A educação do homem interior: o cultivo da vontade em Agostinho de Hipona

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v35n73a2021-53046

Palavras-chave:

Formação, Vontade, Cultivo, Santo Agostinho, Alma

Resumo

A educação do homem interior: O cultivo da vontade em Agostinho de Hipona

Resumo: O estudo aqui apresentado tem como objetivo principal a investigação da formação humana nas obras filosóficas Comentários Literal ao Gênesis, A Trindade e O livre-arbítrio, de Agostinho de Hipona. Para isso, aborda-se a noção da antropologia do referido autor; a sua compreensão de corpo e alma (dimensão humana no homem animal) e, por último, objetiva-se explicitar alguns pressupostos de uma educação do ser humano orientada a uma boa formação da vontade. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, exploratória e de caráter hermenêutico. Agostinho concebe a ideia de homem como um ser dotado de corpo e alma. A alma, quando bem formada, pode conduzir os indivíduos à vida com sabedoria e, portanto, a uma beata vita. A vontade é o que movimenta toda as outras dimensões do ser humano e, por isso, ela deve ser bem formada. A educação da vontade, para o pensador, consiste em realizar o jogo de utilizar os objetos que servem de meio para algo e fruir ou contemplar aquilo que é fim em si mesmo. A vontade humana difere do que se passa no reino animal e é capaz de guiar bem o homem, concedendo-lhe minimamente uma relação de desprendimento com a matéria. Conclui-se, a partir dessas linhas mestras do pensamento do autor, que a ética agostiniana ao mesmo tempo que estabelece princípios para o bem agir e lograr uma vida feliz, exige, para isso, um processo formativo que consiste na educação da vontade, uma vez que Agostinho compreende-a como livre em si, isto é, como autodeterminante, ela pode voltar-se por si àquilo que é presença constante, isto é, a objetos de foro contemplativo e afastar-se, tanto quanto possível, dos ditames de uma vida submetida ao mundo material. 

Palavras-chave: Formação; Vontade; Cultivo; Santo Agostinho; Alma.

La educación del hombre interior: el cultivo de la voluntad en Agostinho de Hipona

Resumen: El estudio aquí presentado tiene como objetivo principal la investigación de la formación humana en las obras filosóficas Comentarios Literal al Génesis, La Trinidad y El Libre-Arbitrio, de Agostinho de Hipona. Así, se trata la noción y antropología del referido autor, su comprensión de cuerpo y alma (dimensión humana en el hombre animal) y, por último, se objetiva explicitar algunos supuestos de una educación del ser humano orientada a una buena formación de la voluntad. Es una investigación bibliográfica, exploratoria y de carácter hermenéutico. Agostinho concibe la idea de hombre como un ser dotado de cuerpo y alma. El alma, cuando bien formada, puede conducir los individuos a la vida con sabiduría y, por lo tanto, a una beata vita. La voluntad es lo que conduce todas las otras dimensiones del ser humano y, de esta manera, ella debe de ser bien formada. La educación de la voluntad, para el pensador, supone realizar el juego de utilizar los objetos que sirven como medio para algo y fruir o contemplar aquello que tiene fin en sí mismo. La voluntad humana es distinta de lo que se pasa en el reino animal y es capaz de guiar bien el hombre, le permitiendo mínimamente una relación de desprendimiento con la materia. Se concluye, desde esas líneas maestras del pensamiento del autor, que la ética agostiniana al tiempo que establece principios para el bien actuar y lograr una vida feliz, exige, para eso, un proceso formativo que consiste en la educación de la voluntad, una vez que Agostinho la comprende como libre en sí, es decir, como auto determinante, ella puede volverse a lo que es presencia constante, o sea, volverse a objetos de foro contemplativo y aislarse, tanto como sea posible, de los dictados de una vida sometida al mundo material.   

Palabras-clave: Formación; Voluntad; Cultivo; Santo Agostinho; Alma.  

The education of the inner-man: The cultivation of will in Augustine of Hippo

Abstract: This study is aimed at investigating human formation in the philosophical works On the literal meaning of Genesis, On the Trinity and On free choice of the will, by Augustine of Hippo. To meet that aim, the author’s notion of anthropology is addressed; his understanding of body and soul (human dimension in the human animal) and, finally, we explain some assumptions related to the education of the human being as leading to the good formation of will. This is a bibliographical, exploratory and hermeneutical study. Augustine conceives the idea of man as a being with body and soul. The soul, when well formed, can lead individuals to life with wisdom and, therefore, to a beata vita. Will moves all the other dimensions of the human being and, thus, it must be well formed. For Augustine, the education of the will consists of performing the game of using objects that work as means for something and enjoy or contemplate what is an end in itself. Human will differs from that of the animal kingdom and is capable of guiding man well, granting him a minimal relation of detachment from the material. The conclusion, based on such guidelines from Augustine’s thought, is that Augustinian ethics establishes principles for acting well and reaching a happy life and, at the same time, demands, for those aims, a formative process that consists of the education of the will, as Augustine understands it as free in itself, i.e., as self-determining, for it can turn by itself to what is a constant presence, i.e., to objects of contemplative scope and move away, as far as possible, from the dictates of a life submitted to the material world. 

Keywords: Formation; Will; Cultivation; Saint Augustine; Soul.

Data de registro: 07/03/2020

Data de aceite: 22/09/2021

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Daiane Costa, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Filosofia (UNISINOS)., mestre pelo Programa de Pós-graduação em Educação/UPF, graduada em Filosofia/ UPF.Professora da rede privada de educação básica. Desenvolve pesquisas relacionadas à formação humana, filosofia da educação e filosofia na Idade Média, com ênfase na obra filosófica de Agostinho de Hipona, sobretudo em sua ética e metafísica. E-mail: rodriguesdaiane14@yahoo.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2007-2303  Lattes: http://lattes.cnpq.br/7291433553630261

Angelo Vitório Cenci, Universidade de Passo Fundo (UPF)

Doutor em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor na Universidade de Passo Fundo (UPF).   E-mail: angelo@upf.br.  ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0541-2197  Lattes: http://lattes.cnpq.br/5553067405853480

Referências

AGOSTINHO, santo, bispo de Hipona. A Trindade. Trad. de Agustinho Belmonte. São Paulo: Paulus, 1984. (Coleção Patrística).

AGOSTINHO, santo, bispo de Hipona. O Livre-arbítrio. Trad. de Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1995. (Coleção Patrística).

AGOSTINHO, santo, bispo de Hipona. A vida feliz. Tradução de Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1998. (Coleção Patrística).

AGOSTINHO, santo, bispo de Hipona. A Doutrina Cristã. Trad. de Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 2002. (Coleção Patrística).

ARENDT, Hannah. Quaestio mihi factus sum: a descoberta do homem interior. In_________. A Vida do Espírito. Trad. de Cesar Augusto de Almeida; Antônio Abranches; Helena Martins. Civilização brasileira: Rio de Janeiro, 2009. p. 315-374.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para o Consumo: a transformação de pessoas em mercadoria. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. Acesso em 15 de Abr. de 2019. Disponível em: https://yadi.sk/i/csNXEE303GUFSR .

COSTA, Marcos Roberto Nunes. Introdução ao Pensamento Ético-Político de Santo Agostinho. São Paulo: Edições Loyola, 2009.

ESTÉVEZ, Antonio Pérez-. Ciencia y docencia en Agustín y Tomás de Aquino (del maestro agustiniano al maestro tomista). Revista Española de filosofía medieval. v. 3, p. 103-114, 1997. Acesso em 15 de Abr. de 2019. Disponível em: < http://www.uco.es/ucopress/ojs/index.php/refime/article/view/9705>. https://doi.org/10.21071/refime.v4i.9705

FRANGIOTTI, Roque. Introdução. In: Agostinho. A Vida Feliz. Trad. de Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1998. p. 111-116.

GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. 2. ed. São Paulo: Discurso Editorial; Paulus, 2010.

JÚNIOR, Nelson da Silva. O mal estar no sofrimento e a necessidade de sua revisão pela psicanálise. In: ________; SAFATLE, Vladimir; DUNKER, Christian (orgs.). Patologia do Social: arqueologias do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. p. 3558.

KEHL, Maria Rita. Três motivos (pelo menos) para se ler Freud, hoje. In: KUPERMANN, Daniel. Por que Freud Hoje? São Paulo: Zagodoni, 2017.

OLIVEIRA, Nair de Assis. Notas Complementares. In: AGOSTINHO. O Livre-arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995. p. 243-294.

ORTIZ, Ángel Damián Román. Valor y Educación del Amor Según Max Scheler y San Agustín de Hipona. Studia Gilsoniana: a journal in classical philosophy. Lublin, p. 7589, 2012. Acesso em 15 de Abr. de 2019. Disponível em : < http://cejsh.icm.edu.pl/cejsh/element/bwmeta1.element.desklight-73723edd-3f83-4be38751-e1abac3372ef/c/Article-Roman-Ortiz.pdf> .

PIRATELLI, Marcos Roberto. O Conceito de Homem em Santo Agostinho. In: VIII JORNADA DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS; I JORNADA INTERNACIONAL DE ESTUDOS ANTIGOS E MEDIEVAIS, 2010, Maringá. Anais de evento. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2010. p. 1-15. Acesso em 15 de Abr. de 2019. Disponível em: < http://www.ppe.uem.br/jeam/anais/2009/trabalhos.html>.

REIS, Émilien Vilas Boas. A Faculdade da vontade na Polêmica Antipelagiana em Santo Agostinho. Tese (Tese em Filosofia) – PUCRS. Porto Alegre, 2013. Acesso em 15 de Abr. de 2019. Disponível em: < http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/2853>.

SANGALLI, Idalgo José. A Beatitude e o Bem Supremo em Agostinho. In_______. O Fim Último do Homem: da eudaimonia aristotélica à beatitudo agostiniana. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998. p. 143-192.

SÉRVULO, Mariana. A Ética em Agostinho a Partir de Duas Similitudes Trinitárias: a filosofia (física, lógica, ética) e a trindade do conhecimento de si (memória, intellegentia, voluntas). In: BONI, Luis Alberto de (org.). Idade Média: ética e política. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. p. 57-61. https://doi.org/10.15448/1984-6746.1995.159.35986

SÉRVULO, Mariana. A vontade e vida intelectual: a vontade como amor e o conhecimento de Deus, de si e dos corpos. In:_____. O Movimento da Alma: A invenção por Agostinho do conceito de vontade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. p. 15-52.

Downloads

Publicado

2021-10-29

Como Citar

COSTA, D.; CENCI, A. V. A educação do homem interior: o cultivo da vontade em Agostinho de Hipona. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 35, n. 73, p. 273–299, 2021. DOI: 10.14393/REVEDFIL.v35n73a2021-53046. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/53046. Acesso em: 5 out. 2024.

Edição

Seção

Artigos