A racionalidade neoliberal-conservadora em práticas de desinformação sobre a educação brasileira

enquadramentos discursivo-interseccionais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/DLv17a2023-29

Palavras-chave:

Desinformação, Educação, Racionalidade neoliberal-conservadora, Análise de discurso, Interseccionalidade

Resumo

Este artigo busca discutir as representações de gênero, sexualidade, raça e classe social em práticas de desinformação sobre a educação brasileira, considerando seu impacto na construção de um imaginário acerca da ciência e educação no país. A partir do enquadramento teórico-metodológico da análise de discurso franco-brasileira e dos estudos feministas interseccionais, são analisados excertos extraídos de peças de desinformação que foram (re)produzidas por agentes do Estado brasileiro ao longo de um período de quatro anos, conforme verificado por agências de checagem de fatos. Os resultados de análise apontam que, enquanto dispositivo de um projeto transnacional neoliberal-conservador, a desinformação parece entretecer o funcionamento de tecnologias nas quais tal projeto se estabelece: nomeadamente, branquitude e cisheteropatriarcado. Consequentemente, por meio de práticas de desinformação sobre educação, propaga-se um ideal utilitarista de educação e ciência no país, contribuindo, assim, para a intensificação de desigualdades e erosão da democracia.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Mariana Rafaela Batista Silva Peixoto, UFU

Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas, professora do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia.

Referências

AKOTIRENE, C. O que é interseccionalidade? São Paulo: Pólen, 2019.

ALLCOTT, H.; GENTZKOW, M. Social Media and Fake News in the 2016 Election. Journal of Economic Perspectives, 31 (2): 211-36, 2017. DOI https://doi.org/10.1257/jep.31.2.211

AMORIM, E.; VIEIRA, R. Muito barulho para silenciar. In: MARTINS, H. (org.). Desinformação: crise política e saídas democráticas para as fake news. São Paulo: Veneta, 2020.

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer: palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

BIROLI, F. Gênero, “valores familiares” e democracia. In: VAGGIONE, J. M.; MACHADO, M. D. C.; BIROLI, F. Gênero, neoconservadorismo e democracia. São Paulo: Boitempo, 2020. P. 135-188.

BROWN, W. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão da política antidemocrática no ocidente. São Paulo: Politeia, 2019.

BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. São Paulo: José Olympio, 2018.

BUTLER, J. Discurso de ódio: uma política do performativo. São Paulo: Editora Unesp, 2021.

CALVILLO, D. P.; ROSS, B. J.; GARCIA, R. J. B.; SMELTER, T. J.; RUTCHICK, A. M. Political Ideology Predicts Perceptions of the Threat of COVID- 19 (and Susceptibility to Fake News About It). Social Psychological and Personality Science, 11(8), 1119–1128, 2020. DOI https://doi.org/10.1177/1948550620940539

CAMPELLO, F. Crítica dos afetos. Belo Horizonte: Autêntica, 2022.

CARNAC, R. L'Église catholique contre «la théorie du genre»: construction d'un objet polémique dans le débat public français contemporain. Synergies Italie, n. 10, pp. 125-143, 2014.

CARNEIRO, S. Dispositivo de racialidade: a construção do outro como não ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.

CESARINO, L. O mundo do avesso: verdade e política na era digital. São Paulo: Ubu, 2022.

COLLINS, P. H. Bem mais que ideias: a interseccionalidade como teoria social crítica. São Paulo: Boitempo, 2022.

CORACINI, M. J. Língua estrangeira e língua materna: uma questão de sujeito e identidade. In: CORACINI, M. J. (org.). Identidade e Discurso: (des)construindo subjetividades. Campinas: Editora Unicamp, 2003. p. 139-160.

CURCINO, L.; SARGENTINI, V; PIOVEZANI, C. (org.). Discurso e (pós)verdade. São Paulo: Parábola, 2021. p. 73-86.

EMPOLI, G. Os engenheiros do caos. São Paulo: Vestígio 2022.

FIRST DRAFT. Entender a desordem informacional. Rio de Janeiro: First Draft, 2020.

FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010a.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2010b.

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 2010c.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2011.

GARBAGNOLI, S. Le Vatican contre la dénaturalisation de l'ordre sexuel: structure et enjeux d'un discours institutionnel réactionnaire. Synergies Italie, n. 10, pp. 145-167, 2014.

HABGOOD-COOTE, J. Stop Talking about Fake News! Inquiry: An Interdisciplinary Journal of Philosophy, 62 (9-10), p. 1033-1065, 2019. DOI https://doi.org/10.1080/0020174X.2018.1508363

HUMPRECHT, E. Where ‘fake news’ flourishes: a comparison across four Western democracies. Information, Communication & Society, 22:13, 1973- 1988, 2018. DOI https://doi.org/10.1080/1369118X.2018.1474241

JUNQUEIRA, R. D. A invenção da “ideologia de gênero”: um projeto reacionário de poder. Brasília: Letras Livres, 2022.

LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

LACLAU, E. A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013.

LAVAL, C. A escola não é uma empresa: o neoliberalismo em ataque ao ensino público. São Paulo: Boitempo, 2019.

LEITE, V. J. A captura das crianças e adolescentes: refletindo sobre controvérsias públicas envolvendo gênero e sexualidade nas políticas de educação. Série-Estudos - Periódico do Programa de Pós-Graduação em Educação da UCDB, v. 20, n. 52, p. 11-30, 4 dez. 2019. DOI https://doi.org/10.20435/serie-estudos.v20i52.1354

MARINONI, B.; GALASSI, V. Aspectos da desinformação, capitalismo e crises. MARTINS, H. (org.). Desinformação: crise política e saídas democráticas para as fake news. São Paulo: Veneta, 2020.

MBEMBE, A. Necropolítica. São Paulo: N-1, 2018.

MISKOLCI, R; CAMPANA, M. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Sociedade e Estado [online], v. 32, n. 03, p. 725-748, 2017. DOI https://doi.org/10.1590/s0102- 69922017.3203008

MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada (in)disciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.

MOROZOV, E. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu editora, 2018.

MOURA, F. P. Conservadorismo cristão e perseguição aos estudos de gênero: a quarta versão da BNCC. Communitas, [S. l.], v. 2, n. Esp, p. 47–63, 2018.

O'CONNOR, C; WEATHERALL, J. The misinformation age: How false beliefs spread. Yale University Press, 2019. DOI https://doi.org/10.2307/j.ctv8jp0hk

ORLANDI, E. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 2009.

PAVEAU, M-A. Análise do discurso digital: dicionário das formas e das práticas. Campinas: Pontes, 2021.

PÊCHEUX, M. Língua, linguagens, discurso. In: PIOVEZANI, C.; SARGENTINI, V. (org.). Legados de Michel Pêcheux: inéditos em análise de discurso. São Paulo: Contexto, 2020.

SAFATLE, V.; LÖWY, M. Só mais um esforço: como chegamos até aqui ou como o pais dos "pactos", das "conciliações", das "frentes amplas" produziu seu próprio colapso. São Paulo: Vestígio, 2022.

SILVA, D. N. e. The Pragmatics of Chaos: Parsing Bolsonaro’s Undemocratic Language. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 59, n. 1, p. 507–537, 2020. DOI https://doi.org/10.1590/01031813685291420200409

SIMÕES, M. C. John Stuart Mill: utilitarismo e liberalismo. Veritas (Porto Alegre), [S. l.], v. 58, n. 1, p. 174–189, 2013. DOI https://doi.org/10.15448/1984-6746.2013.1.12909

SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2018.

TANDOC JR., E. C.; LIM, Z. W; LING, R. Defining “Fake News”, Digital Journalism, 6:2, 137-153, 2018. DOI https://doi.org/10.1080/21670811.2017.1360143

VAGGIONE, J.; MACHADO, M. D. C; BIROLI, F. Gênero, neoconservadorismo e democracia. São Paulo: Boitempo, 2020.

WARDLE, C.; DERAKSHAN, H. Information Disorder: An interdisciplinary Framework for Research and Policy for the Council of Europe. Council of Europe, 2017.

Downloads

Publicado

06.07.2023

Como Citar

PEIXOTO, M. R. B. S. A racionalidade neoliberal-conservadora em práticas de desinformação sobre a educação brasileira: enquadramentos discursivo-interseccionais. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 17, p. e1729, 2023. DOI: 10.14393/DLv17a2023-29. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/68913. Acesso em: 21 dez. 2024.