Mídia, raça e a construção do suspeito
análise discursiva de notícia da Folha de São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.14393/DL33-v12n1a2018-21Palavras-chave:
Produção da suspeita, Linguagem intervenção, Relações Étnico-Raciais, Gênero notícia, Análise do DiscursoResumo
O presente artigo tem por objetivo refletir, desde uma visão enunciativa de linguagem (MAINGUENEAU, 2013) e de seu viés de intervenção (ROCHA, 2006; 2014), acerca da produção discursiva do processo de suspeição da pessoa negra e de sua condução à condição de “fora de lugar”, a partir de construções discursivas que a mídia tem feito desta população em diálogo com discursos que circulam em outras esferas como a das práticas policiais e da justiça. Partimos de compreensão da linguagem como prática social (BAKHTIN, 1995; 1997) que, situada sociohistoricamente e atravessada por relações de saber e poder (FOUCAULT, 2013; 2013a), não apenas representa, mas intervém em uma dada realidade. Com relação à questão racial, entendemos como Guimarães (2006; 2009), que esse processo resulta da colonização que expropriou o africano de sua humanidade e é reforçado nos discursos que visam a manter os privilégios do grupo hegemônico. Para tal, dialogando com pesquisa realizada por Paiva (2015), no acervo do jornal Folha de São Paulo, procedemos a uma análise discursiva de notícia selecionada. Os resultados indicam que, em nome da neutralidade e imparcialidade que tende a ser vista como característica do gênero notícia, ao apresentar os fatos, o jornal constrói e reafirma, seu posicionamento político alinhado a discursos hegemônicos enunciados por grupos dominantes.Downloads
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Referências
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