O amigo-inimigo: contribuições da filosofia indígena à teoria da amizade

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v37n80a2017-68661

Palabras clave:

Amizade, Filosofias, Indígenas

Resumen

Resumo: Este ensaio pretende compreender algumas das imagens diversas que o amigo pode suscitar em nosso pensamento. Parte-se de uma crítica ao tratamento filosófico da tradição ocidental-moderna à amizade, questionando a tese aristotélica do amigo como um outro-si-mesmo, fraterno e irmão. Então, busca-se percorrer imagens a partir das filosofias indígenas, considerando a política de amizade inventada entre anfitriões indígenas e antropólogos. Nestas relações que envolvem Dom Juan e Castaneda, Kopenawa e Albert, Dzoodzo e este autor, vislumbra-se uma ética que se constitui a partir da imagem imanente do inimigo e não do irmão fraterno. Desta perspectiva, passamos a considerar, ao invés de uma alteridade binomial, como em Aristóteles, uma alteridade genérica, enquanto um fundo virtual de diferença, a partir do qual as relações de que são feitas a amizade são atualizadas. Esse movimento implica reconhecer enquanto sujeitos entes e seres não concebidos assim no arranjo sociopolítico moderno. Por fim, o amigo emerge como uma atualização de um outro-outro, deixando-nos com a questão extraída da metafísica indígena: quais são os efeitos políticos de reconhecer o amigo a partir da imanência do inimigo?

Palavras-chave: Amizade; Indígenas; Filosofias

The friend-enemy: contributions of indigenous philosophy to the theory of friendship

Abstract: This essay aims to understand some of the diverse images that the friend can raise in our thinking. It starts from a critique of the Western-modern tradition's philosophical treatment of friendship, questioning the Aristotelian thesis of the friend as an an another self, fraternal and brotherly. Then, it seeks to go through images from indigenous philosophies, considering the politics of friendship invented between indigenous hosts and anthropologists. In these relationships involving Don Juan and Castaneda, Kopenawa and Albert, Dzoodzo and this author, we glimpse an ethics that is constituted from the immanent image of the enemy and not of the fraternal brother. From this perspective, we come to consider, instead of a binomial alterity, as in Aristotle, a generic alterity, as a virtual background of difference, from which the relations of which friendship is made are actualized. This movement implies recognizing as subjects entities and beings not conceived in this way in the modern socio-political arrangement. Finally, the friend emerges as an actualization of an other himself, leaving us with the question drawn from indigenous metaphysics: what are the political effects of recognizing the friend from the immanence of the enemy?

Key-words: Friendship; Indians; Philosophies

El amigo-enemigo: aportaciones de la filosofía indígena a la teoría de la amistad 

Resumen: Este ensayo pretende comprender algunas de las diversas imágenes que el amigo puede suscitar en nuestro pensamiento. Parte de una crítica al tratamiento filosófico de la amistad en la tradición occidental-moderna, cuestionando la tesis aristotélica del amigo como un outro-yo, fraternal y hermanado. A continuación, tratamos de recorrer las imágenes de las filosofías indígenas, considerando la política de la amistad inventada entre los anfitriones indígenas y los antropólogos. En estas relaciones que involucran a Don Juan y Castaneda, Kopenawa y Albert, Dzoodzo y este autor, vislumbramos una ética que se constituye a partir de la imagen inmanente del enemigo y no del hermano fraterno. Desde esta perspectiva, comenzamos a considerar, en lugar de una alteridad binomial, como en Aristóteles, una alteridad genérica, como fondo virtual de la diferencia, a partir de la cual se actualizan las relaciones de las que está hecha la amistad. Este movimiento implica reconocer como sujetos a entidades y seres no concebidos así en el ordenamiento sociopolítico moderno. Finalmente, el amigo emerge como actualización de un otro-otro, dejándonos la pregunta extraída de la metafísica indígena: ¿cuáles son los efectos políticos de reconocer al amigo desde la inmanencia del enemigo?

Palabras-clave: Amistad; Indios; Filosofías.

Data de registro: 13/03/2023

Data de aceite: 20/09/2023

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

João Jackson Bezerra Vianna, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor no Departamento de Psicologia e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). E-mail: joaojbvianna@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5097849908288629. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8952-7292.

Citas

AGAMBEN, Giorgio. O amigo. Caderno de Leituras, Chão de feira, n.10, 1-8, 2012.

BARRETO, João Paulo et al. Omerõ:constituição e circulação de conhecimentos yepamahsã (Tukano). Manaus: Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI)/Universidade Federal do Amazonas/EDUA, 2018.

CASTANEDA, Carlos. Uma estranha realidade. Rio de Janeiro: Editora Record, 1971.

CASTANEDA, Carlos. Viagem a Ixtlan. Rio de Janeiro: Editora Record, 1972.

CASTANEDA, Carlos. Porta para o infinito. Rio de Janeiro: Editora Record, 1974.

CASTANEDA, Carlos. (2013). A erva do diabo. Os ensinamentos de Dom Juan. Rio de Janeiro: Best Seller, 2013.

DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Abecedário de Gilles Deleuze. Paris: Éditions Montparnasse, 1995

FAUSTO, Juliana. A Cosmopolítica dos Animais. São Paulo: N-1 Edições e Editora Hedra, 2020.

GUARANI, Jerá. Tornar-se selvagem. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, 14, 12-19, 2020.

GUATTARI, Felix. Revolução Molecular. São Paulo: Brasiliense, 1987.

HARAWAY, Donna. O manifesto das espécies companheiras – Cachorros, pessoas e alteridade significativa. Rio de janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

LATOUR, Bruno. Onde aterrar? Como se orientar politicamente no Antropoceno. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993a.

LÉVI-STRAUSS, Claude. História de Lince. São Paulo: Companhia das Letras, 1993b.

MBEMBE, Achille. Políticas da Inimizade. São Paulo: n-1, 2021.

ORTEGA, Francisco. Por uma ética e uma política da amizade. Caderno de Leituras, n.109, 1-17. Belo horizonte: Chão de feira, 2020.

PRECIADO, Paul. Um apartamento em Urano: crônicas da travessia. Rio de Janeiro: Zahar, 2019.

ROLNIK, Suely. Esferas da insurreição. Notas para uma vida não cafetinada. São Paulo: n-1, 2018.

ROLNIK, Suely. Antropofagia zumbi. Lisboa: Oca editorial, 2021.

SANTOS, Antônio Bispo. Colonização, quilombos: modos e significações. Associação de Ciência e Saberes para o Etnodesenvolvimento AYÓ, 2019.

TSING, Anna. Viver nas ruínas: paisagens multiespécies no Antropoceno. IEB Mil Folhas, 2019.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem. Cosac e Naify, 2002.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Antropologia Perspectivista e o método da equivocação controlada. Aceno – Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 5(10), 247-264, 2018. DOI: https://doi.org/10.48074/aceno.v5i10.8341.

Publicado

2023-12-12

Cómo citar

VIANNA, J. J. B. O amigo-inimigo: contribuições da filosofia indígena à teoria da amizade. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 37, n. 80, p. 1191–1222, 2023. DOI: 10.14393/REVEDFIL.v37n80a2017-68661. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/68661. Acesso em: 21 nov. 2024.

Número

Sección

Artigos