Frames Morais e Ética em Star Trek
uma leitura Cognitiva-Discursiva
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-47Palavras-chave:
Frames, Frame moral, Star Trek, Moralidade, DiscursoResumo
Este artigo investiga, à luz da teoria dos Frames Morais (Lakoff, 2004; 2008), os fundamentos ético-discursivos que estruturam o universo ficcional da franquia Star Trek. Compreendendo a linguagem como sistema cognitivo-ideológico, a pesquisa adota como referencial principal a Semântica de Frames (Fillmore, 1976; 1982), especialmente no que tange à noção de que as palavras e construções mobilizam redes de conhecimento culturalmente situado. O objetivo é descrever e interpretar como determinadas situações narrativas revelam a ativação de modelos parentais, o Pai Severo (Strict Father) e o Pai Amoroso (Nurturant Parent), que estruturam decisões morais dentro da diegese da Frota Estelar, revelando a presença de disputas morais que ultrapassam os limites do discurso ficcional. O corpus analítico constitui-se de três episódios da série selecionados: um que exemplifica o Pai Amoroso, um centrado no Pai Severo e outro que encena um processo de reframing (Lakoff, 2004) entre ambos os modelos. A análise se insere em um paradigma qualitativo de orientação interpretativista (Silverman, 2000) e adota o procedimento metodológico do paradigma indiciário (Ginzburg, 1989), buscando vestígios linguísticos, narrativos e ideológicos que apontem para estruturas morais profundas, operantes no nível da cognição corporificada (Barsalou, 2008). Como ferramenta auxiliar, elaborou-se um quadro síntese com os principais princípios éticos reiterados ao longo da narrativa da Frota, servindo como guia comparativo nos estudos de caso. Os resultados sugerem que os frames morais, enquanto esquemas interpretativos estruturais, funcionam como chaves para a compreensão das escolhas dos personagens, da organização discursiva e da encenação de valores em tensão. A utopia federativa de Star Trek, embora ancorada em valores iluministas, apresenta fissuras discursivas onde o pragmatismo hierárquico e o idealismo empático disputam espaço, revelando que a moralidade no universo diegético é, antes de tudo, uma construção linguística, política e cultural. Ao demonstrar a produtividade do modelo dos frames morais para a análise de obras ficcionais, este estudo contribui com um instrumento teórico-metodológico para o campo da linguística cognitiva crítica.
Downloads
Referências
BARSALOU, L. W. Cognitive Psychology: An Overview for Cognitive Scientists. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1992.
BARSALOU, L. W. Grounded cognition. Annual Review of Psychology. California, v. 59, n. 01 p. 617-645, 2008. DOI https://doi.org/10.1146/annurev.psych.59.103006.093639
BARTLETT, F. C. Remembering: A Study in Experimental and Social Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 1932. DOI https://doi.org/10.1111/j.2044-8279.1933.tb02913.x
DUQUE, P. H. Discurso e cognição: uma abordagem baseada em frames. Revista da ANPOLL. Florianópolis, v.1, n.39, p. 25-48. 2015. DOI https://doi.org/10.18309/anp.v1i39.902
FILLMORE, C. Frame semantics and the nature of language. In: HARNAD, S. R.; STEKLIS, H. D.; LANCASTER, J. (ed.). Origins and evolution of language and speech. Nova York: New York Academy of Sciences, 1976.
FILLMORE, C. Frame Semantics. In: Linguistics in the morning calm: the linguistic society of Korea (ed.). Seoul : Hanshin, 1982. DOI https://doi.org/10.1515/9783110199901.373
GEERTZ, C. The Interpretation of Cultures: Selected Essays. Nova York: Basic Books, 1973.
GINZBURG, C. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. Tradução de Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 143–179.
GOFFMAN, E. Frame Analysis: An Essay on the Organization of Experience. Nova York: Harper & Row, 1974.
HAIDT, J. The righteous mind: why good people are divided by politics and religion. Nova York: Pantheon Books, 2012.
JOHNSON, M. Moral imagination: implications of cognitive science for ethics. Chicago: University of Chicago Press, 1993.
KANT, I. Resposta à Pergunta: Que é o Esclarecimento? E outros textos. Tradução de Estevão C. de Rezende Martins. São Paulo: Penguin-Companhia das Letras, 2022.
LAKOFF, G. Don’t Think of an Elephant! Know Your Values and Frame the Debate. White River Junction, VT: Chelsea Green Publishing, 2004.
LAKOFF, G. The Political Mind: Why You Can’t Understand 21st-Century Politics with an 18th-Century Brain. Nova York: Viking, 2008.
LAKOFF, G. Moral Politics: How Liberals and Conservatives Think. 3. ed. Chicago: The University of Chicago Press, 2016. DOI https://doi.org/10.7208/chicago/9780226411323.001.0001
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: University of Chicago Press, 1980.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Philosophy in the Flesh: The Embodied Mind and Its Challenge to Western Thought. Nova York: Basic Books, 1999.
LEANDRO, E. G.; PASSOS, C. L. B. O Paradigma Indiciário Para Análise de Narrativas. Educar Em Revista. Curitiba, v. 37, p.1-28, 2021. DOI https://doi.org/10.1590/0104-4060.74611
MANDLER, J. M. Foundations of Mind: The Origins of Conceptual Thought. Oxford: Oxford University Press, 2004.
MENARY, R. Pragmatism and the Pragmatic Turn in Cognitive Science. In: ENGEL, A. K., FRISTON, K. J.; KRAGIC, D. (ed). The Pragmatic Turn: Toward Action-Oriented Views in Cognitive Science. Strüngmann Forum Reports, vol. 18. Cambridge: MIT Press, 2016. p. 219-236.
MINSKY, M. A. framework for representing knowledge. In: WINSTON, P. H. (ed.). The Psychology of Computer Vision. Nova York: McGraw-Hill, 1975.
O’NEILL, E. Electra Enlutada. Tradução de R. Magalhães Júnior e Miroel Silveira. Rio de Janeiro: Bloch,1970.
RUMELHART, D. E. Schemata: the building blocks of cognition. In: ANDERSON, R. J.; SPIRO, R. J.; MONTAGUE, W. E. (org.). Schooling and the acquisition of knowledge. Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1977. p. 33-58.
SCHANK, R. C.; ABELSON, R. P. Scripts, Plans, Goals, and Understanding: An Inquiry into Human Knowledge Structures. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, 1977.
SILVERMAN, D. Doing Qualitative Research: A Practical Handbook. Londres: Sage Publications, 2000.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Eduardo Alves Da Silva

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos da licença Creative Commons
CC BY-NC-ND 4.0: o artigo pode ser copiado e redistribuído em qualquer suporte ou formato; os créditos devem ser dados ao autor original e mudanças no texto devem ser indicadas; o artigo não pode ser usado para fins comerciais; caso o artigo seja remixado, transformado ou algo novo for criado a partir dele, o mesmo não pode ser distribuído.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.


