Ler para dar sentido às experiências
análise dos significados produzidos por adolescentes sobre suas leituras
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-36Palavras-chave:
Letramento, Leitura, Prática social, AdolescentesResumo
O objetivo deste artigo é compreender qual é o papel da leitura para adolescentes do ensino médio e sua influência na forma como compreendem a realidade e a si mesmos. Para isso, foram analisados textos escritos por um grupo de estudantes de um Instituto Federal localizado na região metropolitana de Porto Alegre, como apresentação de suas coletâneas literárias, buscando identificar e analisar os temas que surgiram nesses textos e discutir seu entrelaçamento com as obras literárias e o universo dos jovens. Após a leitura dos textos resultantes da proposta, utilizou-se a análise temática para identificar quais temas emergiam dos textos e de que forma se relacionavam à prática de leitura experenciada pelos participantes. A análise mostrou que as práticas de letramento desse grupo funcionam como uma forma de entender a própria realidade e, também, relacionar-se com sentimentos e emoções próprios da adolescência. No entanto, mais do que observar qual sentido individual a leitura adquire para cada um dos jovens, entende-se que a forma como os estudantes significam suas leituras é representativa desse grupo social, já que eles buscam relacionar suas escolhas literárias com questões que lhes são caras no momento, principalmente no que tange a sentimentos e emoções. Essas relações, que ultrapassam o livro e o leitor, estão inseridas no que Goulemot (2011) chama de “fora-do-texto”, que compreende uma série de fatores que confere à leitura um caráter social, observável na forma como grupos se relacionam com o escrito e atribuem sentidos às leituras. Esse entendimento está presente também nos estudos de Chartier (2011, 2022) e Street (2014), ao reconhecerem que, como uma prática linguística, a leitura não pode ser entendida desvinculada do seu caráter social. Dessa forma, entende-se que as práticas de letramento devem ser compreendidas como socioculturais, e seu estudo não pode ficar restrito às práticas escolares, pois as vivências possibilitadas pela leitura ultrapassam os muros da escola.
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