Comodificação toponímica e a cidade neoliberal

sobre a venda de direitos de nomeação (naming rights) das estações do metrô de São Paulo

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/DL46-v15n2a2021-4

Palavras-chave:

Direitos de nomeação, Toponímia, Marketing urbano, Memória, Identidades

Resumo

Depois de quase três décadas sendo praticada na cidade de São Paulo em equipamentos privados como cinemas, teatros e mais recentemente estádios esportivos, a comercialização de direitos de nomeação chega também a espaços de propriedade estatal: em abril de 2020, a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Cia. do Metrô) anunciou um projeto de conceder à exploração privada o direito de nomear suas estações. Este artigo analisa esse projeto, suas premissas e expectativas. Conclui que uma série de conflitos relacionados à memória da cidade e a seus marcos espaciais, embora apontados em estudos recentes sobre comodificação toponímica e também sugeridos pelos próprios antecedentes paulistanos no tema, não parecem fazer parte da agenda de preocupações do projeto.

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Biografia do Autor

Martin Jayo, Universidade de São Paulo

Professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades de Universidade de São Paulo.

Adriana Tavares Lima, Universidade de São Paulo

Doutoranda em Filologia e Língua Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

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Publicado

05.03.2021

Como Citar

JAYO, M.; TAVARES LIMA, A. Comodificação toponímica e a cidade neoliberal: sobre a venda de direitos de nomeação (naming rights) das estações do metrô de São Paulo. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 15, n. 2, p. 347–370, 2021. DOI: 10.14393/DL46-v15n2a2021-4. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/57050. Acesso em: 26 jul. 2024.