Redefinições e modulações da épica em Ysengrimus, de Nivardo de Gante

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14393/AM-v21n1-2024-75372

Palavras-chave:

épica; fábula; sátira; gêneros literários; lobo.

Resumo

Neste artigo, estudamos a obra medieval chamada Ysengrimus, a qual foi definida como “épica animal” pelos críticos. Nesse sentido, Ysengrimus retoma tradições literárias originárias da Grécia antiga, por meio do uso de recursos típicos da épica (tema do enfrentamento, catálogos, estruturação textual de base narrativa etc.), ou que ultrapassam os limites mais tradicionais deste gênero. Essa “ultrapassagem” de barreiras começa já pelo fato de as principais personagens do poema não serem pessoas, mas animais: seu protagonista, assim, é Isengrim (o lobo-monge), o qual tem como inimigo, em suas aventuras, Reinardo, a raposa. A presença da representação moralmente inferior das personagens, ainda, aproxima Ysengrimus da tradição da épica burlesca, cujo texto inaugural é a Batracomiomaquia (por vezes atribuída a Homero). Além desses elementos centrais para a composição do poema épico, ainda notamos que pelo menos a fábula e a sátira deixam suas marcas parciais nos versos da obra. No primeiro caso, através da alegoria e da dicção moralizante; no tocante à sátira, pelas críticas sociais profundas, sobretudo em relação ao clero e à Igreja.

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Publicado

24.12.2024

Edição

Seção

Estudos