Apresentação

Autores

  • Estevan Leopoldo de Freitas Coca Universidade Federal de Alfenas https://orcid.org/0000-0001-9424-9699
  • Gabriela Abrahão Masson Universidade Federal do Triângulo Mineiro https://orcid.org/0000-0002-1837-505X
  • Janaina Francisca de Souza Campos Vinha Universidade Federal do Triângulo Mineiro
  • José Sobreiro Filho Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.14393/RCT174701

Resumo

O caráter devastador da necropolítica (MBEMBE, 2016) adotada pelo governo de Jair Messias Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), vem minando a (re) existência da classe trabalhadora e atinge as mais distintas esferas socioespaciais. Nos campos, nas águas e nas florestas, diversas são as formas de violência e inúmeros são os ataques às comunidades camponesas, indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais, evidenciando um conjunto orquestrado, deliberado e impositivo de mudanças cruéis e regimentadas por uma agenda ultraneoliberal, revigorada no Brasil com o golpe contra ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016.

Diversos foram os retrocessos no âmbito da institucionalidade das políticas públicas voltadas ao campo para a agricultura camponesa e para os territórios de reforma agrária e quilombolas. Os direitos sociais dos (as) trabalhadores (as) rurais, que além de serem conquistas pontuais e tardias, estão cada vez mais ameaçados, sendo a fome e a pobreza uma realidade latente e reveladora da atual configuração da questão agrária brasileira.

Não temos dúvida de que também no Brasil existe um governo populista e de extrema direita com fortes raízes agrárias (SCOONES et al., 2022), haja vista os incontestes apoios que recebe de grande parcela do agronegócio, dos grileiros, dos garimpeiros, das mineradoras e dos madeireiros. Faz parte de seus objetivos não apenas a invisibilização de modos de produção e vida que se contraponham ao agronegócio, como também o seu desaparecimento. Ou seja, se em contextos de exacerbação do neoliberalismo, a invisibilidade da produção familiar foi um duro golpe naqueles (as) que anseiam por um campo mais justo e saudável, na atualidade, o que vivemos/temos, é muito pior. Instado por um anseio de eliminação daqueles (as) que pensam e agem diferente do que é previsto e propagado por sua base, o atual governo brasileiro atua em favor da anulação física e simbólica de camponeses e dos povos originários e tradicionais, ribeirinhos (as), quilombolas, extrativistas etc. A ascensão da hegemonia política dessa direita populista, autoritária e fascista no Brasil, desde então, faz com que o processo de luta pela terra seja cada vez mais árduo, travejado por disputas e conflitos, necessitando a reinvenção e a renovação de instrumentos e estratégias contra-hegemônicas.

Potencializada pela pandemia de Covid-19, iniciada em Março de 2020, a redução de direitos, renda, emprego e liberdade colocadas à essas populações tornam-nas ainda mais vulneráveis, intensificando os atos de desrespeito e violência contra os (as) trabalhadores (as) do campo, em assentamentos rurais, acampamentos, quilombos, junto às mulheres, à população LGBTQIA+ e aos territórios indígenas e tradicionais em todo o país.

Esse cenário é marcado por um profundo desinteresse na vida dos camponeses (as), quilombolas, indígenas, ribeirinhos etc., especialmente colocando no horizonte a possibilidade de eliminação física dos adversários. Aos poucos, a estética da narrativa construída levou os sujeitos organizados, insubordinados e resistentes à razão neoliberal a se tornarem muito mais do que simples adversários políticos, transformando homens e mulheres em inimigos do desenvolvimento nacional.

Mesmo nesse cenário de crescente medo e tensão, as ações desses sujeitos têm auxiliado a garantia de direitos básicos a diversos grupos, especialmente no combate à fome, através, por exemplo, da promoção do acesso a alimentos agroecológicos. Isso situa que apesar do agronegócio dinamizar a definição do alimento-mercadoria, a solidariedade de movimentos camponeses pontua por um outro caminho, o do alimento-bem comum. Mas essa realidade ainda é reveladora de outro fato curioso acerca dos movimentos camponeses, indígenas, quilombolas, ribeirinhos etc. no Brasil. Mesmo diante da necessidade do isolamento social durante a pandemia de Covid-19, os movimentos populares da esquerda não conseguiram cumprir o isolamento porque tiveram que seguir e ampliar suas lutas devido ao crescimento da pauta da saúde, mas também assumiram a responsabilidade por, através de ações solidárias classistas, alimentar a classe trabalhadora

Diante dessa problemática, a proposta deste Dossiê é apresentar aos leitores estudos comprometidos e críticos que sejam capazes de estimular diálogos, pensamentos, conhecimentos, concepções, práticas e experiências multidisciplinares de ordem contestadora e emancipatória, com ênfase em análises investigativas que provoquem a reflexão sobre a questão agrária no país, sobretudo no que diz respeito ao processo de lutas, enfrentamentos e resistências pela/na terra no contexto de Covid-19 desde 2020.

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Publicado

04-10-2022

Como Citar

COCA, E. L. de F.; MASSON, G. A.; VINHA, J. F. de S. C.; SOBREIRO FILHO, J. Apresentação. Revista Campo-Território, Uberlândia, v. 17, n. 47 Out., p. 01–07, 2022. DOI: 10.14393/RCT174701. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/67154. Acesso em: 26 jul. 2024.

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