A INFLUÊNCIA DO DISCURSO NEGACIONISTA NA GESTÃO POLÍTICA BRASILEIRA DA PANDEMIA: UM EXAME CRÍTICO SOBRE SUA RELAÇÃO COM A MORTALIDADE PELA COVID-19

Authors

  • Adriano Menino UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

DOI:

https://doi.org/10.14393/AM-v22n1-2025-79350

Keywords:

Discurso; influência; necropolítica; negacionismo

Abstract

O presente artigo analisa efeitos dos discursos proferidos pelo ex-presidente Bolsonaro durante a fase aguda da pandemia de COVID-19 no Brasil (2020-2021). O objetivo central consiste em examinar como tais enunciados, investidos de autoridade estatal, operaram como tecnologias discursivas de poder, mobilizando procedimentos de controle e circulação do discurso — especialmente separação/rejeição, interdição, vontades de verdade e disciplina — e contribuíram, de modo modalizado, para a reorganização da inteligibilidade pública da crise sanitária, para a deslegitimação da mediação técnico-científica e para a produção de desordem informativa associada à hesitação vacinal. Metodologicamente, o estudo adota uma orientação arqueogenealógica fundamentada nas teorias de Michel Foucault, articuladas ao debate sobre biopolítica e necropolítica, mobilizando o discurso como prática histórica e performativa. O corpus é composto por declarações públicas de JMB sistematizadas cronologicamente, acompanhadas de dados de óbitos acumulados, conforme levantamento do Poder360, sem pretensão de estabelecer causalidade mecânica. Os resultados indicam que os discursos analisados não atuaram como manifestações retóricas isoladas, mas como parte de um regime discursivo reiterado, caracterizado pela minimização do risco, deslocamento de responsabilidade, politização de terapias sem eficácia comprovada e contestação da vacinação, contribuindo para a fragmentação da esfera pública e para a corrosão da confiança sanitária. Conclui-se que, embora não se afirme uma relação causal direta entre discurso presidencial e mortalidade, o discurso político negacionista deve ser compreendido como variável analítica relevante em contextos de emergência sanitária, dada sua capacidade de produzir efeitos sociais, reorganizar condutas e reconfigurar a gestão da vida e da morte.

Author Biography

  • Adriano Menino, UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

    Bacharelado em Farmácia-bioquímica pelo Centro Universitário Natalense (UNICEUNA) (2016-2021). Desde 2018, é pesquisador atuante no campo da Saúde Pública e Coletiva, investigando e produzindo diversos perfis epidemiológicos e sociodemográficos a nível nacional sobre surtos, endemias, epidemias e pandemias causadas por microrganismos de relevância para a Epidemiologia e Saúde Pública: Macêdo Júnior et al. (2018; 2019; 2020; 2021; 2022; 2023; 2024). Não apenas, possui licenciatura em Letras Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) (2021-2024). Linguista desde 2021, atuando, pesquisando e produzindo trabalhos nas áreas de Linguística Textual e Histórica, Pragmática, Semântica, Morfologia, Fonética e Fonologia, Gramática Descritiva, Estilística e Análise do Discurso. Desde 2024, passou a unir as duas áreas Saúde Pública e Linguística Discursiva, inserindo o discurso como categoria de análise epidemiológica, ou seja, os discursos negacionistas e de ódio como problema de Saúde Pública, com a primeira publicação "O discurso negacionista no desgoverno Bolsonaro como influenciador da mortalidade pela Covid-19: um paralelo entre a biopolítica e a necropolítica" (2023), publicado no Boletim de Conjuntura (BOCA). Outrossim, foi Bolsista PIBIC/UERN (2022/2023). Ademais, é consultor de Trabalhos Científicos, realizando revisão ortográfica e escrita acadêmica. Além disso, tem habilidades em produção e correção de textos direcionados ao gênero acadêmico-científico, como Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), Monografias, Dissertações e Artigos Científicos. Ainda dentro da área de Linguística, é especialista em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e Estrangeira pela Faculdade Invest de Ciências e Tecnologia (INVEST) desde 2023. Por fim, é, atualmente, pesquisador no Grupo de Estudo do Discurso da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (GEDUERN).

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Published

2025-12-20

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