Um espectro ronda o mundo da educação: inclusão, diferença e cosmopolíticas
DOI:
https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v39a2025-74897Palavras-chave:
Inclusão, Diferença, Cosmopolíticas, Formação humana, SubjetividadeResumo
Resumo: O presente artigo aborda a questão da inclusão da diferença em chave cosmopolítica. O argumento consiste em mostrar que a centralidade do olhar epistêmico para a diferença opera como uma estratégia imunizadora que neutraliza os agenciamentos éticos, políticos e pedagógicos abertos pelo encontro de corpos que se movem por meio de cartografias ingovernáveis. A intervenção está articulada em três movimentos. No primeiro problematiza-se a configuração antropológica e humanista da racionalidade moderna a fim de liberar, simultaneamente, o debate em torno da inclusão das constrições do princípio de subjetividade e das disjunções biopolíticas das máquinas antropológicas. Em seguida, propomos uma aproximação entre a ontologia histórica foucaultiana com algumas démarches especulativas dos chamados novos materialismos desdobrados na antropologia a partir da virada ontológica. Por fim, no terceiro movimento discutimos, desde o multinaturalismo ameríndio, a inclusão das diferenças como um modo incomum de fazer parentes. Nesse âmbito, delineamos especulativamente um outro horizonte de pensamento acerca da inclusão da diferença com vistas a recolocar em questão o debate sobre a formação humana, para além do regime identitário de constituição das subjetividades.
Palavras-chave: Inclusão; diferença; cosmopolíticas; formação humana; subjetividade.
A specter haunts the world of education: inclusion, difference and cosmopolitics.
Abstract: This article addresses the issue of the inclusion of difference in a cosmopolitical key. The argument is to show that the centrality of the epistemic view of difference operates as an immunizing strategy that neutralizes the ethical, political and pedagogical agencies opened up by the encounter of bodies that move through ungovernable cartographies. The intervention is articulated in three analytical movements. The first problematizes the anthropological and humanist configuration of modern rationality to, simultaneously, liberate the debate around the inclusion of the constrictions of the subjectivity principle and the biopolitical disjunctions of anthropological machines. Next, we propose a rapprochement between Foucauldian historical ontology and some of the speculative démarches of the so-called new materialisms that have unfolded in anthropology since the ontological turn. Finally, in the third movement we discuss, from the perspective of Amerindian “multinaturalism”, the inclusion of differences as an unusual way of making kin. In this context, we speculatively outline another horizon for thinking about the inclusion of difference with a view to putting the debate on human formation back into question, beyond the identity regime for the constitution of subjectivities.
Keywords: Inclusion; difference; cosmopolitics; human formation; subjectivity.
Un espectro rodea el mundo de la educación: inclusión, diferencia y cosmopolítica.
Resumen: Este artículo aborda la cuestión de incluir la diferencia en clave cosmopolítica. El argumento consiste en mostrar que la centralidad de la mirada epistémica sobre la diferencia opera como una estrategia inmunizante que neutraliza los arreglos éticos, políticos y pedagógicos abiertos por el encuentro de cuerpos que se mueven a través de cartografías ingobernables. La intervención se articula en tres movimientos. El primero problematiza la configuración antropológica y humanista de la racionalidad moderna para liberar simultáneamente el debate en torno a la inclusión de las limitaciones del principio de subjetividad y las disyunciones biopolíticas de las máquinas antropológicas. A continuación, proponemos una aproximación entre la ontología histórica de Foucault con algunas gestiones especulativas de los llamados nuevos materialismos desplegados en la antropología desde el giro ontológico. Finalmente, en el tercer movimiento discutimos, desde el “multinaturalismo” amerindio, la inclusión de las diferencias como una forma inusual de hacer parientes. En este contexto, esbozamos especulativamente otro horizonte de pensamiento sobre la inclusión de la diferencia con miras a volver a cuestionar el debate sobre la formación humana, más allá del régimen identitario de constitución de las subjetividades.
Palabras clave: Inclusión; diferencia; cosmopolítica; formación humana; subjetividad.
Data de registro: 14/08/2024
Data de aceite: 18/12/2024
Downloads
Referências
AGAMBEN, Giorgio. O aberto: o homem e o animal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.
BAILEY, Christiane. La vie végétative des animaux: La destruction heideggérienne de l’animalité comme reduction biologique. PhaenEx, Phoenix, v. 2, n. 2, p. 81-123, 2007. DOI: https://doi.org/10.22329/p.v2i2.405. Disponível em: https://phaenex.uwindsor.ca/index.php/phaenex/article/view/405. Acesso em: 29 nov. 2023.
BALIBAR, Étienne. Citoyen-sujet et autres essais d’anthropologie philosophique. Paris: PUF, 2011. DOI: https://doi.org/10.3917/puf.balib.2011.02 PMid:21551303 PMCid:PMC3133259
BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
BONA, Dénètem Touam. Cosmopoéticas do Refúgio. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2020.
BRYANT, Levi; SRNICEK, Nick; HARMAN, Graham (Ee.) The speculative turn: continental materialism and realism. Open Source, 2011. Disponível em: http://www.repress.org/book-Files/OA_Version_Speculative_Turn_9780980668346.pdf. Acesso em: 3 mai. 2014.
BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Os mortos e os outros: Uma análise do Sistema Funerário e da Noção de Pessoa entre os índios Krahó. São Paulo: Hucitec, 1978.
CHAKRABARTY, Dipesh. Provincializing Europe. Postcolonial Thought and Historical Difference. Princeton: Princeton University Press, 2000.
COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2021.
DANOWSKI, Déborah; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Há um mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2014.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a Filosofia? São Paulo: Editora 34, 2011.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs. vol. 5. São Paulo: Editora 34, 1997.
DERRIDA, Jacques. Le droit à la philosophie d’un point de vue cosmopolitique. Paris: Éditions Unesco Verdier, 1997.
DESCOLA, Philippe. Par-delà nature et culture. Paris: Éditions Gallimard, 2005.
DESPRET, Vinciane. Um brinde aos mortos: histórias daqueles que ficam. São Paulo: n-1 Edições, 2023.
DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma trajetória filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.
ESCOBAR, Arturo. The ‘ontological turn’ in social theory. A Commentary on ‘Human geography without scale’. Transactions of the Institute of British Geographers, London, v. 32, n. 1, p. 106-111, 2007. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1475-5661.2007.00243.x
ESPOSITO, Roberto. Bíos. Lisboa: Edições 70, 2010.
ESPOSITO, Roberto. El dispositivo de persona. Buenos Aires: Amorrortu, 2011.
ESPOSITO, Roberto. As pessoas e as coisas. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2016.
FABRIS, Eli Terezinha; KLEIN, Rejane Ramos (Orgs.). Inclusão e biopolítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
FAVRET-SAADA, Jeanne. Être Afecté. Gradhiva: Revue d’Histoire et d’Archives de l’Anthropologie, v. 8, p. 3-9. 1990. DOI : https://doi.org/10.3406/gradh.1990.1340
FOESSEL, Michaël. Après la fin du monde. Critique de la raison apocalyptique. Paris: Éditions du Seuil, 2012.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1977.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000.
FOUCAULT, Michel. O corpo utópico: as heterotopias. São Paulo: Edições n-1, 2013.
FOUCAULT, Michel. Aulas sobre a vontade de saber: curso no Collège de France (1970-71). São Paulo: WMF Martins Fontes, 2014.
FREITAS, Alexandre Simão. Contribuições do perspectivismo ameríndio para as pesquisas em Filosofia da Educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 99, n. 252, p. 387-403, 2018. DOI: https://doi.org/10.24109/2176-6681.rbep.99i253.3731
FREITAS, Alexandre Simão. Geontologia e as artes neoliberais de governo: educar os corpos para além do imaginário do carbono. Revista Pro-Posições, São Paulo v. 30, p. 1-21, 2019. https://doi.org/10.1590/1980-6248-2017-0136
FREITAS, Alexandre Simão. Corpos alterados, corpos ingovernáveis: cartografias ético-estéticas para segurar o céu pelas diferenças. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 33, n. 68, p. 617–642, 2020a. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/51965. Acesso em: 26 fev. 2024. DOI: https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v33n68a2019-51965
FREITAS, Alexandre Simão. No meio da ontologia havia um vírus: notas acerca de uma abertura cosmopolítica em tempos de pandemia. Voluntas Revista Internacional de Filosofia, Santa Maria, v. 11, p. 1-15, 2020b. DOI: https://doi.org/10.5902/2179378643631.
GOLDMAN, Márcio. Uma categoria do pensamento antropológico: a noção de pessoa. In: GOLDMAN, Márcio. Alguma Antropologia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999. p. 20-35.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
HARAWAY, Donna. O manifesto das espécies companheiras: cachorros, pessoas e alteridade significativa. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
HARAWAY, Donna. Ficar com o problema: fazer parentes no Chthuluceno. São Paulo: n-1 Edições, 2023.
HOLBRAAD, Morten Axel; PEDERSEN, Martin. The ontological turn: an anthropological exposition. Cambridge: Cambridge University Press, 2017. DOI: https://doi.org/10.1017/9781316218907
HONNETH, Axel; FRASER, Nancy. Redistribution or recognition? London: Verso, 2003.
INGOLD, Tim. Being Alive: essays on movement, knowledge and description. Londres: Routledge, 2011. DOI : https://doi.org/10.4324/9780203818336
KODJO-GRANDVAUX, Séverine. Philosophies Africaines. Paris: Présence Africaine, 2013. DOI : https://doi.org/10.3917/epa.kodjo.2013.01
LAPOUJADE, David. Os movimentos aberrantes. São Paulo: n-1 edições, 2015.
LATOUR, Bruno. Politics of nature: how to bring the sciences into democracy. Cambridge: Harvard University Press, 2004. DOI: https://doi.org/10.4159/9780674039964
LAZZARATO, Maurizio. Signos, Máquinas, Subjetividades. São Paulo: Editora Sesc, 2014.
LOPES, Rodrigo Barbosa. Imagem do pensamento: do antropológico ao acontecimento na educação. Curitiba: Appris, 2022.
LOPES, Maura Corcini; FABRIS, Eli Henn. Inclusão e educação. Belo Horizonte: Autêntica editora, 2017.
LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 3, p. 935-952, 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2014000300013.
MARTIN, Nastassja. Escute as feras. São Paulo: Editora 34, 2021.
MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a noção do eu. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. p. 367-397.
MBEMBE, Achille. De La Postcolonie. Paris: Karthala, 2000.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 edições, 2018.
MBEMBE, Achille. Brutalismo. São Paulo: n-1 edições, 2021.
MIGNOLO, Walter D. Cosmopolitanism and the de-colonial option. Studies in Philosophy and Education, v. 29, n. 2, p. 111-127, 2010. DOI: https://doi.org/10.1007/s11217-009-9163-1
PAGNI, Pedro Angelo. A inclusão como um paradoxo da biopolítica: contribuições de Roberto Esposito. São Paulo: PPGE Unesp-Marília, 2023.
PIERUCCI, Antônio Flávio. Ciladas da diferença. São Paulo: Editora 34, 1999.
POVINELLI, Elizabeth. Geontologias: um réquiem para o liberalismo tardio. São Paulo: Ubu Editora, 2023.
QUIJANO, Anibal. Colonialidad y modernidad/racionalidad. Perú Indígena, Lima, v. 13, n. 29, p.11-20, 1992.
RUIZ, Sandra; VOURLOUMIS, Hypatia. Formação humana sem forma: caminhos para o fim deste mundo. São Paulo: Sobinfluencia edições, 2023.
SAFATLE, Vladimir. Cinismo e falência da crítica. São Paulo: Boitempo, 2008.
SAID, Edward. Orientalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1978.
SILBERTIN-BLANC, Guillaume. Psicanálise, diferenças antropológicas e formas políticas: para introduzir a diferença intensiva. Lacuna: uma revista de psicanálise, São Paulo, n. 1, p. 10, 2016. Disponível em: https://revistalacuna.com/2016/05/22/para-introduzir-a-diferenca-intensiva. Acesso em: 31 mar. 2024.
SILVA, Cleber D. L. Uma só ou várias fontes cosmopolíticas? Revista Territórios, v. 3, n. 6, p. 1-25, 2016. Disponível em: https://climacom.mudancasclimaticas.net.br/uma-so-ou-varias-fontes-cosmopoliticas/. Acesso em: 21 mar. 2023.
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
SLOTERDIJK, Peter. Regras para o parque humano. São Paulo: Estação Liberdade, 1999.
SOURIAU, Étienne. Diferentes modos de existência. São Paulo: n-1 Edições, 2020.
SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte, Editora UFMG, 2014.
STENGERS, Isabelle. Penser avec Whitehead: une libre et sauvage création de concepts. Paris: Seuil, 2002.
STENGERS, Isabelle. The Cosmopolitical Proposal. In: LATOUR, Bruno; WEIBEL, Peter. Making Things Public: Atmospheres of Democracy. Cambridge: The MIT Press, 2005. p. 994-1.003.
STENGERS, Isabelle. Uma outra ciência é possível: manifesto por uma desaceleração das ciências. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2023.
SÜSSEKIND, Felipe. Natureza e Cultura: Sentidos da diversidade. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 236-254, 2018. DOI: https://doi.org/10.12957/irei.2018.35915
TSING, Anna. O cogumelo no fim do mundo: sobre a possibilidade de vidas nas ruínas do capitalismo. São Paulo: n-1 Edições, 2022.
VALENTIM, Marco Antonio. Amazona vittata: Notas sobre cosmopolítica e xenocídio. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, p. 1-17, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/2179-8966/2018/37910
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O problema da afinidade na Amazônia. In: VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem. São Paulo, Cosac & Naify, 2002.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A floresta de cristal: notas sobre a ontologia dos espíritos amazônicos. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 15, n. 14-15, p. 319-338, 2006. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v15i14-15p319-338. Disponível em: https://revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50120. Acesso em 13 jul. 2023.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Filiação intensiva e aliança demoníaca. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 77, p. 91-126, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/nec/n77/a06n77.pdf. Acesso em: 26 jul. 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-33002007000100006
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais. Elementos para uma antropologia pós-estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Alexandre Simão de Freitas

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Declaração de direitos autorais: Os trabalhos publicados são de propriedade dos seus autores, que poderão dispor deles para posteriores publicações, sempre fazendo constar a edição original (título original, Educação e Filosofia, volume, nº, páginas). Todos os artigos desta revista são de inteira responsabilidade de seus autores, não cabendo qualquer responsabilidade legal sobre seu conteúdo à Revista ou à EDUFU.
Declaration of Copyright: The works published are the property of their authors, who may make use of them for later publications, always citing the original publication (original title, Educação e Filosofia, volume, issue, pages). The authors of the articles published are fully responsible for them; the journal and/or EDUFU are exempt from legal responsibility for their content.
Déclaration de droit d’auteur: Les œuvres publiées sont la propriété de leurs auteurs, qui peuvent les avoir pour publication ultérieure, à condition que l'édition originale soit mentionnée (titre de l'original, Educação e Filosofia, volume, nombre, pages). Tous les articles de cette revue relèvent de la seule responsabilité de leurs auteurs et aucune responsabilité légale quant à son contenu n'incombe au périodique ou à l’EDUFU.
