Nomenclatura Gramatical Brasileira sob a perspectiva da Política Linguística
DOI:
https://doi.org/10.14393/DL50-v16n2a2022-7Palavras-chave:
NGB, Língua Portuguesa, Ensino de língua portuguesa, Categorias metalinguísticas, Política LinguísticaResumo
A Nomenclatura Gramatical Brasileira, também denominada pela sigla correspondente, NGB, foi instituída em 1959 pela Portaria Ministerial nº 36 de 28 de janeiro do mesmo ano, com o objetivo declarado de simplificar e uniformizar a metalinguagem utilizada no espaço educacional face à diversidade terminológica existente, à época. Sendo produto de uma política linguística voltada para o ensino, a NGB repercutiu de modo significativo não apenas nas práticas pedagógicas dos professores de Língua Portuguesa, em sala de aula, como também na reconfiguração dos materiais gramaticográficos. Considerando os resultados dessa política, ecoados até hoje, buscamos observer como se procedeu o processo sócio-político-ideológico de criação da NGB, pelas lentes do campo disciplinar da Política Linguística, notadamente a partir da noção de Política Linguística de Johnson (2009), dada a compreensão de que a implantação de uma política linguística é, também, fruto de uma atmosfera intelectual sócio-política do período do qual emerge. Metodologicamente, este estudo guia-se pelos parâmetros da pesquisa documental, qualitativa e interpretativista (LIN, 2015). A análise aponta para os seguintes achados: (i) o contexto macrossocial foi fundamental para o delineamento do projeto que culminou na elaboração da NGB; (ii) a criação da nomenclatura teve a atuação de agentes políticos, como o ministro Clóvis Salgado e, notadamente, agentes intelectuais, a saber, professores de formação filológica e atuantes no Colégio Pedro II; (iii) a unificação terminológica deixa de ser entendida em uma perspectiva estrita e puramente linguístico-pedagógica para ser compreendida, neste estudo, como uma política linguística que confere concretude a políticas do Estado Nacional.
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