A expressão linguística do aspecto perfect associado ao presente em demências progressivas
DOI:
https://doi.org/10.14393/DLv17a2023-61Palavras-chave:
Aspecto perfect, Doença de Alzheimer, Afasia Progressiva Primária Logopênica, Tempo e aspecto, NeurolinguísticaResumo
Neste trabalho, investigou-se a representação sintática do aspecto perfect, avaliando a pertinência dos sintagmas relacionados a esse aspecto – perfect de situação persistente ou universal (UPerfP), perfect resultativo (ResPerfP), perfect de passado recente (RecPerfP) e perfect experiencial (ExPerfP) – e propostas de hierarquia estabelecida entre eles verificadas na literatura. Para tanto, empreendeu-se um estudo sobre uma possível perda linguística desse aspecto em sujeitos diagnosticados com a Doença de Alzheimer (DA) e com aqueles diagnosticados com Afasia Progressiva Primária Logopênica (APPL). Foram selecionados dois pacientes diagnosticados com DA e um paciente diagnosticado com APPL. A fim de avaliar as realizações linguísticas do aspecto perfect na produção dos sujeitos, foram coletados dados de suas produções semiespontâneas, e, a fim de verificar o grau de comprometimento cognitivo dos sujeitos, foi aplicado o teste de rastreio cognitivo Mini-Exame do Estado Mental (MEEM). Observou-se que o paciente com APPL e um paciente com DA apresentaram um déficit linguístico que incidia apenas sobre o perfect de passado recente, tendo o segundo obtido um desempenho superior ao do primeiro no MEEM, enquanto o outro paciente com DA apresentou um déficit que atingia também outros tipos de perfect, tendo obtido um desempenho inferior ao dos outros dois pacientes no MEEM. Discutiu-se que os dados obtidos neste trabalho corroboram a proposta de Gomes, Martins e Rodrigues (2021), em que a hierarquia estabelecida entre os sintagmas de perfect na representação sintática é a seguinte: RecPerfP > ExPerfP > UPerfP > ResPerfP.
Downloads
Métricas
Referências
ALEXIADOU, A.; RATHERT, M.; VON STECHOW, A. Introduction: the modules of perfect constructions. In: ALEXIADOU, A.; RATHERT, M.; VON STECHOW, A. (org.). Perfect Explorations. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003. p. 5-38. DOI https://doi.org/10.1515/9783110902358
ALGEO, J. The Portuguese present perfect. Luso-Brazilian Review, v. 13, n. 2, p. 194-208, 1976. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/3512954. Acesso em: 1 ago. 2023.
ALTMANN, L.; ANDERSEN, E.; KEMPLER, H. Re-evaluating syntactic preservation in Alzheimer’s disease. Poster presented at the 1993 meeting of the Academy of Aphasia, Tucson, Az, October, 1993. p. 1069-1082. DOI https://doi.org/10.1044/1092-4388(2001/085)
ALZHEIMER, A. Übereineeig en artige Erkrankung der Hirnrinde. Allg Zeitschr Psychiatr, v. 64, p. 146-148, 1907.
AZEVEDO, T. Realização morfológica dos traços de perfect no português do Maranhão. 2014. 190 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
BAEZA, S.; BUSTOS, C.; OVANDO, P. Afasia logopénica: presentación de un caso y revisión de la literatura. Revista Chilena de Neuropsiquiatría, v. 50, n. 3, p. 166-173, 2012. DOI https://doi.org/10.4067/S0717-92272012000300006
BRUCKI, S.; NITRINI, R.; CARAMELLI, P.; BERTOLUCCI, P.; OKAMOTO, I. Sugestões para o uso do Mini-Exame do Estado Mental no Brasil. Arquivos de Neuro-psiquiatria, v. 61, n. 3, p. 777-781, 2003. DOI https://doi.org/10.1590/S0004-282X2003000500014
CAIXETA, L.; PINTO, P.; SOARES, V.; SOARES, C. Neuropsicologia das doenças neurodegenerativas mais comuns. In: CAIXETA, L.; TEIXEIRA, A. (org.). Neuropsicologia geriátrica. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 153-166.
CARAMELLI, P.; NITRINI, R. Como avaliar de forma breve e objetiva o estado mental de um paciente? Revista de Associação Médica Brasileira, v. 46, n. 4, p. 301-301, 2000. DOI https://doi.org/10.1590/S0104-42302000000400018
CINQUE, G. Adverbs and functional heads: a cross-linguistic perspective. New York: Oxford University Press, 1999. DOI https://doi.org/10.1093/oso/9780195115260.001.0001
COMRIE, B. Aspect: an introduction to the study of verbal aspect and related problems. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
COMRIE, B. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9781139165815
DAHL, Ö. Tense and aspect systems. Oxford: Blackwell, 1985.
FRIEDMANN, N.; GRODZINSKY, Y. Tense and agreement in agrammatic production: pruning the syntactic tree. Brain and Language, v. 56, n. 3, p. 397-425, 1997. DOI https://doi.org/10.1006/brln.1997.1795
FYNDANIS, V.; MANOUILIDOU, C.; KOUFOU, E.; KARAMPEKIOS, S.; TSAPAKIS, E. Agrammatic patterns in Alzheimer’s disease: Evidence from tense, agreement, and aspect. Aphasiology, v. 27, n. 2, p. 178-200, 2012. DOI https://doi.org/10.1080/02687038.2012.705814
GIORGI, A.; PIANESI, F. Tense and Aspect: from Semantics to Morphosyntax. New York: Oxford University Press, 1997. DOI https://doi.org/10.1093/oso/9780195091922.001.0001
GOMES, J.; MARTINS, A.; RODRIGUES, F. Comprometimento linguístico de tempo e aspecto no envelhecimento saudável: considerações teóricas e metodológicas. Revista da Abralin, v. 21, n. 1, p. 1-21, 2022. DOI 10.25189/rabralin.v21i1.2063
GOMES, J.; MARTINS, A.; RODRIGUES, F. The linguistic impairment of the perfect aspect in Alzheimer’s Disease and Logopenic Primary Progressive Aphasia. Cadernos de Linguística, v. 2, n. 4, p. 1-22, 2021. DOI https://doi.org/10.25189/2675-4916.2021.v2.n4.id528
GOMES, J.; SEMÊDO, J. Realizações do aspecto perfect universal na fala de indivíduos letrados cariocas, segundo a faixa etária. In: ORSINI, M. (org.). Práticas de Pesquisa em Língua Portuguesa. 1ed. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas / UFRJ, 2019. p. 137-164.
HUFF, F. The disorder of naming in Alzheimer’s disease. In: LIGHT, L.; BURKE, D. (org.). Language, memory and aging. Cambridge University Press, 1988. p. 209-220. DOI https://doi.org/10.1017/CBO9780511575020.013
IATRIDOU, S.; ANAGNOSTOPOULOU; E., IZVORSKI, R. Observations about the form and meaning of the perfect. In: ALEXIADOU, A. ; RATHERT, M. ; VON STECHOW, A. (org.). Perfect Explorations. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003. p. 153-205. DOI https://doi.org/10.1515/9783110902358.153
JESUS, J.; MATOS, A.; MARTINS, A.; NESPOLI, J. O aspecto perfect no português do Brasil. Travessias Interativas, v. 7, n. 14, p. 1 - 18, 2017.
JORM, A. Subtypes of Alzheimer’s dementia a conceptual analysis and critical review. Psychological Medicine, v. 15, n. 3, p. 543-553, 1985. DOI https://doi.org/10.1017/S003329170003141X
LESSA, A. Tempo em Alzheimer: linguagem, conceito e memória. 2010. 126 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
LOURENÇO, R.; VERAS, R. Mini-Exame do Estado Mental: características psicométricas em idosos ambulatoriais. Revista de Saúde Pública, v. 40, n. 4, p. 712-719, 2006. DOI https://doi.org/10.1590/S0034-89102006000500023
MANSUR, L.; CARTHERY, M.; CARAMELLI, P.; NITRINI, R. Linguagem e cognição na Doença de Alzheimer. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 18, p. 300-307, 2005. DOI https://doi.org/10.1590/S0102-79722005000300002
MARTINS, A. A desintegração de tempo na demência do tipo Alzheimer. 2010. 240 f. Tese (Doutorado em Linguística). Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
MESULAM, M. Primary progressive aphasia. Annals of Neurology, v. 49, p. 425-432, 2001. DOI https://doi.org/10.1002/ana.91
MCCAWLEY, J. Notes on the English Present Perfect. Australian Journal of Linguistics, 1, 81-90, 1981. DOI https://doi.org/10.1080/07268608108599267
MITTWOCH, A. Aspects of English aspect: on the interaction of perfect, progressive, and durational phrases. Linguistics and Philosophy, v. 11, n. 2, p. 203-254, 1988. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/25001306. Acesso em: 1 ago. 2023. DOI https://doi.org/10.1007/BF00632461
MOLSING, K. Universal and existential perfects in Brazilian Portuguese. Revista Letras, v. 73, p. 131-150, 2007. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/328064221.pdf. Acesso em: 1 ago. 2023. DOI https://doi.org/10.5380/rel.v73i0.7550
NESPOLI, J. Representação mental do perfect e suas realizações nas línguas românicas: um estudo comparativo. 2018. 175 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
NESPOLI, J. Tempo e aspecto na demência do tipo Alzheimer: um estudo longitudinal. 2013. 178 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
NESPOLI, J.; MARTINS, A. A representação sintática do aspecto perfect: uma análise comparativa entre o português e o italiano. Cadernos de Estudos Linguísticos, v.60, n.1, p. 30 - 46, 2018. DOI https://doi.org/10.20396/cel.v60i1.8649668
NESPOLI, J.; NOVAES, C. Um estudo longitudinal de tempo e aspecto na demência do tipo Alzheimer. Letras de Hoje, v. 51, n. 3, p. 358-366, 2016. DOI https://doi.org/10.15448/1984-7726.2016.3.25477
NOVAES, C. Neuropsychology and linguistic aphasiology: Evidence in favor of case studies. Brain and Cognition, v. 55, n. 1, p. 362-364, 2004. DOI https://doi.org/10.1016/j.bandc.2004.02.047
NOVAES, C.; MARTINS, A. Déficits de linguagem e teoria linguística. In: HERMONT, A.; XAVIER, G. (org.). Gerativa: (inter)faces de uma teoria. 1ed. Florianópolis: Beconn, 2014. p. 167-179.
NOVAES, C.; NESPOLI, J. O traço aspectual de perfect e as suas realizações. Revista FSA, v. 11, n. 1, p. 255-279, 2014. Disponível em: http://www4.unifsa.com.br/revista/index.php/fsa/article/view/356/0. Acesso em: 1 de ago. 2023. DOI https://doi.org/10.12819/2014.11.1.14
NUNES, J. Perífrases progressivas no presente no português do Brasil: uma análise aspectual. 2017. 34 f. Monografia (Graduação em Letras: Português - Francês) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
PANCHEVA, R. The aspectual makeup of Perfect participles and the interpretations of the Perfect. In: ALEXIADOU, A.; RATHERT, M.; VON STECHOW, A. (org.). Perfect Explorations. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003. p. 277-308. DOI https://doi.org/10.1515/9783110902358.277
REBOUÇAS, E. A realização morfossintática do aspecto perfect por falantes bilíngues de espanhol e inglês de Porto Rico. 2021. 274 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
RODRIGUES, N.; MARTINS, A. Evidências advindas da aquisição do português do Brasil para os tipos de perfect. Revista Linguística, v. 15, n. 3, p. 161-184, 2019. DOI https://doi.org/10.31513/linguistica.2019.v15n3a28438
ROGALSKI, E.; SRIDHAR, J.; RADER, B.; MARTERSTECK, A.; CHEN, K.; COBIA, D.; THOMPSON, C.; WEINTRAUB, S.; BIGIO, E.; MESULAM, M. Aphasic variant of Alzheimer disease: clinical, anatomic, and genetic features. Neurology, v. 87, p. 1337–1343, 2016. DOI https://doi.org/10.1212/WNL.0000000000003165
ROHRER J.; ROSSOR M.; WARREN J. Alzheimer's pathology in primary progressive aphasia. Neurobiology of Aging, v. 33, n. 4, p. 744-752, 2012. DOI https://doi.org/10.1016/j.neurobiolaging.2010.05.020
SERRA-MESTRES, J. Afasia progresiva primaria: aspectos clínicos y diagnósticos. Informaciones psiquiátricas, v. 228, p. 13-23, 2017. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6977813. Acesso em: 1 de ago. 2023.
THOMPSON, C.; MELTZER-ASSCHER, A.; CHO, S.; LEE, J.; WIENEKE, C.; WEINTRAUB, S.; MESULAM, M. Syntactic and morphosyntactic processing in stroke- induced and primary progressive aphasia. Behavioral neurology, v. 26, n. 1, p. 35-54, 2012. DOI https://doi.org/10.1155/2013/749412
WEINTRAUB, S.; MESULAM, M. M.; WIENEKE, C.; RADEMAKER, A.; ROGALSKI, E.; THOMPSON, C. The Northwestern anagram test: Measuring sentence production in primary progressive aphasia. American Journal of Alzheimer’s Disease and Other Dementias, v. 24, n. 1, p. 408-416, 2009. DOI https://doi.org/10.1177/1533317509343104
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Jean Carlos da Silva Gomes, Adriana Leitão Martins, Fernanda de Carvalho Rodrigues
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos da licença Creative Commons
CC BY-NC-ND 4.0: o artigo pode ser copiado e redistribuído em qualquer suporte ou formato; os créditos devem ser dados ao autor original e mudanças no texto devem ser indicadas; o artigo não pode ser usado para fins comerciais; caso o artigo seja remixado, transformado ou algo novo for criado a partir dele, o mesmo não pode ser distribuído.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
