Editorial – n.78 v.36 – set./dez. 2022
Palavras-chave:
Editorial, Educação, FilosofiaResumo
Salientamos, em um Editorial pregresso, do v. 33 n. 69, que “Dias melhores demorarão, mas continuaremos na faina!”. De fato, tivemos que lutar contra a falta de editais para periódicos científicos, contra a ausência de recursos e contra o desestímulo à publicação científica. Com muita resiliência e trabalho dos editores, a revista sobreviveu, tanto aos ventos federais contrários à produção de ciência em solo pátrio, quanto às pesadas exigências que desabaram sobre as revistas acadêmicas, exigindo dos periódicos em acesso aberto a organização de uma experiente e competitiva editora. Que o primeiro fator tenha se enfraquecido muito, não nos deve descuidar do fato de que a burocratização do trabalho científico e, principalmente, da produção acadêmica acentuou as suas possibilidades de controle e continuará a descaracterizar a produção lenta, ponderada e refletida, sobremaneira no terreno das ciências humanas.
No momento, todas as revistas brasileiras repassam suas fileiras de publicações, preparando-se para a batalha de números, fatores de impacto e estatísticas. Aproxima-se a avaliação do próximo quadriênio, e espera-se que a máquina de fazer trinados da reflexão científica possa se exprimir em índices e gráficos convincentes. Se fôssemos reunir artigos para definir o papel dos periódicos científicos nesse momento específico de sua trajetória no país, com certeza, “métricas” seria, hoje, a palavra-chave que ocuparia a quase totalidade dos metadados. É preciso ressaltar que aquilo que se desenhava no horizonte dos periódicos hoje se concretizou. Venceu a concepção abstrata de como se faz ciência, porque um de seus resultados mais eminentes, a publicação de artigos inéditos, pode agora ser tratado como um algoritmo. Os artigos revestiram-se de valor abstrato: eles podem receber investimento de seus autores; ou podem receber financiamento de agências de pesquisa; ou podem ser comercializados como unidade de valor administrada por uma editora. Desse modo, revistas muito diferentes umas das outras, marcadas por especificidades, oriundas de solos irredutíveis a uma característica comum, podem hoje ser colocadas lado a lado, mapeadas com facilidade e comparadas por aquilo que denominamos de métricas. São elas que compõem o valor abstrato de um periódico, e hoje em dia – por que não o dizer? – publicar significa basicamente poder partilhar dessa unidade de valor abstrato administrada por um periódico, que se expressa objetivamente por seu conjunto de métricas.
Por certo que é difícil se fazer uma ontologia do presente e avaliar as condições de existência de um periódico enquanto periódico. Como as transformações por que passamos são profundas e recentes, é difícil se posicionar em face delas. Mas agora, ao menos, podemos ver o aspecto dessa criatura disforme que navega celeremente e pode ser vista em todos os oceanos: a cientometria. Bem adaptada às condições do dia, ela mostra toda a sua eficiência. É claro que como na história de Jonas, sempre há a esperança de sermos vomitados na praia pela gigantesca criatura, mas também nada nos assegura, no nosso caso, que não seremos digeridos e assimilados por ela.
Mas retornemos ao que é o mais importante para nós, o fato de podermos trazer à luz mais um conjunto importante de trabalhos científicos e de podermos colaborar com a divulgação do conhecimento especializado. O presente número da revista Educação e Filosofia compõe-se de oito artigos e de um dossiê que faz uma avaliação sobre a “atualidade da hermenêutica do sujeito” de Michel Foucault. Temos então um número com 20 contribuições e uma resenha, que forma um acervo rico em reflexões e pesquisas.
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