variações diatópicas das cidades de Macaé e Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) – Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos, 2018. Disponível em: http://www.pgcl.uenf.br/arquivos/2018_cristiane_dissertacaopgclLibras_020920191542.pdf.
DINIZ, H. G. A história da Língua de Sinais dos Surdos brasileiros: um estudo descritivo de mudanças fonológicas e lexicais da Libras. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2011.
ESPÍNDOLA, A. J. Variação linguística na Libras: estudo de sinais de Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC). Dissertação (Mestrado em Letras) – Núcleo de Ciências Humanas, Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho, 2018. Disponível em: https://mestradoemletras.unir.br/uploads/91240077/Dissertacoes%20defendidas/Turma%202016/2.%20Amarildo.pdf.
GESSER, A. Libras, que língua é essa? São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
GOMES, J. C. ; VILHALVA, S. As línguas de sinais indígenas em contextos interculturais. Curitiba: Editora CRV, 2021.
GOROVITZ, S.; DUARTE, L. R. Uma análise sociolinguística do fenômeno de contato de línguas de code-blending no par linguístico Libras-Português. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 23, n. 4, out./dez. 2020. DOI https://doi.org/10.15210/rle.v23i4.19021
HOLM, J. An introduction to pidgins and creoles. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9781139164153
JOHNSTON, T.; SCHEMBRI, A. Australian sign language: an introduction to sign language linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511607479
LÔBO, P. K. S. K. O uso dos espaços mantais na construção de textos argumentativos em Libras. In: 25ª Jornada Nacional do GELNE – Grupo de Estudos Linguísticos e Literários do Nordeste, Natal, 2014. Disponível em: http://www.gelne.com.br/arquivos/anais/gelne-2014/anexos/290.pdf.
LUCAS, C.; VALLI, C. Language contact in the American deaf community. San Diego: CA Academic Press, 1992. DOI https://doi.org/10.1163/9789004653337
OLIVEIRA-SILVA, C. M.; CHAVEIRO, N. A influência da língua portuguesa na produção da Libras na perspectiva de translinguagem. Revista Sinalizar, Goiânia, v. 2, n.2, jul.- dez., 2017. DOI https://doi.org/10.5216/rs.v2i2.36080
PERLIN, G. T.T. Identidades Surdas. In: SKLIAR C. (org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 1998.
QUADROS, R. M. Educação de Surdos. Porto Alegre: Artmed, 1997.
MASSONE, M. I.; MARTÍNEZ, R. A. Argentine Sign Language. In: JEPSEN, J. ; DE CLERCK, G.; LUTALO-KIINGI, S.; MCGREGOR, W. B. (ed.). Sign Languages of the World: A Comparative Handbook. Berlim: De Gruyter Mouton, 2015.
MATRAS, Y. Language contact. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511809873
MONTEAGUDO, H. Variação e norma linguística: subsídios para uma (re)visão. In: LAGARES, X.; BAGNO, M. (org.). Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.
MONTEIRO, M. S. A interferência do Português na análise gramatical em Libras. Curitiba: Appris Editora, 2021.
MORAES, F. F. da S. Variantes geográficas da Libras: análise dos sinais para meses em Goiás e Mato Grosso do Sul. Revista Sinalizar, v. 3, n. 2, jul./dez. 2018. DOI https://doi.org/10.5216/rs.v3i2.55564
OLIVEIRA, P. C. Curso de Capacitação de Tradução e Interpretação de Libras e Português (Aula do curso). São Paulo: Feneis, 2023.
QUADROS, R. M. Libras. São Paulo: Parábola Editorial, 2019.
QUINTO-POZOS, D.; ADAM, R. Sign languages in contact. In: SCHEMBRI, A. C.; LUCAS, C. Sociolinguistics and deaf communities. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9781107280298.003
REAGAN, T. G. Language policy and planning for sign languages. Washington: Gallaudet University Press, 2010.
ROCHA, M. S. O INES e a Educação de Surdos no Brasil: Aspectos da trajetória do Instituto Nacional de Educação de Surdos em seu percurso de 150 anos. Rio de Janeiro: INES, 2008.
RODRIGUES, A.; SILVA, A. A. Reflexões sociolinguísticas sobre a Libras (Língua Brasileira de Sinais). Estudos Linguísticos, v. 46 (2), São Paulo, 2017. DOI https://doi.org/10.21165/el.v46i2.1673
RUBIO, C. F.; SOUZA, J. C. Perfil sociolinguístico dos Surdos de São Carlos: o bilinguismo bimodal Libras/língua portuguesa. Signótica, v. 33, 2021. DOI https://doi.org/10.5216/sig.v33.68412
SANTOS, A. N. M. dos. A língua brasileira de sinais na educação de Surdos: língua de instrução e disciplina curricular. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. DOI https://doi.org/10.1590/0102-4698288663
SANTOS, A. N. M.; SOFIATO, C. G. A educação de Surdos no século XIX e circulação da língua de sinais no Imperial Instituto de Surdos-Mudos. Educação em Revista, v. 36, Belo Horizonte, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/edrevista/article/view/32635.
SANTOS, W. J. Sobre nomes e verbos na interlíngua de Surdos brasileiros. Curitiba: Editora CRV, 2019. DOI https://doi.org/10.24824/978854443690.5
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Editora Cultrix, 2006 [1916].
SCHERMER, T. Language variation and standardization. In: BAKER, A.; BOGAERDE, B. V. D.; PFAU, R.; CHERMER, T. The linguisticas of sign languages: an introduction. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2016.
SCHERMER, T.; PFAU, R. Language contact and change. In: BAKER, A.; BOGAERDE, B. V. D.; PFAU, R.; CHERMER, T. The linguisticas of sign languages: an introduction. Amsterdã: John Benjamins Publishing Company, 2016.
SCHMITT, D. A história da língua de sinais em Santa Catarina: contextos sócio-históricos e sociolinguísticos de Surdos de 1946 a 2010. Tese (Doutorado), Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/107108.
SILVA, D. S.; QUADROS, R. M. Línguas de sinais de comunidades isoladas encontradas no Brasil. Brazilian Journal of Development, v. 5, n. 10, 2019. DOI https://doi.org/10.34117/bjdv5n10-342
SILVA, R. C. da. Indicadores de formalidade no gênero monológico em Libras. Dissertação (Mestrado em Linguística). Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/122823.
SILVA, S. G. L. Variação sociolinguística: estudo de caso na língua brasileira de sinais. Revista Línguas & Letras, v. 15, n. 31, 2014. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/10554.
TEMÓTEO, J. G. Diversidade linguístico-cultural da língua de sinais do Ceará: um estudo lexicológico das variações da Libras na comunidade de Surdos do sítio caiçara. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2008. Disponível em: https://docplayer.com.br/24131925-Universidade-federal-da-paraiba-centro-de-ciencias-humanas-letras-e-artes-programa-de-pos-graduacao-em-letras-janice-goncalves-temoteo.html.
XAVIER, A. N. Panorama da variação sociolinguística em línguas sinalizadas. Claraboia, v. 12, jul./dez., Jacarezinho, 2019. Disponível em: .https://seer.uenp.edu.br/index.php/claraboia/article/view/1538.
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. I. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2006 [1968].
WOLL, B.; SUTTON-SPENCE, R.; ELTON, F. Multilingualism: the global approach to sign languages. In: LUCAS, C. (ed.). The sociolinguistics of sign languages. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511612824.004
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Diego Barbosa da Silva

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos da licença Creative Commons
CC BY-NC-ND 4.0: o artigo pode ser copiado e redistribuído em qualquer suporte ou formato; os créditos devem ser dados ao autor original e mudanças no texto devem ser indicadas; o artigo não pode ser usado para fins comerciais; caso o artigo seja remixado, transformado ou algo novo for criado a partir dele, o mesmo não pode ser distribuído.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.