Recuperar o corpo-mundo
DOI:
https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v36n78a2022-65068Palabras clave:
Corpo-mundo, Cosmopolitismo, Filosofia da Educação, Decolonialidade, Formação humanaResumen
Resumo: A abstração da presença — a sublimação do corpo e a desconsideração dos sentidos — é, como diria Hans Gumbrecht, um dos efeitos da metafísica pela qual realiza-se a “perda do mundo”, a radical descorporalização exigida pela razão moderna. Alimentada pelas concepções filosóficas da Modernidade, essa tendência foi constantemente enfatizada pelas teorias educacionais até hoje influentes nos meios pedagógicos, além de sedimentada pelas limitações próprias ao modelo escolar amplamente instituído. A crítica e a superação desse modo de ser configuram-se hoje como urgência iminentemente política de enfrentamento das múltiplas ameaças que pesam hoje sobre a sociedade brasileira, e particularmente sobre todos os grupos que fazem corpo contra a intolerância, contra o racismo, enfim contra o que Achille Mbembé denominou necropolítica. Mas, estaria a filosofia da educação preparada para enfrentar tal urgência?
Palavras-chave: Corpo-mundo; Cosmopolitismo; Filosofia da Educação; Decolonialidade; Formação humana
Recovering the body-world
Abstract: The abstraction of the presence — the sublimation of the body and the disregard of the senses — is, as Hans Gumbrecht would say, one of the effects of metaphysics by which takes place the “loss of the world”, the radical decorpocorporality required by modern reason. Fueled by the philosophical conceptions of Modernity, this tendency was constantly emphasized by the educational theories that are still influential in the pedagogical environments, being sedimented by the inherent limitations of the widely established school model. The criticism and the overcoming of this way of being are configured today as an potencialy political urgency to confront the multiple threats to Brazilian society, and particularly to all groups that make body against intolerance, against racism, and finally against Achille Mbembé called “necropolitics”. But is the philosophy of education prepared to meet such an urgency?
Key-words: Body-world; Cosmopolitanism; Philosophy of Education; Decoloniality; Human paideia
Récupérer le corps-monde
Résumé : L’abstraction de la présence — la sublimation du corps et le mépris des sens — est, comme le dirait Hans Gumbrecht, l’un des effets de la métaphysique, par lequel s’opère la “perte du monde”, la désincarnation radicale qu’exige la raison moderne. Nourrie par les conceptions philosophiques de la Modernité, cette tendance a été constamment mise en avant par des théories pédagogiques qui font encore autorité dans les milieux pédagogiques, en plus d’être sédimentée par les limites inhérentes au modèle scolaire largement établi. La critique et le dépassement de ce mode d’être se faites aujourd’hui une urgence potentiellement politique, car il s’agit de faire face aux multiples menaces qui pèsent aujourd’hui sur la société brésilienne et singulièrement sur tous les groupes qui font corps contre l’intolérance, contre le racisme, bref, contre ce qu’Achille Mbembé appelle la nécropolitique. Mais la philosophie de l’éducation serait-elle en mesure d’étayer la réponse à une telle urgence ?
Mots-clés: Corps-monde; Cosmopolitisme; Philosophie de l’Éducation; Décolonisation; Formation humaine
Data de registro: 14/03/2022
Data de aceite: 20/07/2022
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