Possibilidades de uso de acervos de dados do português brasileiro em Fonética Forense
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-16Palavras-chave:
Fonética, Fonética Forense, Criminalística, Acervos de dadosResumo
Este trabalho tem como objetivo realizar um levantamento dos acervos de dados de língua e fala do português do Brasil e analisar seu potencial de aplicação em tarefas de fonética forense, em especial a comparação de locutor. Foram identificados 45 acervos de dados de fala de diferentes regiões brasileiras, obtidos por meio de consulta a especialistas em sociolinguistas e dialetologia, além de pesquisa em fontes bibliográficas. A avaliação do potencial de uso destes acervos para os propósitos da fonética forense baseou-se em um questionário que abordou, entre outros aspectos, as características gerais de cada acervo, os tipos de materiais fornecidos, características dos participantes e a área geográfica coberta e as condições de acesso e uso do material coletado. Embora os acervos de língua e fala identificados atendam aos propósitos para os quais foram originalmente pensados, como o registro de fenômenos de variações nos níveis lexical, sintático e conversacional, quando se consideram as necessidades específicas da tarefa de comparação de locutor no campo da fonética forense, conclui-se que as opções são relativamente mais limitadas. Dos 45 acervos levantados, apenas sete servem de maneira mais adequada ao propósito de geração de estatísticas de distribuição de características linguísticas e fonéticas relevantes em tarefa de comparação de locutor, em especial quando baseada no uso de razão de verossimilhança (likelihood ratio). Os resultados evidenciam, ainda, a necessidade de ampliar a disponibilidade de acervos que sejam contemporâneos e que disponibilizem materiais de áudio para as regiões do país atualmente pouco representadas, uma vez que não foram encontrados acervos que disponibilizassem amostras de áudio para as regiões Centro-Oeste e Norte, e apenas um acervo com tais características para as regiões Sul e Nordeste. Diante desse cenário, é importante que projetos em andamento ou futuros considerem a disponibilização de materiais de áudio e informações complementares sobre os falantes e as gravações, de forma a ampliar a base de dados fonético-linguísticos representativa das diferentes regiões do país. As informações geradas nesta pesquisa são úteis tanto para especialistas em linguística e fonética forense quanto para pesquisadores de outras áreas de estudo da linguagem.
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