Neologismos formados por composição neoclássica
padrões, morfologia e crítica cultural
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-50Palavras-chave:
Composição neoclássica, Neologia, Morfologia construcional, Extração automática de neologismos, Cultura digitalResumo
O presente artigo tem como objetivo analisar um subconjunto de neologismos formados pelo processo de composição neoclássica, considerando-se, principalmente, seus aspectos morfossemânticos. A composição neoclássica caracteriza-se por apresentar, em ao menos um de seus formantes, um elemento de origem erudita, geralmente grega ou latina. Tradicionalmente restritos às línguas de especialidade, os compostos neoclássicos passaram a se expandir para a língua geral, sobretudo em criações recentes. Muitas dessas construções, como blablablâmetro, mamatocracia e machosfera surgem em tom humorístico e irônico e refletem a alta produtividade dos elementos eruditos na criação de novos compostos, principalmente em gêneros do ambiente digital. A fundamentação teórica do trabalho pauta-se nos estudos de Booij (2007), Cabré (2015), Gonçalves e Almeida (2014), Hayashi (2024), Nóbrega (2013), Pruvost e Sablayrolles (2019), Rio-Torto et al. (2013), entre outros, e discute, principalmente, os padrões de estruturação dos compostos neoclássicos, a complexidade na distinção dos formantes eruditos enquanto elementos de composição ou de derivação e a representação dessas unidades em esquemas construcionais. A metodologia do trabalho inclui: (i) o levantamento dos corpora de estudo (2020 a 2025) e de exclusão (2007 a 2019), feito de forma automática via web scraper em portais jornalísticos; (ii) o contraste entre os dois corpora, feito automaticamente por um Extrator de neologismos; (iii) a validação manual das unidades neológicas, de acordo com critérios preestabelecidos, a partir da lista de candidatos gerada pelo Extrator; e (iv) a análise das unidades. Os resultados mostram o comportamento dos compostos neoclássicos considerando-se aspectos como a recorrência de determinados radicais em posições específicas do composto, a possibilidade de formação de estruturas complexas com dois, três ou mais radicais, as capacidades combinatórias dos radicais e as possibilidades de derivação e truncamento. As ocorrências dos compostos [X-fobia] e [tele-Y] encontradas no corpus são inseridas em redes construcionais, de modo a refletir sobre como os falantes identificam padrões e produzem, por analogia, novas formações que combinam radicais neoclássicos com unidades vernáculas. Observa-se, a partir da análise dos dados como um todo, uma convergência entre os processos morfológicos e a crítica extralinguística, que faz alusão irônica a comportamentos e a fenômenos culturais da era digital.
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