“Deficiente, não! D-eficiente”
uma análise discursiva dos dizeres de um surdo oralizado em seu perfil no Instagram
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv19a2025-12Palavras-chave:
Análise do Discurso, Pessoa com deficiência, Instagram, Sociedade capitalistaResumo
Este artigo, filiado à Análise do Discurso de perspectiva materialista, apresenta um estudo sobre os dizeres de um surdo oralizado em seu perfil na rede social Instagram. Fundamenta-se na compreensão do objeto discurso enquanto efeito de sentidos entre os sujeitos em determinadas condições históricas de reprodução/transformação. Buscamos com este trabalho compreender os sentidos dos enunciados postos em circulação no/pelo digital por um dos principais influencers surdos oralizados e não usuários de Libras (Língua Brasileira de Sinais), Alex Júnior, tomando como corpus de análise os stories intitulados “Meu livro”, disponíveis no perfil, em que ele trata, como sugere o título do destaque, tanto do processo de construção do seu livro quanto da sua forma de entrada nas redes sociais, sua atuação como influenciador digital, palestrante e, também, o modo como atribui sentidos a si e à sua surdez. Para desenvolver a pesquisa, realizamos um recorte discursivo levando em consideração a referida rede social e seus mecanismos de funcionamento; a forma como o perfil do sujeito surdo oralizado se apresenta na rede social; e, sobretudo, como este produz e faz circular determinados sentidos através de suas publicações. Em nossa análise, encontramos um discurso equívoco (Orlandi, 2017) que na busca em se afastar de já-ditos preconceituosos sobre o sujeito com deficiência, acaba, pelo tensionamento da formulação discursiva, por reproduzir sentidos sustentados pela ideologia capitalista e neoliberal (ao estabelecer uma relação entre deficiência e eficiência dos sujeitos) num mundo produtivista e empresarial. É por esse modo de significação, ademais, que Alex Júnior, em seu perfil, não se denomina “deficiente”, mas “D-eficiente”. Por essa denominação, o influencer parece tentar se desvencilhar de pré-construídos que, no/pelo modo de produção capitalista, significam aqueles que fogem ao tido como “semanticamente normal”. Assim, tais discursos têm sua gênese numa sociedade excludente que prioriza o lucro e não o ser humano como valor.
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