A filosofia erva-daninha como uma proposta para a descolonização de saberes na educação e resistência aos desafios contemporâneos
DOI:
https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v36n77a2022-55781Palavras-chave:
colonialidade, diferenças, pluralidade, direitos humanos, monoculturaResumo
Resumo: A educação brasileira está estruturada a partir da colonialidade do saber (QUIJANO, 2005) que permeia a história do nosso território, determinando uma monocultura da mente (SHIVA, 2003) por meio da qual entendemos o mundo. No entanto uma educação que tem em seu cerne currículos monoculturais e silencia de diferentes maneiras o pensamento próprio e local leva a uma relação subalterna com o conhecimento. Diante de enormes desafios que o mundo contemporâneo em crise tem imposto, é necessário que repensemos os currículos escolares a fim de promover uma educação mais significativa para o mundo que está por vir. Com este artigo, temos como objetivo apontar caminhos para lidar com as diferenças no contexto escolar, ressignificando o que de fato é “daninho” para o mundo de hoje. Analisaremos a relação entre a monocultura da mente e do solo e a colonialidade do saber, apontando o potencial dos saberes não hegemônicos para resistir à colonialidade e suas consequências. Traremos como proposta uma filosofia erva-daninha que procura aprender com aquilo que foi descartado e considerado “daninho” pelo saber hegemônico, e que apresenta saberes e estratégias que nos permitem resistir aos desafios contemporâneos de maneira humanizada.
Palavras-chave: Colonialidade. Diferenças. Pluralidade. Direitos Humanos. Monocultura.
The weed philosophy as a proposal for the decolonization of knowledge in education and resistance to contemporary challenges
Abstract: Brazilian education is structured based on the coloniality of knowledge (QUIJANO, 2005) that permeates the history of our territory, determining a monoculture of the mind (SHIVA, 2003) in the way we understand the world. However, an education that has monocultural curricula at its core silences own and local thinking in different ways, leads to a subordinate relationship with knowledge. In view of the enormous challenges that the contemporary world in crisis has imposed, it is necessary that we rethink school curricula in order to promote a more meaningful education for the world to come. With this article, we aim to point out ways to deal with differences in the school context, redefining what is in fact “harmful” for today's world. We will analyze the relationship between the monoculture of mind and soil and the coloniality of knowledge, pointing out the potential of non-hegemonic knowledge to resist coloniality and its consequences. We will bring as a proposal a weed philosophy that seeks to learn from what was discarded and considered “harmful” by hegemonic knowledge, and that presents knowledge and strategies that allow us to resist contemporary challenges in a humanized way.
Keywords: Coloniality. Differences. Plurality. Human Rights. Monoculture.
La filosofía de la maleza como propuesta de descolonización del saber en educación y resistencia a los desafíos contemporáneos
Resumen: La educación brasileña está estructurada en base a la colonialidad del saber (QUIJANO, 2005) que impregna la historia de nuestro territorio, determinando un monocultivo de la mente (SHIVA, 2003) en la forma en que entendemos el mundo. Sin embargo, una educación que tiene currículos monoculturales en su núcleo y silencia de diferentes maneras el pensamiento proprio e local, conduce a una relación subordinada com el conocimiento. Frente a los enormes desafíos que el mundo contemporáneo en crisis ha impuesto, necesitamos repensar los planes de estudio escolares para promover una educación más significativa para el mundo venidero. Con este artículo, nuestro objetivo es señalar formas de lidiar con las diferencias en el contexto escolar, volviendo a significar lo que de hecho es “perjudicial” para el mundo de hoy. Analizaremos la relación entre el monocultivo de la mente y el suelo y la colonialidad del saber, señalando el potencial del saber no hegemónico para resistir la colonialidad y sus consecuencias. Traeremos como propuesta una filosofía de la maleza que busca aprender de lo descartado y considerado “nocivo” por los saberes hegemónicos, y que presenta saberes y estrategias que nos permiten resistir los desafíos contemporáneos de forma humanizada.
Palabras clave: Colonialidad. Diferencias. Pluralidad. Derechos Humanos. Monocultivo.
Data de registro: 29/06/2020
Data de aceite: 19/01/2022
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