Entre classe e raça
revisão crítica da literatura linguística sobre a permanência de africanismos no português brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.14393/DL40-v13n4a2019-2Palavras-chave:
Africanismos, Raça, Classe social, Ideologias semióticas, Ideologias linguísticasResumo
Este ensaio investiga a literatura (sócio)linguística sobre a permanência de africanismos no português brasileiro para analisar as ideologias semióticas que informam a literatura acadêmica sobre o assunto. Argumenta-se que há duas principais escolas de pensamento neste campo: uma que vê “raça” como a categoria analítica principal, e outra que entende que “classe” é mais importante do que raça. Sustenta-se três pressupostos são comuns às diversas teorias estudadas aqui: (1) as falas racializadas são frequentemente entendidas como sinônimos de falas marcadas pela africanidade; (2) os africanismos são geralmente tratados como índices de tempos pré-modernos; e (3) os africanismos são entendidos como “estrangeiros” no presente moderno. Ademais, também se sugere que os autores que preferem “classe” a “raça” (como categoria analítica) podem estar alinhados à ideologia da democracia racial.
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