Entre classe e raça

revisão crítica da literatura linguística sobre a permanência de africanismos no português brasileiro

Autores

  • Marcus Vinicius Avelar University of Colorado Boulder Department of Linguistics Program for Writing and Rhetoric

DOI:

https://doi.org/10.14393/DL40-v13n4a2019-2

Palavras-chave:

Africanismos, Raça, Classe social, Ideologias semióticas, Ideologias linguísticas

Resumo

Este ensaio investiga a literatura (sócio)linguística sobre a permanência de africanismos no português brasileiro para analisar as ideologias semióticas que informam a literatura acadêmica sobre o assunto. Argumenta-se que há duas principais escolas de pensamento neste campo: uma que vê “raça” como a categoria analítica principal, e outra que entende que “classe” é mais importante do que raça. Sustenta-se três pressupostos são comuns às diversas teorias estudadas aqui: (1) as falas racializadas são frequentemente entendidas como sinônimos de falas marcadas pela africanidade; (2) os africanismos são geralmente tratados como índices de tempos pré-modernos; e (3) os africanismos são entendidos como “estrangeiros” no presente moderno. Ademais, também se sugere que os autores que preferem “classe” a “raça” (como categoria analítica) podem estar alinhados à ideologia da democracia racial.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Marcus Vinicius Avelar, University of Colorado Boulder Department of Linguistics Program for Writing and Rhetoric

Ph.D. Candidate in Linguistics (University of Colorado Boulder), Instructor (Program for Writing and Rhetoric, UC Boulder), M.A. in Linguistics (University of Colorado Boulder and University of Campinas - Unicamp), B.A. Language Studies (University of São Paulo).

Referências

ALKMIM, T. Estereótipos linguísticos: negros em charges do século XIX. In: ALKMIM, T. (ed.). Para a história do português brasileiro: novos estudos. v. 3. São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 2002. DOI https://doi.org/10.31819/9783964563002-012

ALKMIM, T. A fala como marca: escravos nos anúncios de Gilberto Freire. Scripta, v. 9, n. 18, p. 221-229, 2006.

ALKMIM, T.; PETTER, M. Palavras da África no Brasil de ontem e de hoje. In: FIORIN, J. L.; PETTER, M. (ed.). África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008.

AVELAR, J.; GALVES, C. Concordância locativa no português brasileiro: questões para a hipótese do contato. In: MOURA, M. D.; SIBALDO, M. A. (ed.). Para a história do português brasileiro. Maceió: Editora da UFAL, 2013, p. 103-132.

AVELAR, J.; GALVES, C. O papel das línguas africanas na emergência da gramática do português brasileiro. Linguística – Revista da ALFAL, v. 30, n. 2, p. 241-288, 2014.

BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

BARROS, E. U. de. Línguas e linguagens nos candomblés de Nação Angola, 2007. Doctoral Dissertation (Ph.D. in Linguistics), University of São Paulo, Department of Linguistics, 2017. DOI https://doi.org/10.11606/t.8.2007.tde-27112009-102203

BAXTER, A.; LUCCHESI, D. A relevância dos processos de pidgnização e crioulização na formação da língua portuguesa no Brasil. Estudos Linguísticos e Literários, v. 19. p. 65-83, 1997.

BONVINI, E. Línguas africanas e o português falado no Brasil. In: FIORIN, J. L.; PETTER, M. (ed.). África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008. p. 15-62.

BORTONI-RICARDO, S. M. The urbanization of rural dialect speakers: a sociolinguistic study in Brazil. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística & educação. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

BORTONI-RICARDO, S. M. Do campo para a cidade: estudo sociolinguístico de migração e redes sociais. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.

BOURDIEU, Pierre. Distinction: critique sociale du jugement. Paris: Éditions de Minuit, 1979.

CARNEIRO, E. Candomblés da Bahia. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

CASTRO, Y. P. de. A sobrevivência das línguas africanas no Brasil: sua influência na linguagem popular da Bahia. Afro-Ásia, n. 4-5. p. 25-34, 1967.

CASTRO, Y. P. de. Os falares africanos na interação social do Brasil colônia. Salvador: UFBA/CEAO, 1980.

CASTRO, Y. P. de. Língua e nação de candomblé. África – Revista do Centro de Estudos Africanos da USP, v. 4. p. 57-76, 1981.

CASTRO, Y. P. de. Falares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Topbooks, 2001.

CUNHA, A. S. (ed.). Boi de zabumba é a nossa tradição. São Luís: Setagraf, 2011.

DURANTI, A. From grammar to politics: linguistic anthropology in a Western Samoan village. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1994.

ECKERT, P. Jocks and burnouts: social categories and identity in the High School. New York: Teachers College Press, 1990. DOI https://doi.org/10.2307/2073258

ERRINGTON, J. Linguistics in a colonial world: a story of language, meaning and power. Hoboken, NJ: Wiley-Blackwell, 2007.

FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

FREITAG, R. M. K. O “social” da sociolinguística: o controle de fatores sociais. Didadorim – Revista de Estudos Linguísticos e Literários do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da UFRJ, v. 8, p. 43-58, 2011.

GUY, G. On the nature and origins of popular Brazilian Portuguese. Estudios sobre español de América y linguística afroamericana. p. 227-245. Bogotá: Instituto Caro y Cuervo, 1989.

HILL, J. H. The everyday language of white racism. Malden, MA: Wiley-Blackwell, 2008.

HOLM, J. Creole influence on Popular Brazilian Portuguese. In: GILBERT, G. (ed.). Pidgin and creole languages. Honolulu: University of Hawaii Press, 1987, p. 406-429.

HOLM, J. An introduction to pidgins and creoles. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000.

ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que falamos, a língua que estudamos. São Paulo: Contexto, 2006.

IRVINE, J.; GAL, S. Language ideology and linguistic differentiation. In: KROSKRITY, P. V. (ed.). Regimes of language: ideologies, polities, and identities. Santa Fe: School of American Research Press, 2000, p. 35-84. DOI https://doi.org/10.1017/s0047404502222186

KEANE, W. Semiotics and the social analysis of material things. Language & Communication. v. 23. p. 409-425, 2003. DOI https://doi.org/10.1016/s0271-5309(03)00010-7

KEANE, W. Christian moderns: freedom and fetish in the mission encounter. Berkeley: University of California Press, 2007. DOI https://doi.org/10.1017/s004740450808086x

LUCCHESI, D. A variação da concordância de gênero em dialetos despidgnizantes e descrioulizantes do português do Brasil. In: ZIMMERMAN, K. (ed.). Lenguas criollas de base lexical española y portuguesa. Frankfurt am Main: Vervuet, Madrid: Iberoamericana, 1999, p. 477-502.

LUCCHESI, D. O conceito de transmissão linguística irregular e o processo de formação do português do Brasil. In: RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. (ed.). Português brasileiro: contato linguístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: FAPERJ/7 Letras, 2003, p. 272-284.

LUCCHESI, D. Língua e sociedade partidas: a polarização sociolinguística do Brasil. São Paulo: Contexto, 2015.

LUCCHESI, D.; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. (ed.). O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009.

MANNING, P. The semiotics of drink and drinking. New York: Bloomsbury Academic, 2012.

MIGGE, B.; L’ÉGLISE, I. L. Exploring Language in a Multilingual Context: Variation, Interaction, and Ideology in Language Documentation. New York: Cambridge University Press, 2013. DOI https://doi.org/10.1017/cbo9780511979002

MONADEOSI, I. Línguas africanas no candomblé. In: PETTER, M. (ed.). Introdução à linguística africana. São Paulo: Contexto, 2015. p. 251-280.

NARO, A.; SCHERRE, M. M. Origens do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2007.

NASCIMENTO, A. O genocídio do negro brasileiro: processo de um genocídio mascarado. São Paulo: Perspectivas, 2016. DOI https://doi.org/10.26694/rcp.issn.2317-3254.v8e1.2019.p93-96

NEGRÃO, E. V.; VIOTTI, E. Estratégias de impessoalização no português brasileiro. In: FIORIN, J. L.; PETTER, M. África no Brasil: a formação da língua portuguesa. São Paulo: Contexto, 2008. p. 179-203.

NEGRÃO, E. V.; VIOTTI, E. Epistemological aspects of the study of the participation of African languages in Brazilian Portuguese. In: PETTER, M. ; VANHOVE, M. (ed.). Portugais et langues africaines: études afro-brésiliennes. Paris: Karthala, 2011.

PEIRCE, C. S. The new elements of mathematics. v. 4. Edited by Carolyn Eisele. Hague: Mouton Publishers; Atlantic Highlands, NJ: Humanities Press, 1976. DOI https://doi.org/10.2307/2273606

PETTER, M. M. T. Línguas africanas no Brasil. In: CARDOSO, S. A. M.; MOTA, J. M.; MATTOS E SILVA, R. V. (ed.). Quinhentos anos de história linguística no Brasil. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia, 2006.

PETTER, M.; CUNHA, A. S. Línguas africanas no Brasil. In: PETTER, M. (ed.). Introdução à linguística africana. São Paulo: Contexto, 2015, p. 221-250.

QUEIROZ, S. M. M. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. DOI https://doi.org/10.7476/9788542303056

ROSA, M. C. Uma língua africana no Brasil colônia de seiscentos: o quimbundo ou língua de Angola na arte de Pedro Dias. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013. DOI https://doi.org/10.1080/17597536.2015.1112705

SILVA, D. N. Pragmática da violência: o Nordeste na mídia brasileira. Doctoral Dissertation (Ph.D. in Linguistics). University of Campinas, 2010.

SILVA, V. G. da. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2005.

SOUSA SANTOS, B. (2014). Brasil: a grande divisão. Retrieved from http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Brasil-A-Grande-Divisao/32167, on February 2nd, 2017.

SOUZA, S. M. C. Lingoa geral de Minna: descrição das características fonológicas. In: Enapol II. São Paulo, USP, 1999.

TRUDGILL, P. Sex, covert prestige and linguistic change in the urban British English of Norwich. Language in Society, v. 1, n. 2, p. 179-95, 1972. DOI https://doi.org/10.1017/s0047404500000488

VOGT, C.; FRY, P. Cafundó: a África no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, 2014.

Downloads

Publicado

14.12.2019

Como Citar

AVELAR, M. V. Entre classe e raça: revisão crítica da literatura linguística sobre a permanência de africanismos no português brasileiro . Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 13, n. 4, p. 1330–1358, 2019. DOI: 10.14393/DL40-v13n4a2019-2. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/46553. Acesso em: 27 jul. 2024.