“Ouviu em busca de lacunas”
O ressentimento em Amada, de Toni Morrison
DOI:
https://doi.org/10.14393/LL63-v36n2-2020-17Palavras-chave:
Toni Morrison, Amada, Ressentimento, Friedrich Nietzsche, Jean AméryResumo
À luz das teorizações de Friedrich Nietzsche sobre a origem moral do ressentimento, apresento uma análise das representações do afeto no romance Amada (1987), de Toni Morrison. Na casa de número 124 da Rua Bluestone, o rancor assume a forma do corpo de uma jovem morta-viva; instalada nesse espaço como moradora, ela ganha peso, paralisa o tempo e impede que os outros habitantes da casa sigam em frente. Ao colocar em cena o passado escravocrata dos Estados Unidos, a presença do ressentimento na narrativa convoca e, ao mesmo tempo, desloca as elaborações teóricas propostas por Nietzsche. O ressentimento é um afeto que envenena, que nega qualquer acerto de contas, que atualiza o passado e impede os mortos de morrer definitivamente. Entretanto, em face das atrocidades históricas, e em sintonia com Jean Améry (1977), talvez o caminho possível para não repetir os mesmos erros seja o de, às vezes, permitir-se envenenar.
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