Aspectos sintáticos e prosódicos do sistema de pontuação
notas sobre a gramatização do português quinhentista
DOI:
https://doi.org/10.14393/DL50-v16n2a2022-3Palavras-chave:
Pontuação, Sintaxe, Prosódia, Gramatização quinhentista, Historiografia da LinguísticaResumo
Partindo de problemas conceituais relativos às relações entre fala e escrita representadas pela pontuação, este artigo, recorte de minha tese de doutorado em desenvolvimento, investiga o tratamento teórico-normativo conferido a esse fenômeno linguístico em obras inaugurais da gramaticografia portuguesa. Mais especificamente, o trabalho procura analisar a categorização da pontuação como parte da ortografia da língua, bem como identificar, interpretar e inter-relacionar os aspectos sintáticos e prosódicos a partir dos quais os sinais de pontuação são normatizados durante os Quinhentos. Para tanto, o tratado de Pero Magalhães de Gândavo (1981 [1574]) foi delimitado como corpus, mas, com vistas à reconstituição do horizonte de retrospecção da pesquisa (cf. AUROUX, 2014), dados sobre os sinais de pontuação utilizados e/ou normatizados em manuscritos medievais, em impressos renascentistas e na gramática de João de Barros (1540) também integram as notas aqui desenvolvidas. Trata-se de um estudo que, situado na Historiografia da Linguística (cf. ALTMAN, 2019; BATISTA, 2015, 2019; KOERNER, 2014; SWIGGERS, 2019), conjuga aspectos externos e internos de análise, embora eleja como foco a materialidade linguística das obras. O levantamento bibliográfico realizado e as análises dos dados evidenciam que, desde os primeiros gestos de gramatização do português, o sistema de pontuação já era apresentado a partir de confluências entre sintaxe e prosódia, ou entre a delimitação de constituintes oracionais e a demarcação de pausas próprias à entonação. Sugerem, assim, a pertinência de se olhar para a pontuação de um ponto de vista menos polarizado quanto a essas duas dimensões constitutivas de sua normatização ao longo da história.
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