“Nós vamos ter que dar dez beijos em cada um”

a gênese de discurso direto em um processo de escritura a dois

Autores

  • Eduardo Calil Titular Professor, Federal University of Alagoas (UFAL) Researcher, National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) Coordinator, Laboratory of School Manuscript (LAME) Leader, Group Research Writing, Text & Creation (ET&C)
  • Kall Anne Sheyla Amorim Braga Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

DOI:

https://doi.org/10.14393/DL31-v11n4a2017-5

Palavras-chave:

Narrativa ficcional, Manuscrito escolar, Processo de escritura em ato, Discurso reportado, Discurso direto

Resumo

A escrita de falas de personagens (discurso direto) em narrativas ficcionais é um fenômeno linguístico-enunciativo complexo, envolvendo desdobramentos de diferentes planos enunciativos (passagem da voz do narrador para as vozes dos personagens e vice-versa), ao mesmo tempo em que requer do aluno o domínio de recursos gráficos e linguísticos para representá-las no texto escrito. Esta complexidade tem sido discutida pela literatura especializada a partir da análise de manuscritos escolares, onde as falas dos personagens já estão escritas. Apesar do produto textual ser um importante elemento para discutir como escreventes novatos podem representar o discurso direto, o texto acabado não permite observar como este discurso foi construído ao longo do processo de escritura. Partindo da Genética Textual e da Linguística Enunciativa, este trabalho discute o processo genético e criativo do discurso direto proposto por uma dupla de alunas recém-alfabetizadas (6-7 anos), quando o professor da turma solicitou que combinassem e escrevessem um único texto em sala de aula. Com o apoio do registro fílmico de todo o processo de escritura, a análise pôde identificar que a gênese textual da fala de um personagem passa por intensas (re) formulações antes de sua inscrição e linearização na folha de papel. Foi igualmente observado que a criação e o registro escrito do discurso direto são influenciados pelo conteúdo narrado, bem como pela condição letrada e subjetividade dos escreventes novatos.

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Biografia do Autor

Eduardo Calil, Titular Professor, Federal University of Alagoas (UFAL) Researcher, National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) Coordinator, Laboratory of School Manuscript (LAME) Leader, Group Research Writing, Text & Creation (ET&C)

Eduardo Calil é doutor em Psicolinguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem (UNICAMP, 1995) e Professor Titular da Universidade Federal de Alagoas. Atualmente, lidera o Grupo de Pesquisa Escritura, Texto e Criação (ET&C), dirige o Laboratório do Manuscrito Escolar (LAME) e é pesquisador do CNPq (nível 1D). Fez estágios de pós-doutoramento no Institut des Texts et Manuscrits Modernes

Kall Anne Sheyla Amorim Braga, Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), linha de pesquisa Educação e Linguagem. Na interface teórica dos estudos desenvolvidos em Genética Textual e Linguística da Enunciação, tem se dedicado a investigar processos de escritura colaborativa em sala de aula, quando alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental escrevem seus primeiros textos, debruçando-se sobre a construção coenunciativa do discurso reportado.

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Publicado

07.11.2017

Como Citar

CALIL, E.; BRAGA, K. A. S. A. “Nós vamos ter que dar dez beijos em cada um”: a gênese de discurso direto em um processo de escritura a dois. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 11, n. 4, p. 1175–1193, 2017. DOI: 10.14393/DL31-v11n4a2017-5. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/38209. Acesso em: 22 dez. 2024.