A língua portuguesa em São Tomé e Príncipe
pluricentrismo, colonialidade e ensino
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv17a2023-59Palavras-chave:
Português de São Tomé e Príncipe, Pluricentrismo, EnsinoResumo
Este artigo aborda o pluricentrismo da língua portuguesa, focando na presença do idioma em São Tomé e Príncipe (STP). A norma linguística do português dotada de prestígio em STP, reforçada pelo governo e ensino, é a do Português de Portugal, ainda que o português de STP (PSTP) tenha características únicas, surgidas, sobretudo, da vivência com as línguas crioulas e da transmissão irregular do idioma. Ao analisar alguns dados históricos, documentos oficiais e práticas de ensino relevantes, entende-se que o projeto colonial de supressão das identidades linguísticas firmado em STP não só foi central na construção da realidade linguística do arquipélago, mas também persiste no apagamento da diversidade linguística local e na desvalorização atribuída às variedades de língua portuguesa de STP, vistas negativamente pelos próprios falantes. Essas normas consideradas desviantes, que reafirmam o pluricentrismo do português, são ignoradas na legislação educativa e nos manuais empregados, conquanto estudantes e professores apresentem dificuldades com a norma alvo. Ademais, a demanda por ajuda externa de STP, especificamente na produção de material didático e formação docente, contribui para um cenário de monocentrismo e de práticas monocêntricas e mutiladoras.
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