Passos de tipo metodológico na escrita de dissertações na área de Análise do Discurso
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-13Palavras-chave:
Gêneros textuais, Ensino superior, Escrita acadêmicaResumo
Neste artigo, temos o objetivo de analisar como os mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Piauí (PPGeL/UFPI) da cultura disciplinar da subárea de Análise do Discurso utilizam passos retóricos de tipo metodológico ao longo das seções de suas dissertações. Pretendemos investigar o gênero dissertação pelas seguintes razões: (i) a produção do gênero dissertação é importante para a carreira acadêmica já que é necessária para a obtenção do título de mestre. O processo de produção, arguição e defesa de uma dissertação funciona como um “portão” de passagem para um nova fase na carreira acadêmica; (ii) os acadêmicos que precisam produzir uma dissertação geralmente ainda são relativamente iniciantes e, muitas vezes, “não se sentem seguros para (ou ainda não dispõem de uma metalinguagem que lhes permita) refletir criticamente sobre o discurso, as práticas e os gêneros aceitos dentro da comunidade na qual estão ingressando” (Figueiredo; Bonini, 2006, p. 442) e (iii) as pesquisas acerca desse gênero numa perspectiva sociorretórica, em contexto brasileiro, ainda são relativamente escassas. Uma das nossas questões é: por que temos passos de tipo metodológico em seções que não são a de Metodologia? Para responder a essa pergunta, analisamos, à luz dos estudos sociorretóricos de gêneros (Swales, 1990; 2004; 2016; Askehave; Swales, 2001; Hyland, 2004; 2015; 2018), um corpus composto de 8 dissertações, produzidas no referido Programa de Pós-Graduação. Após a análise, observamos uma presença expressiva de passos de tipo metodológico na seção de Introdução. Além disso, observamos que, embora haja passos típicos de certas seções, esses passos não são exatamente exclusivos delas. Isso aponta para uma estrutura composicional complexa, já que a presença expressiva de passos na seção Introdução, mas cuja função se relaciona à metodologia, questiona as fronteiras das seções, embora também as confirme, uma vez que verificamos a presença das seções típicas de trabalhos acadêmicos no corpus, mesmo que nomeadas de outras maneiras. Entendemos que o ensino de escrita acadêmica no contexto do pós-graduação deve considerar essa complexidade.
Downloads
Referências
ALVES FILHO, F. Como mestrandos agem retoricamente quando precisam justificar suas pesquisas. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 18, . 1, p. 131-158, 2018. DOI https://doi.org/10.1590/1984-6398201812071
ALVES FILHO, F.; RIO LIMA, C. Estratégias sociorretóricas para proposição de pesquisa na cultura disciplinar de química: uma análise de projetos de pesquisa de experts. Revista da Anpoll, v. 51, n. 2, p. 139–152, 2020. DOI https://doi.org/10.18309/anp.v51i2.1393
ASKEHAVE, I.; SWALES, J. Genre identification and communicative purpose: a problem and a possible solution. Applied Linguistics, v. 22, n. 2, p. 195-212, 2001. Disponível em: https://academic.oup.com/applij/article-abstract/22/2/195/195286.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2016. p. 11-69. DOI https://doi.org/10.22456/2594-8962.70365
BATISTA JR., J.; SATO, D.; MELO, I. Análise de discurso crítica para linguistas e não linguistas. São Paulo: Parábola Editorial, 2018.
BERNARDINO, C.; ABREU, N. A unidade retórica de metodologia em artigos empíricos da cultura disciplinar da área de psicologia: uma investigação sociorretórica. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v. 18, n. 4, p. 887-918, 2018. DOI http://dx.doi.org/10.1590/1984-6398201812954
BERNARDINO, C.; COSTA, R. A introdução de artigos acadêmicos e as diferenças entre culturas disciplinares. Intersecções, v. 9, n. 18, p. 151-170, 2016. Disponível em: https://revistas.anchieta.br/index.php/RevistaInterseccoes/article/view/1258.
BEZERRA, B. O gênero como ele é (e como não é). São Paulo: Parábola Editorial, 2022.
BRASILEIRO, A. Como produzir textos acadêmicos e científicos. São Paulo: Contexto, 2021.
CAVALCANTE, S. Análise retórica da seção considerações finais do gênero dissertação de mestrado das áreas de letras e matemática. 2022. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Estadual do Piauí, Programa de Mestrado Acadêmico em Letras, 2022.
COSTA, R. L. Culturas disciplinares e artigos acadêmicos experimentais: um estudo comparativo da descrição sociorretórica. 2015. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará, 2015.
FIGUEREDO, D.; BONINI, A. Práticas discursivas e o ensino do texto acadêmico: concepções de alunos de mestrado sobre a escrita. Linguagem em (Dis)curso, v. 6, n. 2, p. 413-446, 2006. DOI https://doi.org/10.1590/1982-4017-06-03-04
FONTINELE, S. Estratégias retóricas: uma análise da seção de introdução do gênero dissertação de mestrado nas áreas de letras e matemática. 2022. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Estadual do Piauí, Programa de Mestrado Acadêmico em Letras, Teresina, 2022.
HYLAND, K. Disciplinary discourses: social interactions in academic writing. Michigan: The University of Michigan Press, 2004.
HYLAND, K. Genre, discipline and identity. Journal of English for Academic Purposes, v. 19, p. 32-43, 2015. DOI https://doi.org/10.1016/j.jeap.2015.02.005
HYLAND, K. Disciplinas e discursos: interações sociais na construção do conhecimento. In: DIEB, M. (org.). A aprendizagem e o ensino da escrita: desafios e resultados em experiências estrangeiras. Campinas: Pontes Editores, 2018.
MARCUSCHI, L. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MONTEIRO, B.; ALVES FILHO, F. Organização retórica da seção metodologia do gênero projeto de pesquisa: uma análise de projetos na área de Linguística. Linguagem em Foco, v. 10, n. 1, p. 13-26, 2018. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/1185.
MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola, 2010.
LIMA DE OLIVEIRA, J.; ALEXANDRE, L. Como mestrandos de linguística agem retoricamente quando elaboram sua identificação do problema de pesquisa. Letras em Revista, Teresina, v. 11, n. 1, p. 219-235, 2020. Disponível em: https://ojs.uespi.br/index.php/ler/article/view/235.
PAIVA, F. Uma análise sociorretórica de conclusões de dissertações de mestrado escritas por pesquisadores da cultura (inter)disciplinar em História e Letras. Revista Porto das Letras, Palmas, v. 5, n. 2, p. 136-161, 2019. DOI https://doi.org/10.29327/2.1373.1-13
PAIVA, F. Configuração das unidades sociorretóricas em considerações finais de dissertações no curso de mestrado em Letras. Humanidades & Inovação, v. 8, n. 36, p. 278-300, 2021. Disponível em: https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/3346.
PAIVA, F.; DUARTE, A. Uma organização retórica da seção de metodologia em artigos acadêmicos escritos por estudantes do curso de letras na perspectiva dos estudos linguísticos. Form@re, v. 6, n. 1, p. 102-123, 2018. DOI https://doi.org/10.22481/lnostra.v6i1.13206
RITTI-DIAS, F.; BEZERRA, B. Análise retórica de introduções de artigos científicos da área da saúde pública. Revista Horizontes de Linguística Aplicada, Brasília, v. 12, n. 1, p. 163-182, 2013. DOI https://doi.org/10.26512/rhla.v12i1.1238
ROCHA, C.; ALVES FILHO, F. Estratégias retóricas utilizadas por mestrandos da subárea de Análise do Discurso quando escrevem a metodologia de suas dissertações. Revista Cocar, Belém, v. 2, 2023. Disponível em: https://periodicos.uepa.br/index.php/cocar/article/view/6696.
ROCHA, C.; SOUSA, C. Como mestrandos escrevem as seções de considerações finais nas áreas de Linguística e Políticas Públicas. Entrepalavras, Fortaleza, v. 13, n. 2, p. 25-46, 2023. DOI https://doi.org/10.22168/2237-6321-22651
SILVA, A.; BERNARDINO, C.; VALENTIM, D. A construção sociorretórica da seção de Introdução em artigos acadêmicos de Linguística Aplicada. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v. 59, n. 1, p. 686–714, 2020. DOI https://doi.org/10.1590/010318135375015912020
SILVA, T.; PACHECO, J. A configuração retórica da seção de introdução em artigos acadêmicos da área de educação física. Revista de Letras, Maringá, v. 21, n. 32, p. 1-20, 2019. DOI http://dx.doi.org/10.3895/rl.v20n31.8666
SILVA, J. C.; ARAÚJO, A. A metodologia de pesquisa em análise do discurso. GrauZero: Revista de Crítica Cultural, v. 5, n. 1, p. 17-31, 2017. DOI https://doi.org/10.30620/gz.v5n1.p17
SILVA, R.; ANJOS, M. A pós-graduação em Letras na UFPI (2004-2014): da criação do Mestrado ao desenvolvimento da produção linguística. Revista Abralin, v. 20, n. 3, 2021. DOI https://doi.org/10.25189/rabralin.v20i3.1900
SWALES, J. Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
SWALES, J. Research genres: explorations and applications. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9781139524827
SWALES, J. Reflections on the concept of discourse community. Asp, [S.l.], n. 69, p. 7-19, 2016. DOI https://doi.org/10.4000/asp.4774
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI). Manual de normalização de monografia, dissertação e tese. Teresina: UFPI, 2020.
YANG, R.; ALLISON, D. Research articles in applied linguistics: moving from results to conclusions. English for Specific Purposes, [S.l.], v. 22, p. 365-385, 2003. DOI https://doi.org/10.1016/S0889-4906(02)00026-1
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Carlos Eduardo Mourão da Rocha, Francisco Alves Filho

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos da licença Creative Commons
CC BY-NC-ND 4.0: o artigo pode ser copiado e redistribuído em qualquer suporte ou formato; os créditos devem ser dados ao autor original e mudanças no texto devem ser indicadas; o artigo não pode ser usado para fins comerciais; caso o artigo seja remixado, transformado ou algo novo for criado a partir dele, o mesmo não pode ser distribuído.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.