Corpos com deficiência performatizados na/pela língua(gem)
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-29Palavras-chave:
Capacitismo, Corpo, Discurso, Performatividade, DiferençaResumo
A deficiência transcende uma condição física, mental, intelectual ou sensorial, impactando profundamente os âmbitos social, político e cultural. Apesar de avanços significativos em leis, políticas públicas e programas de conscientização, persistem barreiras enraizadas em atitudes, mentalidades e discursos capacitistas que limitam a plena inclusão das pessoas com deficiência. Esses preconceitos manifestam-se, frequentemente, na forma como os corpos são vistos e representados por não atenderem aos padrões estéticos normativos. Este artigo tem como objetivo discutir como os corpos com deficiência são performatizados pela linguagem, considerando-os como construções discursivas moldadas por termos e enunciados historicamente capacitistas. Os sujeitos são concebidos a partir de como seus corpos, aparentes ou não, são lidos e interpretados no discurso, em uma relação de poder que reforça a normatividade e a exclusão de corpos “defeituosos” ou “problemáticos”. A análise busca compreender como a linguagem, atravessando os corpos nas relações discursivas, os performatiza em sua materialidade estética e em relação à língua. Nesse processo, a constituição do sujeito pela língua reflete as limitações impostas por barreiras sociais, retratando relações assimétricas de poder, onde aqueles que se consideram "normais" coisificam corpos desviantes como portadores de falhas. Ao mesmo tempo, reconhece-se a importância de esforços sociais para promover equidade e diversidade, ampliando também a reflexão sobre a necessidade de uma transformação na língua(gem) para que ela respeite e valorize as diferenças. A análise fundamenta-se em uma perspectiva discursiva de base bakhtiniana (Bakhtin, 2011), articulada à teoria da performatividade de Judith Butler (2000; 2020; 2021) e aos estudos críticos da deficiência. Dialoga-se também com contribuições de Millett-Gallant (2010; 2017), Hashiguti (2016) e Hashiguti e Magalhães (2009), que permitem compreender como os corpos com deficiência são performatizados estética e simbolicamente na/pela língua(gem), em meio a relações de poder, normatividade e exclusão social. Adicionalmente, imagens foram escolhidas como ponto de partida para explorar a relação entre corpo, língua(gem) e performatização, destacando como os corpos são esteticamente objetificados e discursivamente constituídos, com base em categorias que perpetuam exclusões sociais. Assim, o artigo convida à reflexão sobre as transformações necessárias na língua(gem) e no olhar discursivo, ampliando o entendimento da deficiência como uma questão complexa que envolve não apenas mudanças estruturais, mas também discursivas e culturais.
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