Democracia em crise: biopolítica e governamento neoliberal de populações

Autores

  • André de Macedo Duarte Universidade Federal do Paraná (UFPR)

DOI:

https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v33n68a2019-51961

Palavras-chave:

Crise da democracia, Biopolítica, Neoliberalismo, Foucault, Butler

Resumo

Resumo: Este texto discute a hipótese de que a crise das democracias contemporâneas é indissociável de dois fenômenos políticos distintos, porém correlatos, analisados a partir das teorizações de Michel Foucault sobre a biopolítica e o neoliberalismo: a) a crescente disseminação de atos e discursos de violência, de ódio e de preconceito contra populações vulneráveis, obedecendo à lógica biopolítica da proteção da vida de alguns ao custo da exposição à morte de vastas parcelas da população; b) a disseminação de políticas neoliberais para a gestão da vida de populações vulneráveis. Considera-se que a articulação entre biopolítica e neoliberalismo produz o paradoxo de uma democracia sem demos, no sentido da desvalorização das lutas políticas coletivas por direitos iguais e por melhores condições de vida. Na conclusão, sugere-se que a reinvenção da democracia exige repensar o poder do demos, isto é, repolitizar o poder político de categorias sociais sujeitas a processos históricos de vulneração.

Palavras-chave: Crise da democracia. Biopolítica. Neoliberalismo. Foucault. Butler.

Democracy in crisis: biopolitics and neoliberal government of populations

Abstract: This text discusses the hypothesis that the crisis of contemporary democracy relates to two distinct political phenomena, however correlated, analyzed thru Michel Foucault’s concepts about biopolitics and neoliberalism: a) the ascending dissemination of acts and discourses of hate, violence and prejudgment against vulnerable populations, according to the biopolitical logics of protecting the life of some at the expense of exposing the life of others to death; b) the dissemination of neoliberal policies to administrate the life of vulnerable populations. I argue that both phenomena seem to imply the paradox of a democracy without the demos, in the sense of the devaluation of collective political struggles for equal rights and for better life conditions. At the conclusion, it is suggested that the reinvention of democracy requires rethinking the power of the demos in the sense of re-politicizing the political power of social categories subjected to historical process that render them vulnerable. 

Keywords: Crisis of democracy. Biopolitics. Neoliberalism. Foucault. Butler.

Démocratie en crise : biopolitique et gouvernement néolibéral de populations

Résumé : On discute l’hypothèse que la crise de la démocratie contemporaine est associée à deux phénomènes politiques distinctes, mais corrélâtes, analysés par les concepts de Foucault sur la biopolitique et le néolibéralisme : a) la vague accrue d’actes et de mots de violence, haine et pré-jugements contre des populations vulnérables, selon la logique biopolitique de la protection de la vie de quelques-uns au prix du rejet à la morte de la vie des autres ; b) la dissémination des politiques néolibéraux vouées à la gestion de la vie des populations vulnérabilisées. L’articulation entre biopolitique et néolibéralisme semble impliquer le paradoxe d’une démocratie sans demos, au sens de la dévaluation des luttes politiques collectives pour des droits égaux et pour des meilleures conditions de vie. Finalement, on considère la réinvention de la démocratie par la ré-politisation du pouvoir du demos en tant que pouvoir des catégories sociales soumises à la vulnération.

Mots-clés: Crise de la démocratie. Biopolitique. Néolibéralisme. Foucault. Butler.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

André de Macedo Duarte, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) nos níveis de Graduação e Pós-Graduação em Filosofia. E-mail: andremacedoduarte@yahoo.com.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8401-0032 

Referências

Agamben, G. Homo sacer. L’intégrale. 1997-2015. Paris: Seuil, 2016.

Arendt, H. The human condition. Chicago, University of Chicago Press, 1989.

Brown, W. Undoing the demos. Neoliberalism stealth revolution. Nova York: Zone books, 2015.

________. “American Nightmare: Neoliberalism, Neoconservatism, and De-democratization”. In Political Theory, vol. 34, n. 6 (Dezembro) 2006. https://doi.org/10.1177/0090591706293016

Butler, J. Bodies that Matter. On the discursive limits of ‘Sex’. New York: Routledge, 1993.

________. Notes toward a performative theory of assembly. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 2015. https://doi.org/10.4159/9780674495548

Castells, M.; Ruptura, a crise da democracia liberal. RJ: Zahar, 2018. Tradução de Joana Angélica D’Avila Melo.

Dardot, P; Laval, C. La nouvelle raison du monde. Essai sur la société néolibérale. Paris: La découverte, 2010.

Duarte, A. Vidas em Risco: crítica do presente em Arendt, Heidegger e Foucault. RJ: Grupo GEN/Forense Universitária, 2010.

Esposito, R. Bíos. Biopolítica y Filosofía. Buenos Aires: Amorrortu, 2006.Tradução de Carlo R. Molinari Marotto.

Foucault, M. Dits et Écrits, volume III. Paris, Gallimard, 1995.

__________. História da sexualidade. Volume I – A Vontade de Saber. 13a ed. Rio de Janeiro, 1999. Tradução de M. T. da Costa Albuquerque e J. A. G. de Albuquerque.

__________. Segurança, Território, População. SP: Martins Fontes, 2008. Tradução de Eduardo Brandão.

__________. Nascimento da Biopolítica. SP: Martins Fontes, 2008. Tradução de Eduardo Brandão.

__________. Em defesa da sociedade. SP: Martins Fontes, 2000. Tradução de Maria Ermantina Galvão.

Kilomba, G. Memórias da Plantação. RJ: Cobogó, 2019. Tradução de Jess Oliveira.

Levitsky, S.; Ziblatt, D. Como as democracias morrem. RJ: Zahar Ed., 2018. Tradução de Renato Aguiar.

Mbembe, A. Necropolítica. SP: N-1 editora, 2018. Tradução de Renata Santini.

Negri, A.; Hardt, T. Imperio. Barcelona: Paidós Ibérica, 2002. Tradução de Alcira Bixio.

Ogilvie, B. L’Homme jetable. Essai sur l’extremisme et la violence extreme. Paris: Ed. Amsterdan, 2012.

Rancière, J. La haine de la démocratie. Paris: La Fabrique, 2005. https://doi.org/10.3917/lafab.ranci.2005.01

Rubin, G. “Thinking sex. Notes for a radical theory of the politics of sexuality”. In:

ABELOVE, H.; BARALE, M. A.; HALPERIN, D. M. (Ed.). The lesbian and gay studies reader. New York: Routledge, 1993.

Zakarias, F. “The rise of lilliberal democracy”. In Foreign Affairs; Nov/Dec 1997; 76, 6. https://doi.org/10.2307/20048274

Downloads

Publicado

2020-11-30

Como Citar

DUARTE, A. de M. Democracia em crise: biopolítica e governamento neoliberal de populações. Educação e Filosofia, Uberlândia, v. 33, n. 68, p. 527–562, 2020. DOI: 10.14393/REVEDFIL.v33n68a2019-51961. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/51961. Acesso em: 27 jul. 2024.

Edição

Seção

Dossiê Entre o governo das diferenças e os corpos ingovernáveis: potência da vid