“Filha do leiteiro”

a negociação de pistas de contextualização no contexto de ensino de português brasileiro como língua adicional

Autores

  • Rodrigo Albuquerque Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.14393/DL30-v11n3a2017-22

Palavras-chave:

Pistas de contextualização, Atividade inferencial, Co-construção de sentidos, Ensino de português brasileiro como língua adicional

Resumo

A interação humana prevê, a todo instante, a negociação de sentidos entre os interagentes, a partir de suas enunci(ações). Estes, por sua vez, nem sempre revelam seus sentidos na superfície dos enunciados, o que demanda, assim, um exercício inferencial frente às ações do outro. Em relação a encontros interculturais, tal propriedade se torna ainda mais acentuada, em virtude das (possíveis) distintas convenções socioculturais. Este estudo visa a analisar como a professora de português brasileiro e as colaboradoras do estudo (colombianas) negociam, por meio de pistas de contextualização linguísticas e extralinguísticas, um enunciado irônico. Para a geração de dados, contamos com a participação da professora do curso e de duas estudantes (Laudiel e Mercedes), que permitiram o registro das imagens e se comprometeram com o visionamento das próprias ações e a reflexividade acerca destas. Por fim, constatamos que o enunciado irônico “filha do leiteiro”, proferido pela professora, foi adequadamente processado por Mercedes e pelos demais estudantes, com exceção de Laudiel, que sinalizou essa dificuldade com pistas de natureza não verbal e com posterior relato. O estudo de pistas de contextualização torna-se fundamental na prevenção de ruídos interacionais, provenientes da não partilha de sentido entre sujeitos de culturas distintas.

Downloads

Biografia do Autor

  • Rodrigo Albuquerque, Universidade de Brasília
    Rodrigo Albuquerque é professor adjunto da Universidade de Brasília. Doutor em Linguística, especializou-se na área da Sociolinguística Interacional e Cognição Social, atuando também nas áreas de Linguística de Texto e Pragmática. Interessa-se por estudos sociointeracionais tanto no âmbito do ensino de português como segunda língua quanto na perspectiva dos processos de leitura e de escrita na universidade.

Referências

ALBUQUERQUE, R. O processamento de pistas de contextualização: um olhar voltado para os falantes de espanhol aprendizes de português. 2009. 220 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

AUER, P. From Context to Contextualization. Links & Letters, v. 3, p. 11-28, 1996.

ATKINSON, J. M.; HERITAGE, J. Jefferson’s Transcript Notation. In: JAWORSKI, A.; COUPLAND, N. The Discourse Reader. 2nd ed. USA: Routledge, 2006 [1984].

BRAIT, B. Ironia em perspectiva polifônica. 2. ed. Campinas: Unicamp, 2008.

BRANDÃO, C. Discurso Acadêmico: estratégias de variação estilística em situações de aula. 2005. 157 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade de Brasília, Brasília, 2005.

BRYANT, G. A.; FOX TREE, J. E. Recognizing verbal irony in spontaneous speech. Metaphor and Symbol, v. 17, n. 2, p. 99-117, 2002. https://doi.org/10.1207/S15327868MS1702_2

______. Is there an ironic tone of voice? Language & Speech, v. 48, p. 257-277, 2005. https://doi.org/10.1177/00238309050480030101

CANÇADO, M. Um estudo sobre a pesquisa etnográfica em sala de aula. Trab. Ling. Apl., Campinas, v. 23, p. 55-69, jan/jul 1994.

CASTILHO, A. T. A conversação. In: ______. A língua falada no ensino de português. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do Discurso. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2008.

COOK-GUMPERZ, J. & GUMPERZ, J. J. Frames and contexts: another look at the macro-micro link. Pragmatics, v. 21, n. 2, p. 283-286, 2011. https://doi.org/10.1075/prag.21.2.06coo

DUCROT, O.; TODOROV, T. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem. Tradução de Alice Kyoko Miyashiro et al. São Paulo: Perspectiva, 2010.

DURANTI, A. Ethnographic methods. In: Linguistic Anthropology. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. https://doi.org/10.1017/CBO9780511810190.005

ERICKSON, F. Audiovisual Records as a Primary Data Source. In: GRIMSHAR, A. (Ed.). Sociological Methods and Research, Special Issue on Sound-Image Records in Social Interaction Research, v. 11, n. 2, p. 213-232, 1982. https://doi.org/10.1177/0049124182011002008

______. Ethnographic microanalysis. In: MCKAY, S. L.; HORNBERGER, N. H. (Eds.). Sociolinguistics and Language Teaching. USA: Cambridge University Press, 2013 [1996].

FETTERMAN, D. M. Ethnography: step by step. 2 ed. Applied Social Research Methods Series. v. 17. USA: Sage Publications, 1998.

FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Tradução de Sandra Netz. Porto Alegre: Bookman, 2004.

GOFFMAN, E. Interaction Ritual: essays on face-to-face behavior. UK: Penguin University Books, 1967.

GOODWIN, C.; DURANTI, A. Rethinking context: an introduction. In: ______. Rethinking context: language as an interactive phenomenon. Cambridge: Cambridge University Press, 1997 [1992].

GREEN, J.; BLOOME, D. Ethnography and ethnographers of and in education: a situated perspective. In: FLOOD, J.; HEATH, S. B.; LAPP, D. (Orgs.). Handbook for literacy educators: research in the community and visual arts. New York: Macmillan, 1997.

GUMPERZ, J. J. Discourse strategies. Cambridge: Cambridge University Press, 1982a. https://doi.org/10.1017/CBO9780511611834

______. Fact and inference in courtroom testimony. In: _____. (Ed.). Language and social identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1982b.

______. Communicative Competence. In: COUPLAND, N.; JAWORSKI, A. (Eds.). Sociolinguistics: A Reader and Coursebook. England: Palgrave, 1997. https://doi.org/10.1007/978-1-349-25582-5_6

______. On interactional sociolinguistic method. In: SARANGI, S.; ROBERTS, C. (Eds.). Talk, work and institutional order. Berlin: Mouton de Gruyter, 1999. https://doi.org/10.1515/9783110208375.4.453

______. Interactional Sociolinguistics: A Personal Perspective. In: SCHIFFRIN, D.; TANNEN, D.; HAMILTON, H. E. The Handbook of Discourse Analysis. MA: Blackwell, 2003.

______; COOK-GUMPERZ, J. Introduction: language and the communication of social identity. In: GUMPERZ, J. J. (Ed.). Language and social identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1982. https://doi.org/10.1017/CBO9780511611834.003

______; SZYMANSKI, M. Collaborative Practices in Bilingual Cooperative Learning Classrooms. Santa Cruz, CA: CREDE, 1999.

HAMON, P. Le littéraire, la littérature, le social et la valeur. Cahiers de recherche sociologique, n. 12, p. 21-33, 1989. https://doi.org/10.7202/1002055ar

HANKS, W. F. O que é contexto. In: BENTES, A. C.; REZENDE, R. C.; MACHADO, M. R. (Orgs.). Língua como prática social: das relações entre língua, cultura e sociedade a partir de Bourdieu e Bakhtin. São Paulo: Cortez, 2008.

HANSELL, M.; AJIROTUTU, C. S. Negotiating interpretations in interethnic settings. In: GUMPERZ, J. J. (Ed.). Language and social identity. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.

KNAPP, M. L. Nonverbal Communication in Human Interaction. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1972.

______; HALL, J. A. Nonverbal Communication in Human Interaction. 3rd ed. USA: Harcourt Brace Jovanovich, 1992.

KRAMSCH, C. Language and Culture. Oxford: Oxford University Press, 1998.

LEVINSON, S. C. Contextualizing ‘contextualization cues’. In: EERDMANS, S. L.; PREVIGNANO, C. L.; THIBAULT, P. J. Language and Interaction: discussions with John J. Gumperz. Amsterdam: John Benjamins, 2003. https://doi.org/10.1075/z.117.04lev

MARCUSCHI, L. A. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

OCHS, E. Transcription as theory. In: JAWORSKI, A.; COUPLAND, N. The Discourse Reader. 2nd ed. USA: Routledge, 2006 [1979].

OLBRECHTS-TYTECA, L. Le comique du discours. Bruxelles: Edition de l’Université de Bruxelles, 1974.

PRETI, D. (Org.). Normas para transcrição dos exemplos. In: ______. Cortesia verbal. São Paulo: Humanitas, 2008.

RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. Sociolinguística Interacional: antropologia, linguística e sociologia em análise do discurso. Porto Alegre: AGE, 1998.

______; PEREIRA, M. G. D. A noção de contexto na análise do discurso. Veredas, v. 6, n. 2, p. 49-67, jul./dez. 2002.

SCHIFFRIN, D. Interactional Sociolinguistics. In: MCKAY, S. L.; HORNBERGER, N. H. (Eds.). Sociolinguistics and Language Teaching. USA: Cambridge University Press, 2013 [1996].

SEARLE, J. R. Indirect Speech Acts. In: COLE, P.; MORGAN, J. (Eds.). Speech Acts (Syntax and Semantics, volume 3). New York: Academic Press, 1975.

TANNEN, D. Interactional Sociolinguistics. In: AMMON, U.; DITTMAR, N.; MATTHEIER, K. J.; TRUDGILL, P. (Eds.). Sociolinguistics: An International Handbook of the Science of Language and Society. Berlin: Walter de Gruyter, 2004.

______. Interactional Sociolinguistics as a resource for Intercultural Pragmatics. Intercultural Pragmatics, v. 2, n. 2, p. 205-208, 2005.

VAN DIJK, T. A. Discurso e contexto: Uma abordagem sociocognitiva. Tradução de Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2012.

______. Discurso e contexto: Uma abordagem sociocognitiva. Tradução de Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2012. Resenhado por ALBUQUERQUE, R. Cadernos de Linguagem e Sociedade, v. 13, n. 1, p. 209-213, 2012.

WATSON-GEGEO, K. A. Ethnography in ESL: Defining the Essentials. TESOL Quarterly, v. 22, n. 4, p. 32-49, 1988. https://doi.org/10.2307/3587257

______; ULICHNY, P. Ethnographic Inquiry into Second Language Acquisition and Instruction. Working Papers in ESL, v. 7, n. 2, p. 75-92, 1988.

Downloads

Publicado

01.10.2017

Como Citar

ALBUQUERQUE, Rodrigo. “Filha do leiteiro”: a negociação de pistas de contextualização no contexto de ensino de português brasileiro como língua adicional . Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 11, n. 3, p. 929–950, 2017. DOI: 10.14393/DL30-v11n3a2017-22. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/37295. Acesso em: 4 jun. 2025.