Da Semântica à Pragmática: Kant, Hegel e o Debate em torno da Normatividade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v38a2024-74932

Palavras-chave:

G.W.F Hegel, I. Kant, J. G. Fichte, Reconhecimento, Autonomia

Resumo

O presente artigo pretende discutir a transformação, proposta por Hegel, da noção kantiana de liberdade como autonomia no paradigma do reconhecimento recíproco. Na primeira seção, vou retomar alguns pontos da Fundamentação que vêm sendo interpretados como conduzindo a paradoxos na concepção de autonomia (1). Em seguida, pretendo recordar esquematicamente a interpretação proposta por Loparic acerca do ‘fato da razão’, procurando especificar aí uma solução semântica para o problema da normatividade embasada na autonomia (2). Na terceira seção, a intenção é fazer uma comparação entre a interpretação semântica do sentimento de respeito com as heterodoxas propostas, desenvolvidas recentemente por Honneth e Brandom, de uma interpretação intersubjetivista dessa noção, tentando avaliar a partir disso que tipo de dificuldade uma concepção pragmática de normatividade teria de resolver (3). Em seguida, o objetivo é expor, de maneira bastante esquemática, o modo como Fichte articula a transformação do conceito de respeito em termos da noção, formulada por ele, de reconhecimento recíproco (4). Finalmente, nas partes conclusivas, pretendo reconstruir a interpretação, proposta por Brandom, para a transformação do modelo de normatividade baseado na autonomia naquele baseado no reconhecimento, ponderando aí motivos tanto epistêmicos quanto práticos de radicalização pragmática da semântica kantiana (5).     

Palavras-chave: G.W.F Hegel; I. Kant; J. G. Fichte; Reconhecimento; Autonomia. 

From Semantics to Pragmatics: Kant, Hegel and the Debate surrounding Normativity

Abstract: This article aims to discuss the transformation, proposed by Hegel, of the Kantian notion of freedom as autonomy into the paradigm of reciprocal recognition. In the first section, I will return to some points of the Groundwork that have been interpreted as leading to paradoxes in the conception of autonomy (1). Next, I intend to schematically recall the interpretation proposed by Loparic about the 'fact of reason', seeking to specify the semantic solution to the problem of normativity based on autonomy (2). In the third section, the intention is to make a comparison between the semantic interpretation of the feeling of respect with the heterodox proposals, recently developed by Honneth and Brandom, of an intersubjectivist interpretation of this notion, trying to evaluate from this what type of difficulty a pragmatic conception of normativity would have to resolve (3). In the following section, the aim is to present, in a rather schematic manner, the way in which Fichte articulates the transformation of the concept of respect in terms of the notion, formulated by him, of reciprocal recognition (4). Finally, in the concluding parts, I intend to reconstruct the interpretation, proposed by Brandom, for the transformation of the model of normativity based on autonomy into that articulated in terms of recognition, considering both epistemic and practical reasons for the pragmatic radicalization of Kantian semantics (5).

Keywords: G.W.F Hegel; I. Kant; J. G. Fichte; Recognition; Autonomy.

De la semántica a la pragmática: Kant, Hegel y el debate sobre la normatividade 

Resumen: Este artículo pretende discutir la transformación, propuesta por Hegel, de la noción kantiana de libertad como autonomía en el paradigma del reconocimiento recíproco. En la primera sección, revisaré algunos puntos de la Fundación que se han interpretado como conducentes a paradojas en la concepción de autonomía (1). A continuación, pretendo recordar esquemáticamente la interpretación propuesta por Loparic sobre el “hecho de la razón”, buscando especificar allí una solución semántica al problema de la normatividad basada en la autonomía (2). En el tercer apartado, se pretende hacer una comparación entre la interpretación semántica del sentimiento de respeto con las propuestas heterodoxas, recientemente desarrolladas por Honneth y Brandom, de una interpretación intersubjetivista de esta noción, tratando de evaluar a partir de ésta qué tipo de dificultad una concepción pragmática de la normatividad tendría que resolver (3). En la siguiente parte, el objetivo es exponer, de manera muy esquemática, la manera en que Fichte articula la transformación del concepto de respeto en términos de la noción, formulada por él, de reconocimiento recíproco (4). Finalmente, en las partes finales, pretendo reconstruir la interpretación propuesta por Brandom para la transformación del modelo de normatividad basado en la autonomía en uno basado en el reconocimiento, considerando razones tanto epistémicas como prácticas para la radicalización pragmática de la semántica kantiana (5).

Palabras clave: G.W.F Hegel; I. Kant; JG Fichte; Reconocimiento; Autonomía.

Data de registro: 19/08/2024

Data de aceite: 25/09/2024

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Biografia do Autor

Erick Calheiros Lima, Universidade de Brasília (UnB).

* Doutor em Filosofia pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Professor de Filosofia em Universidade de Brasília (UnB). Docente efetivo no PPG-FIL/UnB. Bolsista Produtividade do CNPq. E-mail: erick.lima@unb.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3109241300359127. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1948-3255.

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Publicado

2024-12-06

Como Citar

LIMA, E. C. Da Semântica à Pragmática: Kant, Hegel e o Debate em torno da Normatividade. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 38, p. 1–52, 2024. DOI: 10.14393/REVEDFIL.v38a2024-74932. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/74932. Acesso em: 21 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê em Homenagem ao Tricentenário de Kant