Discurso, verdade e enigma na Apologia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v38a2024-70336

Palavras-chave:

Sócrates, Hermenêutica, Verdade, Discurso

Resumo

A principal hipótese deste trabalho é a de que Sócrates, na Apologia de Platão, utiliza determinados jogos de palavras como uma específica ferramenta retórica. O intuito disso parece ser convencer o leitor de uma prevalência da verdade no conjunto do discurso socrático. Para tanto, busca-se contrabalancear um jogo entre os termos discurso (logon 18b, 19b, 20e, 23d, 27c 28b, 31b, 34b; logos 20c, 26b, 34e; logou 23b; logoi 28c, 32d, 34a, 40b), verdade (aletheian, 17b, 20d, 33c; aletheiai 23b, 28d, 36d; aletheias 29e, 39b) e falsidade ou mentira (epseusanto 17a; pseude 18a; pseudei 26a; pseudetai 20e, 21b; pseudomenoi 34b; pseudos 34e). Nesse sentido, a proposta é apresentar como o discurso de defesa expõe, por meio desses termos, um sentido de hermenêutica socrática, como uma forma peculiar de interpretar oráculos e enigmas. Como obra dramática, a Apologia promove com essa encenação de Sócrates diante do tribunal um efeito retórico claro, pois o foco do discurso não é o júri, mas o leitor. Portanto, é necessário, no plano do discurso de defesa, que Sócrates utilize os recursos de linguagem que o mostrem ao leitor como distinto dos seus acusadores, que “muitas mentiras disseram” (ton pollon hon epseusanto).

Palavras-chave: Sócrates; Hermenêutica; Verdade; Discurso.

Speech, Truth and Enigma in the Apology

Abstract: The main hypothesis of this work is that Socrates, in Plato's Apology, uses certain wordplays as a specific rhetorical tool. The purpose of this seems to be to convince the reader of the prevalence of truth in the whole of Socratic discourse. Therefore, we seek to counterbalance a game between the terms discourse (logon 18b, 19b, 20e, 23d, 27c 28b, 31b, 34b; logos 20c, 26b, 34e; logou 23b; logoi 28c, 32d, 34a, 40b), truth (aletheian, 17b, 20d, 33c; aletheiai 23b, 28d, 36d; aletheias 29e, 39b) and falsehood or lie (epseusanto 17a; pseude 18a; pseudei 26a; pseudetai 20e, 21b; pseudomenoi 34b; pseudos 34e). In this sense, the proposal is to present how the defense discourse exposes, through these terms, a sense of Socratic hermeneutics, as a peculiar way of interpreting oracles and enigmas. As a dramatic work, the Apology promotes with this staging of Socrates in front of the court a clear rhetorical effect, since the focus of the discourse is not the jury, but the reader. Therefore, it is necessary, at the level of the defense discourse, that Socrates uses the language resources that show him to the reader as distinct from his accusers, who “told many lies” (ton pollon hon epseusanto).

Key-words: Socrates; Hermeneutics; Truth; Discourse.

Discurso, verdad y enigma en la Apología

Resumen: La principal hipótesis de este trabajo es que Sócrates, en la Apología de Platón, utiliza ciertos juegos de palabras como herramienta retórica específica. El propósito de esto parece ser convencer al lector del predominio de la verdad en todo el discurso socrático. Por lo tanto, buscamos contrapesar un juego entre los términos discurso (logon 18b, 19b, 20e, 23d, 27c 28b, 31b, 34b; logos 20c, 26b, 34e; logou 23b; logoi 28c, 32d, 34a, 40b), verdad (aletheian, 17b, 20d, 33c; aletheiai 23b, 28d, 36d; aletheias 29e, 39b) y falsedad o mentira (epseusanto 17a; pseude 18a; pseudei 26a; pseudetai 20e, 21b; pseudomenoi 34b; pseudos 34e). En ese sentido, la propuesta es presentar cómo el discurso de la defensa expone, a través de estos términos, un sentido de la hermenéutica socrática, como una forma peculiar de interpretar los oráculos y los enigmas. Como obra dramatica, la Apología promueve con esta puesta en escena de Sócrates frente a la corte un claro efecto retórico, ya que el centro del discurso no es el jurado, sino el lector. Por tanto, es necesario, a nivel del discurso de defensa, que Sócrates utilice los recursos lingüísticos que lo muestren al lector como distinto de sus acusadores, quienes “dijeron muchas mentiras” (ton pollon hon epseusanto).

Palabras-clave: Sócrates; Hermenéutica; Verdad; Discurso.

Data de registro: 02/08/2023

Data de aceite: 24/01/2024

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Biografia do Autor

José André Ribeiro, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA)

Doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professor de Filosofia em Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA). E-mail: joseandre@ifba.edu.br. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2909888019684406. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2983-3447.

Michel Menezes da Costa, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA)

* Doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professor de Filosofia em Instituto Federal da Bahia (IFBA). E-mail: michel.erga@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/0348437123087545. ORCID: https://orcid.org/0009-0006-9193-2939.

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Publicado

2024-12-05

Como Citar

RIBEIRO, J. A.; COSTA, M. M. da. Discurso, verdade e enigma na Apologia. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 38, p. 1–22, 2024. DOI: 10.14393/REVEDFIL.v38a2024-70336. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/70336. Acesso em: 21 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Marcelo Marques