A hostilização do (O)outro no contexto das eleições presidenciais de 2018

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/DL51-v16n3a2022-7

Palavras-chave:

Análise do Discurso, Polarização, (O)outro, Discurso violento

Resumo

Durante o período das eleições presidenciais de 2018 no Brasil observou-se um grande movimento de polarização, principalmente no segundo turno, que se concentrou na oposição entre os grupos que apoiavam os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Nesse sentido, o presente artigo busca abordar de que modo esses grupos polarizados construíram representações a respeito do grupo oposto e estabeleceram sua relação com o (O)outro no espaço discursivo do Twitter, visto que foi um espaço de grande circulação e (re)produção dos discursos polarizados. Apresenta-se como corpus recortes retirados de postagens no Twitter, circuladas no dia 7 a 27 de outubro de 2018. Além disso, a Análise do Discurso, principalmente via estudos do discurso de linha francesa, é tomada como dispositivo teórico-analítico, afim de trabalhar com a materialidade da língua e da imagem desses enunciados. O estudo qualitativo e interdisciplinar busca apoio na perspectiva metodológica da etnografia digital, no modo de conceber e estudar essas comunidades polarizadas que permeiam a rede social. Os grupos “apelidados” de “comunistas” e “bolsominions”, de acordo com representações criadas nesse período, estabeleceram uma relação de hostilidade com esse (O)outro, apresentando dizeres que ofendiam, deslegitimavam e, muitas vezes, retiravam o (O)outro de sua posição de sujeito. A defesa de uma “verdade” absoluta pelos grupos acabou por contribuir para a emergência de uma violência discursiva, com o uso de palavrões e ataques ad hominem. No período das eleições de 2018 o (O)outro foi colocado como um “de fora”, assumindo, muitas vezes, uma posição de “estranho”, “abominável”.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Janaina Ferreira Coriolano, Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Mestra em Linguagens, Mídia e Arte pela PUC-Campinas.

Eliane Righi de Andrade, Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Doutorada e pós-doutorada em Linguística Aplicada pela Universidade de Campinas, é professora na Graduação (Letras) e pesquisadora no Mestrado interdisciplinar stricto sensu Linguagens, Mídia e Arte, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, onde desenvolve estudos nas temáticas de discurso, subjetividade, identidade e memória.

Referências

ALMEIDA, B. C. Poder e verdade a partir de Michel Foucault. Ítaca, n. 21, p. 175-196, 2012. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/Itaca/article/view/240. Acesso em: 20 mar. 2021.

AMOSSY, R. Apologia da polêmica. São Paulo: Contexto, 2017.

AO VIVO DE BRASÍLIA. Governo de Brasília Fecha Esplanada para fase final do Impeachment de Dilma, 29 ago. 2016. Disponível em: https://www.aovivodebrasilia.com.br/governo-de-brasilia-fecha-esplanada-para-fase-final-do-impeachment-de-dilma/. Acesso em: 28 out. 2020.

BERNARDO, J. Hipertexto, diversidade e gênero textual no facebook. In: IV SIELP-SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2014. Anais. Minas Gerais: Universidade Federal de Uberlândia, 2014. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/uploads/2014/11/99.pdf. Acesso em: 20 mar. 2021.

BOBBIO, N. As ideologias e o poder em crise. 3º edição. Brasília: Universidade de Brasília, 1994.

BOBBIO, N. Direita e Esquerda: razões e significados de uma distinção política. São Paulo: Editora UNESP, 1995.

BOBBIO, N. O futuro da democracia. São Paulo: Paz e Terra, 2000.

CAMBRIDGE DICTIONARY. United Kingdom, 2020. Disponível em: https://dictionary.cambridge.org/. Acesso em: 18. mar. de 2020.

CANAL TECH. Emojis. Disponível em: https://canaltech.com.br/. Acesso em: 16. jan. 2021.

CHAIA, V. L. M; BRUGNAGO, F. A nova polarização política nas eleições de 2014: radicalização ideológica da direita no mundo contemporâneo do Facebook. Aurora. Revista de Arte, Mídia e Política, v. 7, n. 21, p. 99-129, 2014. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/aurora/article/view/22032. Acesso em: 20 mar. 2021.

COURTINE, J. Análise do discurso político: discurso comunista endereçado aos cristãos. EdUFSCar, 2009.

DENZIN, N. K; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Porto Alegre: Bookman, Artmed, 2006.

DERRIDA, J. Hospitality. Angelaki – Journal of the theoretical humanities, v. 5, n. 3. Taylor & Francis Ltd and the Editors of Angelaki, 2000.

DICIONÁRIO DE SÍMBOLOS. Disponível em: https://www.dicionariodesimbolos.com.br/escorpiao/. Acesso em: 18 de mar. de 2020.

ESTEBAN, J.M.; RAY, D. On the Measurement of Polarization. Econometrica, New York, n. 62, p. 819-851, n.4, jul. 1994. DOI https://doi.org/10.2307/2951734

EXPRESSO. Porque se dizia que os comunistas comiam crianças? 14 de novembro de 2014. Disponível em: https://expresso.pt/sociedade/2015-11-14-Porque-se-dizia-que-os-comunistas-comiam-criancas--1. Acesso em: 15 mar. 2021.

FAZENDA, I. (Org). O que é interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, p. 17-28, 2008. FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade-trasndiciplinaridade.

FREITAS, E. C; BOAVENTURA, L. H. Cenografia e ethos: o discurso da intolerância e polarização política no Twitter. Letras de Hoje, v. 53, n. 3, p. 449-458, 2018. DOI https://doi.org/10.15448/1984-7726.2018.3.30796

FREUD, S. (1919). O estranho. In Ed. standard bras., vol. XVII, Rio de Janeiro: Imago, 1996.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 8ª. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

FOUCAULT, M. A hermenêutica do sujeito. SP; Martins Fontes, 2006.

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

GREGOLIN, M. R. AD: descrever - interpretar acontecimentos cuja materialidade funde linguagem e história. In NAVARRO, P. (org.) Estudos do texto e do discurso – mapeando conceitos e métodos. São Carlos: Claraluz Editora, 2006.

LENOIR, R. B. FAZENDA, I. Les fondements de l'interdisciplinarité dans la formation à l'enseignement. Canadá: Editions du CRP/Unesco, 2001.

MAINGUENEAU, D. Gênese dos discursos. Trad. Sírio Possenti. Curitiba, PR: Criar Edições, 2005.

MEDINA, J. Identity trouble: Disidentification and the problem of difference. Philosophy & social criticism, v. 29, n. 6, p. 655-680, 2003. DOI https://doi.org/10.1177%2F0191453703296002

MGI TECH. Totens de auto atendimento. Disponível em: https://www.mgitech.com.br/totem-de-autoatendimento#:~:text=Essencialmente%2C%20o%20totem%20%C3%A9%20um,sem%20intera%C3%A7%C3%A3o%20com%20agentes%20humanos. Acesso em: 16 jan. 2021.

MOVIMENTO PASSE LIVRE, 2020. Disponível em: https://www.mpl.org.br/. Acesso em: 21 de out, 2020.

MURTHY, D. Digital Ethnography: an examination of the use of new technologies for social research. Sociology, v. 42, n. 5, p. 837-855, 2008. Disponível em:<http://www.academia.edu/971211/Digital_Ethnography_An_Examination_of_the_Use_of_New_Technologies_for_Social_Research>. Acesso em: 11 mai. 2020.

OLIVEIRA, I. L. Etnografia digital: o uso das TIC na pesquisa social, novos métodos de observar. Tabuleiro de Letras, v. 12, n. 1, p. 190-203, 2018. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6513179. Acesso em: 20 mar. 2021.

ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, SP, ed. Pontes, 2003, 4ª edição.

PACETE. G. Entenda como o tchau querida ganhou as redes. 11 mai. 2016. Disponível em: https://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/2016/05/11/criadores-comemoram-viralizacao-do-tchau-querida.html. Acesso em: 15 mar. 2021.

PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. Campinas: Pontes, 1998.

REES, D. K; MELLO, H. A. B. A investigação etnográfica na sala de aula de segunda língua/língua estrangeira. Cadernos do IL, n. 42, p. 30-50, 2011. DOI https://doi.org/10.22456/2236-6385.26003

SILVA, W. A.; MORAES, R. A. de. Direita e esquerda no pensamento de Norberto Bobbio. Agenda Política, [S. l.], v. 7, n. 1, p. 168–192, 2019.

SOUZA RAMOS, J; FREITAS, E. T. Dossiê temático: Etnografia digital. Antropolítica. Revista Contemporânea de Antropologia, v. 1, n. 42, 2018. DOI https://doi.org/10.22409/antropolitica2017.1i42.a41882

SPRADLEY, J. Participant observation. Fort Worth: Harcourt Brace College Publishers, 1980.

TEIXEIRA, E. F. B. Emergência da inter e da transdisciplinaridade na universidade. Inovação e interdisciplinaridade na universidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 1, p. 58-90, 2007.

VEJA. Burger King muda auto atendimento após polêmica com nomes de candidatos. 19 out. 2018. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/burger-king-muda-autoatendimento-apos-polemica-com-nome-de-candidatos/. Acesso em: 10 dez. 2020.

WIKIPEDIA. Meu Malvado Favorito, 2020. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Despicable_Me. Acesso em: 20 mar. 2021.

Downloads

Publicado

17.06.2022

Como Citar

CORIOLANO, J. F.; ANDRADE, E. R. de. A hostilização do (O)outro no contexto das eleições presidenciais de 2018. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 16, n. 3, p. 1075–1119, 2022. DOI: 10.14393/DL51-v16n3a2022-7. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/59934. Acesso em: 21 dez. 2024.